Casais têm optado cada vez mais pela terapia a dois

O que faz um casamento acabar? Inúmeros são os motivos que levam um casal à separação, não é mesmo? Mas será que todos os problemas que resultam nesta solução extrema são mesmo inevitáveis? Apesar de muita gente achar que o divórcio é a única opção para casais com desentendimentos constantes, que nunca são resolvidos, é possível mudar essa realidade. Para evitar chegar a este ponto, no qual a decisão pelo fim do relacionamento parece ser a única possibilidade aceitável, muitos casais têm optado por dar uma última chance ao casamento com a chamada terapia de casal.

E os resultados são bastante positivos. Especialistas afirmam que pelo menos 80% dos casais que fazem terapia em conjunto acabam se reconciliando, enquanto o restante decide mesmo pela separação. Ou seja, há esperança para praticamente qualquer tipo de problema que possa atingir um casamento, desde os mais simples, como pequenos desentendimentos do dia a dia, até os mais complexos, como problemas de sexualidade ou traições. Aliás, a terapia não funciona somente com casamentos, mas com namoros e noivados também, despertando o interesse não apenas de casais mais velhos.

Mesmo quando os mais jovens não têm dinheiro para pagar a terapia de casal, eles demonstram curiosidade pelo assunto por meio da internet, como explica a psicóloga e terapeuta de casal Lilian Ramos. “A faixa etária dos casais que procuram terapia no consultório fica, predominantemente, entre 28 e 65 anos. Mas eu recebo mais de 20 perguntas por dia sobre relacionamentos, principalmente de jovens, que têm vontade de fazer a terapia, mas não têm condição financeira para isso. Só que a diferença é que eles trazem questões um pouco dierente das que aparecem no consultório”, comenta.

De acordo com a psicóloga, casais mais jovens têm mais problemas quando um dos cônjuges ainda tem uma ligação muito forte com a família de origem, se um deles tem filhos ou ainda se há alguma questão mal resolvida de relacionamentos anteriores. Já os casais com mais idade chegam ao consultório com outros tipos de problemas. “O principal motivo é a infidelidade, mas também aparece bastante gente com problemas de sexualidade, dificuldades de comunicação ou em lidar com doenças mentais que estejam atingindo o companheiro, como a depressão”, afirma.

 

Nessa lista, a psicoterapeuta e professora da FAE Centro Universitário, Juliana Bley, especializada em terapia de famílias e casais, inclui ainda outros problemas que podem levar um casal a procurar a terapia a dois. “Pode ser por desajuste de convivência, a dificuldade de lidar com problemas financeiros e a chamada síndrome do ninho vazio – um dos pais (ou os dois) sofre com a saída de um filho de casa e o casal não sabe mais o que fazer juntos, quando o filho está ausente”, explica.

 

Para ela, a própria questão da tecnologia está mudando a forma como os casais se relacionam, o que, muitas vezes, causa incômodos com os quais eles não sabem lidar, como a traição virtual. “Recentemente, atendi um casal que se conheceu pela internet, casaram e, depois de sete anos, o relacionamento começou a ficar monótono e frio, fazendo com a esposa se interessasse por uma pessoa que conheceu pela internet. Eles não chegaram nem a se ver pessoalmente, mas o homem a elogiava e ela dava corda. Quando o marido descobriu, quis acabar o casamento. O problema é que os casais não conversam sobre o que caracteriza a infidelidade para eles”, comenta.

Esforço em conjunto

Mas não adianta nada procurar a terapia de casal procurando um milagre. “O ponto principal da primeira sessão é explicar que nós, terapeutas, não somos como um oráculo. Não vamos dizer o que está errado e o que tem que mudar. Muita gente espera que a gente faça isso, mas este não é o nosso papel. Estamos aqui para apresentar ferramentas para que eles enxerguem sozinhos onde estão os pontos principais de conflito, que eles têm de recursos, de pontos saudáveis no casamento para resgatá-lo”, afirma Juliana. Ela ainda diz que a terapia de casal não é muito longa, durando entre 10 e 15 sessões, semanais, quinzenais ou mensais.
Lilian ainda lembra que, apesar de a terapia ser feita em conjunto e estar ligada a questões do relacionamento, é preciso respeitar a individualidade de cada um dos cônjuges. “Os casais precisam entender que, em um relacionamento, existe o meu, o seu e o nosso”, afirma. Ela ainda explica que homens e mulheres têm jeitos diferentes de amar. “O amor é multiforme e, às vezes, a linguagem de um não é a do outro. Existem pelo menos cinco linguagens do amor: o toque físico, a qualidade de tempo, o ato de dar (e receber) presentes, as formas de servir e a linguagem da afirmação”, comenta. Para ela, os dois precisam estar bem emocionalmente para fazer a terapia de casal.