Lendas vivas

Ídolo alviverde, Capitão Hidalgo conta como chegou em Curitiba

Na manhã de 12 de janeiro de 1970, José Hidalgo Neto desceu na rodoviária de Curitiba, no Guadalupe, com duas bagagens e um pensamento. As bagagens eram a mala com roupas numa mão e a carreira promissora que ainda não decolara no futebol paulista e durante alguns meses em Belo Horizonte. Não decolara como ele queria. Por isso ele tinha um pensamento fixo: “Eu queria ficar um ano em Curitiba, para me livrar dos dirigentes do XV de Piracicaba, que não quiseram me vender para um time grande de São Paulo, queria jogar bem no Paraná, chamar atenção dos clubes paulistas e voltar para São Paulo, de preferência para um grande clube, porque naquele tempo era lá que se praticava o melhor futebol no Brasil”, diz Capitão Hidalgo, como ainda hoje é conhecido em Curitiba.

A contratação pelo Coritiba foi uma novela dos dois lados. Hidalgo começou a jogar na várzea paulistana e seu primeiro time foi o Ypiranga. Numa decisão com o Juventus, ele chamou atenção dos diretores do adversário que o levaram para a Rua Javari, onde ficou seis anos, do juvenil, aspirante ao profissional. Na temporada de 1964, ele se destacou no Campeonato Paulista, foi escolhido o melhor em sua posição e convocado para atuar numa partida pela Seleção Paulista, no Maracanã, contra o selecionado carioca. Jogo vencido por 4×3 pelos paulistas. Era hora de ir embora. Ele queria ir para o Corinthians que o desejava, mas depois de seis anos na Mooca, foi vendido para o XV.

Em Piracicaba, Hidalgo virou ídolo e ainda hoje é considerado o melhor camisa 5 da história do Nhô Quim. Com o alvinegro ele foi vice-campeão da segunda divisão de 1966 e subiu para a especial em 1967, com a conquista do título. Embora os clubes do interior de São Paulo naqueles anos fossem respeitados e tivessem bons jogadores, o volante queria jogar num grande. Mas o XV não liberava. Em 1969, Cruzeiro foi fazer uma partida amistosa em Piracicaba e um olheiro viu Hidalgo jogar e o indicou para o Atlético-MG. Ele foi de empréstimo disputar o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, daquele ano. Ao final do período de quatro meses, o Galo quis comprar o seu passe, mas ele não quis ficar em Minas Gerais e também o XV pediu uma nota preta. Fim de contrato, Hidalgo também não quis renovar contrato com o alvinegro, criando um impasse.

“Eu recebi um telefonema do técnico Manga. Ele disse que o técnico Antoninho, o Gordo, do Santos, me queria no time. Eu fui treinar e treinei na Vila Belmiro quatro meses de 1969, no segundo semestre, de julho a outubro. Fiquei treinando com o Pepe e o Formiga. O Zito me chamou e disse que queria que eu fosse para uma excursão na Europa. Mas o Santos precisava comprar o meu passe e a direção do XV, mais uma vez, pediu alto. E o Santos não tinha dinheiro nesta época. Então eu pensei em parar com o futebol. E, cansado de ir de São Paulo a Santos, só para treinar, eu voltei para a capital paulista. E fiquei treinando no Juventus. Até o presidente do time, José Ferreira Pinto, o Zé da Farmácia, ligar para o presidente da Federação Paulista de Futebol, o José Mendonça Falcão, que ligou para o pessoal do XV e deu uma dura. Ele perguntou: o que vocês estão fazendo com o Hidalgo? Liberem o moço”, conta Hidalgo. Depois da dura, o XV decidiu liberar, desde que não fosse para um clube paulista. Foi assim que ele veio para Curitiba.

Mas como o Coritiba soube de Hidalgo? Esta é outra história. “Filpo Nuñes foi contratado para treinar o Coritiba e ele me conhecia. Ele pediu para o Evangelino da Costa Neves me contratar. Mas o Evangelino era desconfiado e nunca ouvira falar de mim”, conta Hidalgo. A sorte era que o Oberdan, que tinha passagem pelo Coritiba e foi destaque no Santos, estava de volta ao Alto da Glória e o presidente do Coxa o respeitava. E na frente de Filpo Nunes, Evangelino perguntou para Oberdan: “Você conhece o Hidalgo que treinou no Santos?”. Oberdan ficou surpreso. Disse que conhecia o tal Hidalgo e ele não foi contratado porque o XV pediu muito dinheiro. ‘Foi assim que o Evangelino se animou e eu vim para Curitiba. Vim com vontade de voltar, p,orque o futebol do Paraná, naquele final de anos 60, não tinha expressão nacional”, diz ele.