Hormônios fora de sintonia e seus sintomas

Quando ouvimos o termo Síndrome dos Ovários Policísticos e não temos muita informação sobre o assunto, muitas vezes, podemos ter uma impressão errônea a respeito do que seja. A primeira ideia que nos vem à cabeça é de uma doença em que os ovários estão comprometidos. Mas não é exatamente isso que acontece quando uma mulher desenvolve essa síndrome. Sim, os ovários são afetados, mas “não são eles que estão doentes” e fatores externos, como uma disfunção da glândula supra-renal é que provocam os sintomas, como explica o médico ginecologista do Hospital de Clínicas (HC), Rosires Pereira de Andrade (foto).

“Em primeiro lugar, como o nome já diz, esta é uma síndrome, não uma doença. É um conjunto de sinais e sintomas que a mulher apresenta, com alterações no ciclo menstrual, na ovulação e até mesmo na fertilidade”, afirma o médico. Apesar de o nome da síndrome apontar nesta direção, não são os cistos nos ovários que causam todas essas modificações no organismo – eles são apenas mais um sintoma -, mas sim um aumento na produção de hormônios androgênios, os hormônios masculinos, que provocam, inclusive, aumento da quantidade de pelos no corpo da mulher, assim como alterações em sua pele. Sem ovular, a mulher pode ainda ter dificuldades para engravidar.

A obesidade também pode interferir no desenvolvimento desta síndrome – em alguns casos, somente a perda de peso já é suficiente para reverter os sintomas. O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica ou ultrassonografia, que identifica os cistos nos ovários (mais de três são sinal de que trata-se sim da Síndrome de Ovários Policísticos). O problema pode atingir desde adolescentes até mulheres com mais idade, mas os sintomas cessam completamente com a menopausa, pois, nesta fase, não há mais desregulação hormonal. No entanto, a causa específica da síndrome ainda não foi identificada.

“Acontece muito de adolescentes descobrirem que têm a síndrome e ficarem desesperadas, achando que nunca vão conseguir engravidar, mas, nesses casos, normalmente o problema passa com a idade, pois a adolescência é uma fase de maior variação hormonal”, comenta. Ele ainda conta que muitas meninas chegam ao consultório reclamando de dor, mas este não é um dos sintomas, mesmo porque, se há irregularidade no ciclo e a mulher não ovula, ela também não menstrua e, portanto, não sente cólica ou qualquer outro tipo de dor

De acordo com o ginecologista, menos de um terço das mulheres pode ter cistos nos ovários e, desse total, somente 10% apresentam os sintomas da síndrome. Portanto, não dá motivos para se apavorar, mesmo porque também há tratamento para os distúrbios causados pela síndrome. Para mulheres jovens, que pretendem engravidar, há tratamentos com injeções – o único “porém” é que o medicamento aumenta as possibilidades de uma gestação de gêmeos. Para as demais, o tratamento pode ser feito simplesmente com pílula anticoncepcional, que regulariza o ciclo e deixa os ovários em repouso.

O maior risco causado pela síndrome, no entanto, é a hiperplasia do endométrio. Andrade explica que, em alguns casos, devido a essa desregulação hormonal, pode ocorrer um crescimento exagerado da camada que reveste o útero, o endométrio. “Com isso, a mulher pode sofrer uma hemorragia grave”, diz o médico. Mas isso pode ser evitado com a utilização da pílula ou mesmo com outros medicamentos, que contêm progestogênio, um hormônio sintético similar à progesterona, que promove o equilíbrio dos demais hormônios no corpo.