Neura exagerada

Busca frenética por perda de peso pode causar distúrbio

Em busca de um corpo perfeito, de acordo com os padrões estéticos aceitos e impostos atualmente pela sociedade, muitas pessoas fazem de tudo, como encarar dietas muito restritivas e exagerar nos exercícios físicos. Com o objetivo de emagrecer a qualquer custo, esses indivíduos, principalmente mulheres, acabam desenvolvendo alguns distúrbios alimentares, como a anorexia e a bulimia, doenças sérias que precisam de acompanhamento e tratamento médico.

Segundo o médico psiquiatra Alexandre Karam Mousfi, vice-presidente da Associação Paranaense de Psiquiatria, as duas doenças, apesar de terem o emagrecimento como objetivo, apresentam diferenças entre si. “A anorexia nervosa é a distorção de imagem corporal, ou seja, o paciente enxerga-se acima do peso mesmo estando magro ou até abaixo do peso mínimo recomendado para sua altura e estrutura óssea. Assim, apresenta recusa em se alimentar e medo de ganhar peso. Já a bulimia nervosa é caracterizada por crises bulímicas ou episódios de compulsão alimentar, em que as pessoas ingerem grandes quantidades de alimento em curto espaço de tempo e, depois da compulsão, têm comportamentos compensatórios: provocam vômitos, utilizam laxantes, diuréticos ou fazem jejuns e exercícios físicos em excesso”.

Mesmo que de formas diferentes, tanto a anorexia como a bulimia afetam o organismo. “A anorexia, em estágios mais avançados, pode levar à desnutrição e várias complicações associadas a esta condição, como alterações de pele, queda de cabelo, atrofia muscular, alterações de ritmo cardíaco, anemia, osteoporose, entre outras. A bulimia, quando há vômitos provocados, pode causar alterações do equilíbrio de sais (como cloro e potássio), gastrite, esofagite, alterações de pele, cáries dentárias”, esclarece o médico. “A anorexia e a bulimia hoje afetam principalmente as mulheres (em especial as mais jovens), sendo que elas representam 90% dos casos”, alerta.

Causas

Sobre as causas destes distúrbios, a psicóloga Pâmella Mocelin Falleiros, credenciada da Paraná Clínicas Planos de Saúde Empresariais, explica que “a anorexia e a bulimia são transtornos alimentares provocados por causas diversas como influência da cultura da magreza, aspectos genéticos, contexto familiar e também histórico de compulsões e de outros vícios na família”. Sob o aspecto psicológico, ela afirma que o tratamento da anorexia costuma ser mais longo e difícil. “Quem tem anorexia se acha gorda e tem uma distorção da autoimagem. Estas pacientes geralmente não querem ajuda, elas acham um absurdo ter que comer e querem ser extremamente magras. Já quem sofre com bulimia costuma aceitar que não está bem e que precisa de tratamento”.

Diagnóstico e tratamento complexos

De acordo com a médica endocrinologista Myrna Campangoli, do Laboratório Frischmann Aisengart, o diagnóstico da anorexia e bulimia nem sempre é fácil. “Estes transtornos interferem na percepção do apetite, do peso, da imagem corporal e nos hábitos alimentares, levando a marcantes prejuízos psicológicos, sociais e aumento de mortalidade”. Além da avaliação física e psicológica, os médicos utilizam o cálculo do índice de massa corporal (IMC) no auxílio ao diagnóstico, principalmente da anorexia.

Segundo o psiquiatra Alexandre Karam Mousfi, os tratamentos destas doenças requerem apoio de uma equipe multidisciplinar, que deve incluir psiquiatra, psicólogo, clínico, endocrinologista e nutricionista. “Deve-se abordar a desnutrição com os recursos médicos necessários. Em quadros mais graves, o internamento é fundamental para proteger a vida do paciente. Algumas medicações podem ajudar no tratamento de doenças associadas, como depressão, transtorno bipolar e ansiedade”. No entanto, segundo ele, nenhuma medicação apresenta eficácia comprovada para o tratamento da anorexia nervosa.

“Já no caso de bulimia, além da psicoterapia,, a orientação nutricional contribui para um aprendizado sobre formas mais adequadas de se alimentar a fim de evitar os episódios bulímicos, por exemplo. Alguns antidepressivos podem ajudar a reduzir os episódios de compulsão alimentar e, por consequência, a frequência dos vômitos provocados e outros comportamentos compensatórios”, comenta Mousfi.

Além da terapia, medicamentos e apoio psicológico, os doentes também precisam de acompanhamento nutricional, para apreenderem novos e saudáveis hábitos alimentares. Para a nutricionista Raquel Zarpellon, “com o tratamento, orientação do nutricionista e a retomada da alimentação, os déficits de vitaminas e minerais podem ser diminuídos. Neste sentido, é importante procurar um profissional, devido à gravidade destas doenças e de seus impactos no organismo”.