Lendas vivas

Ao lado de Tião Abatiá, Paquito formou a famosa dupla caipura

Paquito foi o primeiro a chegar no União Bandeirante, e quando Tião Abatiá foi comprado ao Cambará ficou pouco tempo no banco porque os dois formaram uma dupla infernal. Infernal para as defesas adversárias. Todos temiam a dupla de ataque bandeirantina que não cansava de fazer gols. Paquito foi artilheiro duas vezes, ganhou Chuteira de Ouro em 1969 e Tião foi artilheiro em 1971. Foi nela que o Coritiba pensou quando no começo do segundo semestre de 1971 achou que devia reforçar o time para o Campeonato Brasileiro.

“Nós estávamos de férias. O Almir de Almeida apareceu aqui no norte. O avião dele desceu em Águas Iara, que é uma estação mineral térmica perto de Bandeirantes. Ele foi falar com o Serafim e com o Antoninho Meneghel. Queria emprestar eu e o Tião para o Campeonato Brasileiro”, conta Paquito.

A princípio Paquito não se animou com a ideia. Mas Tião Abatiá ficou entusiasmado. E Paquito ficou ainda menos animado quando soube que teria que ir para Curitiba de avião. “Era um avião pequeno, do tipo Teco-teco. Eu estava em Ribeirão do Sul na minha casa e Tião estava em Abatiá”, conta Paquito. O acidente de automóvel e suas consequências ainda estavam na memória do atacante.

“O Tião foi a Ribeirão do Sul me buscar. Quando ele veio com aquela conversa eu pulei fora. Eu disse: ficou louco! O Tião nem sabia o que era avião. Ele nunca tinha andado de avião. Quando ele me disse que era um teco-teco eu disse: ‘nós vamos cair desta bomba’”, relata Paquito. Mas Tião insistiu, Paquito cedeu e os dois foram. Naquela bomba que trouxe Almir de Almeida e o levou com os dois jogadores.

“Chegamos lá e logo na estreia eu fiz um gol e Tião fez outro, caímos nas graças da torcida e foi assim que nasceu a dupla caipira”, diz ele. A segunda ida para o Coritiba foi mais tranquila que a primeira. Por vários motivos: um deles que foi em dupla e ela agradou de cara. E, depois, tinha no Coritiba um antigo companheiro de União Bandeirante, que era o zagueiro Pescuma, que estava no Alto da Glória desde março daquele ano. “Ele tinha ido antes para o Coxa. O Pescuma era muito amigo da gente. Mas ele entrava firme até nos treinos. Eu lembro que quando me acidentei eu voltei muito temeroso de entrar nas divididas. Eu voltei a treinar no time de baixo. O Pescuma estava no time de cima. Eu jogava temeroso e numa dividida ele entrou e quase me quebrou. Foi uma entrada braba. Eu reclamei e ele disse: essa aí foi para o amigo perder o medo. Aí quando eu cheguei no Coritiba a primeira coisa que ele perguntou foi: e aí, já perdeu o medo?”, conta Paquito.

O certo é que a atuação de Paquito e Tião Abatiá com a camisa do Coritiba naquele Campeonato Brasileiro de 1971 foi suficiente para convencer o presidente Evangelino Costa Neves a comprar o passe dos dois. Mas jogar no Coritiba não era a mesma coisa que jogar no União Bandeirante, onde os dois eram os donos absolutos de suas posições. “O time tinha muitos jogadores bons e qualquer um podia ser titular. E se você saísse do time corria o risco de não voltar. Bastava o outro ir bem”, conta Paquito, que ficou no Alto da Glória por três temporadas, conquistando três títulos estaduais. Em 1974, ele foi vendido para o Santa Cruz, de Recife, no qual, apesar da boa campanha, terminou a temporada como vice-campeão. “Era um time muito bom, com Ramón que foi para o Vasco, o Givanildo e o Luciano que foram para o Corinthians e muitos outros. Mas futebol tem disso: jogamos a decisão por dois empates e perdemos o título”, diz ele. Depois ele cogitou encerrar a carreira e voltou para Ribeirão do Sul.