Lenda Viva

Dadá Maravilha: o poeta que também foi artilheiro

Tarde de quarta-feira, 29 de janeiro de 2014. Ele está sentado no interior do Memorial de Curitiba, depois de atender com imenso sorriso, dezenas de pessoas que foram conferir uma exposição sobre futebol. Alto, moreno, magro, de poucos cabelos brancos, é uma das figuras mais simpáticas do futebol brasileiro. E também um de nossos maiores goleadores. Seu nome: Dário José dos Santos, também conhecido por Dário Peito de Aço, Beija Flor e Dadá Maravilha. O carioca mais mineiro de Belo Horizonte vai completar 68 anos no dia 4 de março.

Dadá fez 926 gols, dos quais 499 gols de cabeça. Um deles, no dia 19 de dezembro de 1971, no Maracanã foi antológico: ele parou no ar, como um beija-flor e cabeceou para o fundo das redes do Botafogo, dando ao Atlético Mineiro o título de primeiro campeão brasileiro de futebol, como conhecemos hoje. Ele foi o destaque do campeonato. Mas Dadá já era tricampeão mundial no México no ano anterior. Era muita glória. Ele driblou a mesmice e se transformou num dos maiores personagens da história do futebol brasileiro. Como conseguiu isto? Ele para um pouco, pensa e responde: “Um dia eu disse para mim: eu vou ser um poeta”.

Dadá explica como foi. Ele não tinha talento para chutar. Tanto que cunhou a seguinte frase anos mais tarde: “Chuto tão mal que no dia em que eu fizer um gol de fora da área, o goleiro tem que ser eliminado do futebol”. Também era ruim de drible: “Eu não era um Pelé, não driblava como o Zico”. Precisava de algo novo: “Eu parei e pensei: nem preciso sonhar que por aí não vai dar. Eu tenho que ser diferente, criar alguma coisa. Eu vou ser romântico, vou ser um poeta. Foi assim que eu comecei a inventar frases. Depois vieram as coreografias. Eu pensei isso aí vai dar manchete. Aí eu fui atrás do cartaz de louco, porque estas coisas que eu falava caíram no gosto da imprensa. Aí todo mundo foi atrás”, diz ele.

“Hoje todo mundo faz coreografia”, diz ele. Mas as frases, estas nenhum jogador conseguiu chegar nem perto do estilo do mestre. Elas caíram no gosto popular porque a torcida não estava acostumada: “Eu pensei: está aí uma porta aberta para mim. Jogador sempre fala a mesma coisa até hoje. Hoje ele pegou a mania de falar que está focado na partida. Ele não é criativo. Tem que ser criativo”. Foi assim que a coisa começou. E assim Dadá Maravilha foi inventando frases e gestos com o objetivo de ser diferente dos demais e também “com o objetivo de alegrar o futebol e levar a torcida para o estádio”.

E quando ele percebeu, ele era um fenômeno antropológico: “As minhas frases foram consideradas mais bonitas que todos os meus gols”. A frase da problemática rendeu um novo neologismo: a solucionática. “Não existia esta palavra em português, fui eu que criei”, diz ele. Segundo Dadá, numa escolha promovida pela revista Veja a frase – “Não me venha com a problemática que eu já tenho a solucionática” – foi considerada a preferida pelos brasileiros, numa eleição que tinha grandes escritores e poetas. “Eu ganhei do Castro Alves e do Rui Barbosa”, diz ele, com evidente orgulho. Depois de conversar com Dadá, não tem como o sujeito não virar um dadaísta. Ele é a simpatia e a irreverência em pessoa.

Segredo do sucesso

Arquivo

“O meu segredo foi ser humilde. Eu não sabia driblar, mas também eu sei de uma coisa: sou o maior cabeceador do planeta”.

Matador

Arquivo

Dadá Maravilha fez 312 gols pelo Atlético-MG e 200 pelo Inter. Ele foi três vezes artilheiro do Campeonato Brasileiro e seis vezes dos Estaduais.

Dario foi o único jogador convocado para a Seleção Brasileira por um presidente da República, Emílio Garrastazu Médici, em 1970. Que criou uma crise que derrubou o técnico João Saldanha e motivou sua troca por Zagallo. Foi pouco antes da Copa no México, que o Brasil ganhou.

Em uma partida pelo Campeonato Pernambucano de 1976 contra o Santo Amaro, Dadá marcou 10 dos 14 gols do Sport Clube Recife. Ele superou Pelé e Jorge Mendonça, que eram recordistas com oito gols numa partida. Neste jogo, Dadá desfilou seu catálogo de gols.

Em 1976, Dadá foi vendido pelo Sport para o Internacional por uma fortuna na época: Cr$ 500 mil. Na sua estreia contra o Esportivo de Bento Gonçalves, pelo Campeonato Gaúcho, o público foi tão grande que o clube arrecadou todo o dinheiro que pagou para o time pernambucano.