Lendas Vivas

Herói, lateral Carlito foi grande xerife do Taboão

A seleção amadora do Paraná que disputou o Campeonato Brasileiro em Petrópolis no mês de julho em 1963 tinha três jogadores que vieram a ser ídolos em seus clubes: um zagueiro, um meia-direita e um defensor que jogava nas duas laterais e muitas vezes atuou de zagueiro. O zagueiro era Oberdan, que veio a ser ídolo no Coritiba, Santos e no Grêmio de Porto Alegre. O meia-direita era Alfredo Gottardi que mais tarde mudou de ideia, virou zagueiro e nesta posição se transformou em ídolo do Atlético. E o lateral-direito era Carlito, Carlos Ernesto da Silva, curitibano nascido em Vila Izabel em 1943. Os torcedores não recordam dele tanto quanto dos outros porque o time do qual ele foi ídolo e destaque não existe mais e normalmente o oxigênio do mito e do ídolo é a torcida que reverencia a história de seu clube. Carlito jogava no Clube Atlético Primavera.

O time tricolor (verde, preto e branco) mandava os seus jogos no estádio Loprete Frega, no bairro Taboão. No entanto, Carlito guarda até hoje recortes de jornais e álbum de fotografias que comprovam: foram muitas vezes em que ele integrou a seleção da rodada dos campeonatos paranaenses em escolhas feitas por jornais esportivos da época, começo dos anos 60, como a Tribuna. O jogador protagonizava lances sensacionais, como tirar de cabeça bola que a torcida adversária já gritava gol. E era um defensor cheio de raça. Além de convocado para integrar a seleção amadora do Paraná, Carlito também foi emprestado pelo Primavera para o Esporte Clube Água Verde, campeão paranaense de 1967, disputar a Taça Brasil de 1968. A Taça Brasil era a competição nacional que reunião somente os campeões de cada estado.

Por pouco a história de Carlito seria diferente. Ou seja, ele não teria a carreira futebolística tão ligada ao Primavera. Carlito se destacou no Esperança de São José dos Pinhais, campeão amador de 1963 e recebeu convite para treinar no Operário Ferroviário de Ponta Grossa. “Eu treinei algum tempo no Ferroviário aqui em Curitiba e em 1963 eu fiz teste no Operário Ferroviário em Ponta Grossa. Eu ia assinar contrato, quando recebi a notícia de minha convocação para a Seleção Amadora do Paraná”, conta ele. A convocação foi resultado de sua atuação poucos meses antes no campeonato amador de São José dos Pinhais. “A minha sorte foi que ainda não tinha assinado o contrato. Se eu tivesse assinado não poderia disputar. Então eu não assinei com o Operário e fui disputar o campeonato brasileiro”, completa Carlito.

Depois do campeonato ele retornou para Curitiba. As chances de assinar contrato com um time profissional da capital seriam maiores. “Eu sabia que o Ferroviário, o Água Verde e o Coritiba estavam atrás de mim. Mas quando eu cheguei de volta do campeonato brasileiro num sábado em Curitiba, o Amaro, que foi meu treinador no Esperança e estava assumindo o Primavera, ele foi em casa e me pediu para assinar com o Primavera”, conta ele. E como Carlito se deu bem com o treinador no Esperança, ele achou que o mesmo se daria no Primavera e assinou com o clube do Taboão para ser o xerife da defesa do tricolor. “E foi assim que eu assinei contrato e fiquei até o time acabar em 1969. No total foram seis anos”, diz ele. Carlito hoje, aos 71 anos, não tem mágoa daqueles tempos: “Foi uma época boa. Não ganhamos dinheiro, como se ganha hoje, mas fizemos muitos amigos e fomos felizes”, diz. Depois de pendurar as chuteiras, aos 30 anos, ele passou a disputar partidas amadoras em São Paulo e Curitiba. Um dos clubes amadores que defendeu foi o Operário Pilarzinho.

Carlito usa recortes de jornais dos velhos tempos que eles expliquem como era seu estilo de jogar. Depois de um jogo entre Coritiba e Primavera, a Tribuna publicou: “Carlito – melhor tricolor: a grande figura do Primavera, talvez de toda a partida. Sereno, clássico, fez esquecer completamente Gunga-Din. Salvou um tento certo e foi o gigante nas p,rincipais jogadas da grande área”. Os recortes de jornais antigos servem para avivar a memória sobre um tempo em que o futebol era tão apaixonante quanto hoje, mas envolvido numa aura de romantismo, improvisação e também um pouco de ingenuidade e muita alegria, como num filme de Carlitos.