Saúde

33% dos curitibanos acham que o exame do toque “não é coisa de homem”

A principal resposta dos curitibanos, quando questionados por que os homens não fazem o exame do toque retal, foi “porque não consideram coisa de homem”. Dos entrevistados em Curitiba para a pesquisa DataFolha, 33% creditavam a recusa do exame nos cuidados da saúde masculina a esse pensamento. Em segundo lugar, 26% acreditavam que se tratava se machismo e preconceito e, empatados em terceiro lugar, estavam a vergonha ou constrangimento e o desconforto que o exame causa.

O estudo, divulgado pela Bayer em parceria com o Instituto Oncoguia e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), envolveu sete capitais do Brasil, entre elas Curitiba, e entrevistou no total 1.062 homens, todos acima de 40 anos, entre os dias 28 de junho e 2 de julho de 2017. Todas as entrevistas foram realizadas em estádios de futebol, com o objetivo de que o ambiente deixasse os homens mais confortáveis para falarem sobre a própria saúde.

O resultado da pesquisa em Curitiba deixou Luiz Sergio Santos, médico urologista, surpreso. Santos é professor adjunto da disciplina de Urologia do curso de Medicina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e chefe do serviço de Urologia do Hospital das Clínicas (HC/UFPR).

“É surpreendente! 33% dos homens? Achei que fosse um número menor. Mas, se pensar bem, de cada cinco consultas para fazer o exame de próstata no consultório, três foram marcadas pela esposa”, lembra o médico, que também é ex-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, seção Paraná.

O receio dos homens com relação a esse tema não é incomum de acordo com Santos, que relembra outra situação. “Ano passado fizemos uma ação na rua XV de Novembro chamando a população para saber mais sobre a saúde do homem e tinham homens que evitavam pegar o folheto de informações com medo de que fossemos convencê-los a fazer algum exame. Víamos o medo de muitos homens de chegar perto e perguntar sobre câncer de próstata.”

O médico acredita que, embora a conscientização e as campanhas sobre câncer de próstata e saúde masculina tenham crescido nos últimos anos e, com ela, o entendimento da importância dos exames do toque e do antígeno prostático (PSA), ainda perdura o tabu do tema e o machismo.

“Talvez seja porque foram entrevistados homens mais velhos, que têm receio de fazer exame ou foram os torcedores de futebol não consideram o exame para ‘homens’, mas vemos no consultório que os jovens estão mais cientes e receberam uma orientação desde a puberdade. As coisas estão melhorando”, diz Santos, que se considera mais otimista.

Coisa de curitibano?

Não achar que o exame é “coisa de homem” não foi uma resposta exclusiva dos homens de Curitiba. A pesquisa Datafolha também foi realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife.

Na capital do Rio Grande do Sul, os gaúchos superaram a resposta dos curitibanos e 38% consideram que o exame não é destinado aos “Homens”, enquanto que em Belo Horizonte, 34% dos entrevistados responderam da mesma forma. Rio de Janeiro, Salvador e Recife, a opção foi escolhida por 15% dos entrevistados e em São Paulo por 20%.

Embora não considerem “coisa de homem”, 77% dos mesmos entrevistados em Curitiba citaram o exame do toque quando perguntados sobre quais exames poderiam ajudar no diagnóstico do câncer de próstata.

Como médicos “convencem” os homens?

Nem sempre o exame do toque retal acontece logo na primeira consulta com o urologista, mas os médicos tentam, com toda informação disponível, fazer com que o paciente tome a decisão mais benéfica à saúde – mesmo que em um segundo encontro.

“Às vezes, em uma primeira consulta, peço o exame de sangue, o PSA e peço para que ele faça e volte, para discutirmos. Na volta, ele está mais tranquilo e assimilou a ideia. Mas, é sempre uma decisão compartilhada, nada é imposto ao paciente. Se o médico demonstra uma atitude de invasão de privacidade, machista, o exame não acontece. Eu consigo fazer o exame do toque em 98% dos pacientes no consultório, porque muitos chegam convencidos e dificilmente relutam”, explica o médico urologista Luiz Sergio Santos.

Quem não concorda em fazer o exame ou está receoso, tenta substituir o toque por outros exames, como uma ressonância magnética, ou acha desculpas, como estar gripado. “A ressonância custa uma fortuna e não traz os mesmos benefícios que o exame do toque traz. São 10 segundos, no máximo, e conseguimos identificar precocemente uma doença importante”, reforça Santos.

10 segundos é o tempo máximo que dura um exame de toque retal. Os benefícios da prática, no entanto, duram muito mais.

Medicina alternativa foi escolhida por 14% dos curitibanos

“O que faria se descobrisse que tem câncer de próstata?” Para esta pergunta, 85% dos homens de Curitiba responderam que buscariam o cuidado e tratamento médico, mas 14% deles – maior percentual entre todas as capitais – afirmaram que buscariam tratamentos alternativos ou uma cura espiritual.

“Muitas pessoas buscam, primeiro as alternativas, outras vão depois de tentarem todas as opções terapêuticas tradicionais. Esse número, 14% não é tão difícil de pensar. Não temos no Brasil nenhum dado que indique qual é a primeira opção de tratamento. Um paciente com câncer avançado e sem a possibilidade de cura desta doença vai procurar uma alternativa que o ajude a ficar vivo”, analisa Jose Sergio Santos, médico urologista.

Uma das principais respostas, para todos os entrevistados no país, sobre o principal sentimento que teriam ao descobrirem um câncer de próstata foi o medo da morte (28% dos curitibanos), ao lado de sensação de tristeza, depressão, chateado. Em Porto Alegre, 25% dos homens responderam que encarariam com naturalidade e otimismo, enquanto a principal resposta dos baianos de Salvador foi “fazer tratamento, procurar um médico e cuidar-se” (24%).

PSA x exame do toque

O exame do antígeno prostático, ou PSA, é realizado a partir da coleta de sangue – como um exame de sangue tradicional. No caso do exame do toque, o tato do médico é necessário, que buscará verificar o tamanho do órgão.

Homens acima de 45 anos têm a recomendação para fazer tanto o exame de PSA quanto do toque. Se tiver um histórico de câncer de próstata na família, como irmãos, pais e avós, é importante buscar o médico a partir dos 40 anos. Se for de descendência negra ou se tiver qualquer alteração no exame de PSA, o exame também é indicado mais cedo – aos 40 anos de idade.

Quem estiver com obesidade, for sedentário, também deve procurar o médico, visto que esses são fatores de risco ao câncer. Da mesma forma, fumantes e quem consome muita carne vermelha e gordura.

Os exames devem ser refeito todos os anos a partir dos 45 anos, visto que o câncer de próstata não causa qualquer sintoma nas fases iniciais da doença. “A doença é silenciosa, não causa dor e geralmente traiçoeira. Por isso a importância do toque”, reforça o médico urologista.

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