Mafiosos italianos invadem o Brasil para se esconder

mafia2281104.jpg

John Alleto: um dos muitos
mafiosos presos no Brasil.

Rio – Nem "tutti buona gente". Nos últimos dias, agentes da Interpol do Rio prenderam dois estrangeiros acusados de pertencer à máfia, o italiano Domenico Safiotti e o norte-americano John Alleto. E ainda há 22 estrangeiros sendo procurados no estado. Por suas belezas naturais, facilidade de conseguir documentos falsos, características da população, rica em etnias, o Rio é uma das principais metas de fuga de criminosos estrangeiros, em especial, italianos. Só nos últimos dez anos, foram presos e extraditados cem italianos, a maioria no Rio e em São Paulo.

Segundo o representante da Divisão de Cooperação Judiciária da Embaixada da Itália, cujo nome não pode ser divulgado por motivo de segurança, hoje há 70 italianos presos no Brasil por crimes cometidos aqui, ou aguardando extradição, e há outros 15 sendo procurados em todo o país, boa parte deles no Rio: "Eles vêm com dinheiro e querem ficar em locais turísticos, como Rio, Búzios e outras belas cidades. Além da facilidade do idioma, e do fato de a população também ser latina, eles compram identidades e CPFs falsos com os quais obtém passaporte brasileiro legítimo", disse.

Ele contou que há dez anos trabalha no Brasil cuidando dos casos de extradição e explicou que a América do Sul é vista como destino natural de fuga dos mafiosos italianos, sendo que os países mais visados são Brasil, Uruguai e Argentina. "Eles querem locais com bons hotéis, um bom sistema de comunicação, facilidade de vôos internacionais. No Brasil, eles procuram o Rio, São Paulo, mas também está crescendo a procura pelo Ceará e por Salvador. Muitos chegam aqui, montam família e conseguem até se naturalizar, como foi o caso de Antonio Salomone", lembrou.

Condenado por tráfico na Itália, Antonio Salomone pertencia à cúpula da Cosa Nostra e fugiu para o Brasil em 1984. Localizado e preso em 1993, ele não pôde ser extraditado porque já tinha cidadania brasileira. Titular da Interpol no Rio, o delegado Wanderley Martins diz que nos últimos anos vêm aumentando os casos de criminosos ligados às organizações mafiosas N?Drangheta, da Calábria; e Sacro Corona Unita, da Puglia: "Desde a prisão de Tomaso Buscheta, da Cosa Nostra, vários mafiosos já foram presos aqui. Eles preferem lugares como o Rio, Búzios e Petrópolis. Muitos chegam aqui e conseguem documentos falsos, mas alguns usam seus nomes verdadeiros. Quando são presos com documentos falsos, acabam respondendo processo também no Brasil. Nestes casos, não podem ser extraditados imediatamente".

Segundo ele, além de máfias italianas, há no Rio foragidos das máfias russa, japonesa e nigeriana. "Dos pedidos de prisão preventiva que estamos trabalhando, há mais casos de italianos, mas também há criminosos franceses, suíços e mafiosos de outros países". O agente da Interpol italiana que há dez anos investiga foragidos italianos na América do Sul afirmou que, na verdade, não está havendo um aumento de foragidos italianos no Rio. Segundo ele, o que vem aumentando é o número de prisões.

Um paraíso com praias e mulheres

Rio – Um agente da Interpol italiana dá um exemplo que ajuda a explicar a preferência do mafioso pelo Brasil. "Imagine se um mafioso italiano foge para Tóquio, ele é descoberto em menos de seis horas", diz ele. No Brasil, não: ele se confunde com a população local, que além de origem latina, é hospitaleira. A língua é semelhante. E o país está longe de ser um desterro: ao contrário, com belas praias e belas mulheres, o mafioso sente-se melhor que em sua terra. E, além de tudo, anônimo: apenas mais um numa multidão.

Este é outro detalhe que ajuda o mafioso. A extensão territorial brasileira e a densidade demográfica de cidades como Rio e São Paulo facilitam o esconderijo. No entanto, ele observa que também é grande o número de italianos foragidos na Argentina, no Uruguai e na Venezuela, onde vem aumentando a presença de mafiosos devido à crise política. O coordenador-geral da Interpol em Brasília, delegado Roberto Precioso, não revela o número de pedidos de prisão de estrangeiros em andamento no país, mas garante que a Interpol brasileira é recordista de prisões em todo o sistema interpol, que reúne hoje 168 países. O crescimento do número de prisões se deve ao fato de o Brasil ter entrado para o novo sistema integrado de informações Interpol que permite a troca de informações on-line sobre foragidos.

Outro fator que contribui para a vinda de máfias estrangeiras para o Brasil é, na opinião de especialistas, a legislação criada para facilitar a entrada de capital estrangeiro no país.

Voltar ao topo