Público feminino encara vagas antes destinadas para homens

A crescente participação do público feminino no mercado de trabalho e nas grandes empresas tem levado cada vez mais mulheres a procurar cursos de capacitação e qualificação profissional nas áreas industrial e comercial. Elas não procuram apenas cursos tradicionais, como o de costura industrial. Algumas querem concorrer a vagas que antes eram restritas a homens. Outras buscam cursos para suprir suas necessidades na área de gestão e negócios quando conquistam uma posição de destaque na empresa.

Segundo a coordenadora estadual de cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Vanessa Sorda Frason, no ano passado, 30% dos formandos eram mulheres. Hoje, elas somam 40% do público matriculado nos cursos da instituição. A entidade oferta mais de 500 cursos em todo o estado, entre eles, alguns específicos para o público feminino, como Aplicadora de Revestimento Cerâmico, Confeiteira e Costureira Industrial do Vestuário. Esses cursos fazem parte do programa Mulheres Inventando Moda da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep).

O programa tem o propósito de proporcionar formação cidadã e profissional para inclusão de futuras profissionais qualificadas no mercado de trabalho. “A cada ano, percebo um número maior de mulheres devido a essa entrada crescente na indústria. Por isso, elas buscam se capacitar cada vez mais”, conta. Cursos de acabamento da construção civil, como o de azulejista, têm recebido uma grande procura, principalmente porque as mulheres são mais minimalistas.

Por incrível que pareça, o curso de solda também vem atraindo o público feminino. “As mulheres têm esse refinamento e uma coordenação motora mais apurada, são mais detalhistas e, para esse tipo de função, essas características são fundamentais”, avalia Vanessa. As aulas do curso em Araucária são ministradas por uma instrutora. Angela Paulino, 38 anos, já foi aluna do curso e, depois de trabalhar numa montadora e mineradora, aceitou o convite do Senai para ser professora.

Mas o começo não foi fácil. “Quando tinha 28 anos, fui a uma entrevista de emprego e me perguntaram qual era minha profissão. Disse que não tinha”, lembra. Essa experiência levou Angela a refletir sobre sua vida. “Não tinha como pagar faculdade. Trabalhava num posto de combustíveis e ganhava pouco. Até que decidi me profissionalizar”, conta. Indicada por um conhecido que trabalhava na área, Angela procurou o curso de soldador. “Ele me disse que a mulher estava começando a se destacar na profissão”, lembra.

Em 2006, Angela era a única mulher da turma. Por conta disso, sofreu certo preconceito e ouvia de colegas homens frases como “você deveria estar lavando e passando roupa”. Mesmo assim, ela foi em frente e, depois de se formar, trabalhou numa serralheria. “Me encontrei na profissão. Meu objetivo era trabalhar numa petroquímica, na refinaria, então estudei e fiz cursos de qualificação para me aperfeiçoar”, conta. Fez especialização em soldagem de tubulação e passou no teste para trabalhar na Vale, seu sonho. “É uma área bem remunerada, mas também enfrentamos dificuldades”.

Agora, nas três turmas em que Angela dá aula, 80% dos alunos são mulheres. “A impressão que dá é de ser um trabalho pesado, sujo, mas é mais delicado, precisa de destreza, paciência e coordenação, por isso que as mulheres se destacam. É perigoso porque trabalhamos sob radiação, mas temos os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs)”. O salário inicial de soldador é de R$ 1800, mas a remuneração mais que dobra para quem vai trabalhar numa refinaria. Quem tem curso técnico em metalurgia pode se tornar inspetor de solda, com salários que variam dos R$ 8 a R$ 15 mil.

Institui&cced,il;ões oferecem várias opções

Lineu Filho

No ano passado, 71% das matrículas feitas em cursos do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) em Curitiba foi de mulheres. Neste ano, pouco mais de 5700 pessoas já se matricularam em cursos de educação profissional e, desse total, 64% são mulheres. Os cursos que têm feito mais sucesso englobam a área de gestão e negócios, com 1148 alunas matriculadas em 102 turmas. Em segundo, surge a área de turismo, hospitalidade e lazer, com 877 estudantes mulheres.

De acordo com a psicóloga e professora do curso de Chefia e Liderança, Michele Pissetti (foto), muitas mulheres procuram essa formação quando recebem uma promoção no trabalho e não sabem como lidar com os colegas, que viram seus subordinados. “Como a mulher tem esse perfil mais agregador, elas buscam competência para delegar atividades e, principalmente, saber separar trabalho e amizade”, explica.

Pra quem não tem um dinheirinho a mais no orçamento mensal, a Prefeitura Municipal de Curitiba oferece diversos cursos profissionalizantes gratuitos em 12 áreas: administrativa, artes, costura, desenvolvimento de habilidades e competências, elétrica, empreendedorismo, gastronomia, industrial, informática, mobiliária, moda e beleza e turismo e hotelaria. As aulas são ministradas nos 26 Liceus de Ofícios e Unidades de Capacitação das nove regionais da Fundação da Ação Social (FAS).

“Curitiba é uma das únicas cidades que tem o trabalho voltado para a área de formação”, afirma a coordenadora de qualificação profissional da FAS, Grécia Correa. A prioridade no preenchimento das vagas é para quem tem renda de até três salários mínimos, mas são abertas à comunidade caso não sejam ocupadas. Segundo ela, as mulheres são maioria entre os alunos e os cursos mais procurados por elas estão nas áreas administrativa, informática, costura e moda e beleza. “O curso de manicure, por exemplo, permite que ela trabalhe no mercado formal ou informal”, diz.

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