"Colosso do Capanema"

Em 1950, governo bancou a Copa do Mundo

Domingo, 25 de junho de 1950, a manchete esportiva de O Dia regozijava: “Engalana-se o Colosso do Capanema”. Era a Copa do Mundo em Curitiba, com o jogo Espanha x Estados Unidos. Os portões do Durival Britto e Silva seriam abertos às 10h, embora o jogo começasse às 15h. Durante a semana, os jornais engrossaram o coro dos organizadores e convocaram o curitibano a bater recordes. A previsão, ou desejo, era renda de 500 mil cruzeiros. “As cadeiras cobertas num total de 1.700 estão voando. Cada qual de acordo com suas posses procura não perder de maneira alguma o espetáculo!”, dizia reportagem de o Diário da Tarde, dois dias antes. As cadeiras cobertas custavam 140 cruzeiros, de acordo com preço fixado pela Fifa e CBD – antecessora da CBF.

A semana foi agitada. Na terça-feira, dia 20, o Diário da Tarde colocava emoção em suas páginas: “Curitiba assistirá domingo próximo a um espetáculo inédito, em sensacional peleja pela Copa Jules Rimet”. O clima na cidade era só entusiasmo. “Onde quer se vá, onde quer que se esteja, o comentário é uníssono, a Copa do Mundo, estes dois encontros que a CBD nos presenteou, reconhecendo que somos possuidor, agora, do 4.º estádio do Brasil, qual seja, o Durival de Brito”, completava o jornal.

Mas este “presente” não foi de graça. O mesmo jornal, assim como O Dia, insistia para o público comparecer em grande número. “Necessitamos mais que nunca caminhar para outro record. E para isso contamos com o apoio de todos, sem excepção”. O recorde a que se referia o jornal foi o contingente de pessoas que assistiu ao embate entre as seleções do Paraná e do Rio Grande do Sul. E não se tratava de mero apelo ufanista.

Uma das condições para Fifa e CBD escalarem Curitiba para receber os dois jogos da Copa do Mundo de 1950 foi a fixação de renda mínima de 1 milhão de cruzeiros (cerca de R$ 725 mil) para os dois eventos. O que passasse disso, o governo do Estado, que era governado por Moisés Lupion, tinha de enfiar a mão nos cofres públicos e bancar o prejuízo. E se levar em conta que o primeiro jogo rendeu 398 mil cruzeiros (9.311 pagantes) e o segundo, entre Suécia e Paraguai (2 x 2), na quinta-feira, rendeu 300 mil cruzeiros (7.903 pagantes) não é preciso ser esperto para descobrir quem pagou os 302 mil cruzeiros restantes, em torno de R$ 218 mil.

As seleções

A delegação da Espanha chegou quinta-feira e se hospedou no Braz Hotel. Os americanos chegaram sexta-feira e foram para o Palace Hotel. Na quinta-feira, segundo a crônica da época, a seleção espanhola foi recebida no Afonso Pena por uma multidão de representantes da colônia ibérica, “aqui domiciliados”. Sobre a delegação espanhola, as melhores impressões nos jornais: “Gente boa e simpática. Conversadora e alegre, cativando com suas maneiras todos que se achavam presentes”.

No dia seguinte, mais emoção. Os jornais alardearam: “Chegaram os Boys de Tio Sam”. A impressão sobre a delegação americana não foi diferente: “Rapaziada simpática e sorridente. Vieram bem dispostos e apesar de saberem que não são os favoritos da partida, estão otimistas”.

Os jornais insistiam que o jogo seria iniciado às 15h. “A ordem é da FIFA. Os prélios em disputa da Copa do Mundo serão iniciados na hora marcada. 15 horas, impreterivelmente, não havendo tolerância de um segundo siquer”. O recado não parava aí: “As equipes disputantes deverão adentrar o gramado 20 minutos antes do início do prélio e quando o relógio marcar 15 horas o jogo terá que ser iniciado. E o quadro que não obedecer a esta exigência da FIFA, será desclassificado”.

Cinco grandes emissoras nacionais de rádio, sem contar as locais e uma espanhola fizeram as transmissões das cabines de Vila Capanema. Um detalhe: a preliminar foi entre o Internacional de Campo Largo e União da Lapa. Depois vieram as equipes do prélio principal: os esquadrões perfilaram e ouviram o hino nacional brasileiro porque as partituras dos hinos de Espanha e Estados Unidos desapareceram. Depois disso, a bola rolou. Os Estados Unidos assustaram, abrindo o placar atrav&eacut,e;s de John Souza aos 17 no 1.º tempo, mas no segundo tempo os “furiosos” espanhóis sofreram e fizeram valer a sua fama, marcando três vezes, através de Basora (2) e Zarra. No dia seguinte, o Diário da Tarde registrava: “Espanha teve que lutar muito para vencer os Estados Unidos por 3 a 1”. E não se esqueceu da batalha dos bastidores: “A peleja internacional de ontem em nossa capital – renda recorde”.