Gado marcado

Os conselheiros do Atlético agora, vejam só, querem uma reunião com Petraglia para discutir vários temas da vida do clube. O mote é a intransigência de manter-se Fernando Diniz como treinador. O Furacão, então, está tão reduzido como instituição, que entra em crise por causa de um simples técnico de futebol.

O que querem esses conselheiros, afinal?

O Atlético deixou de ser uma instituição do povo, realizador de valores e provocador de sentimentos. “Não acredito na paixão. Futebol é negócio, negócio”, disse Mário Celso Petraglia, o deus adorado por esses conselheiros. Bem por isso, o resultado de campo já não mais interessa: ganhar, perder ou empatar, é irrelevante. É desprezível o fato da torcida ter sido reduzida à menor média da história recente da Baixada.

Essa mesma torcida que já foi tratada por Petraglia como de “falacianos”, de “pobres”, está sendo tratada como gado, marcado pelo sistema biométrico, que o manda para uma fileira ver o seu clube jogar; e, por ser ambientada no “1984” de George Orwell, na Baixada é recomendável vaiar em silêncio, não xingar os dirigentes, não gritar “queremos jogador”, porque se não apanhar na hora de um segurança, uma câmera pode denunciar ao poder central.

Esses conselheiros podem ter legitimidade estatuária, mas não é tudo. Ao contrário, no caso do Atlético, tratando-se desses é quase um nada. E afirmo mais: esses conselheiros têm mais responsabilidade pelas coisas atuais do que próprio Mário Celso Petraglia. Do cartola, a ninguém é dado o direito não prever as consequências dos seus atos no exercício da representação do clube. Então, cabia a esses conselheiros censurá-lo, reprová-lo e, de alguma forma, exercer o direito e a obrigação de fiscalizá-lo. O resultado do apoio e da omissão, é esse processo degenerativo que o clube está sofrendo, com a sua torcida sumida e com todo o seu patrimônio alienado, sem nenhuma perspectiva de solução natural.

O que podem exigir esses conselheiros, que sempre concordaram com esse fundamentalismo, em que dinheiro tornou cinza os ideais, que tirou o Atlético do povo, que expulsou um ex-presidente e atleticano de bem só por questões pessoais com Petraglia, que assiste passivamente a suspensão e a expulsão de sócios?

Fernando Diniz é o menor dos problemas.

Se esses conselheiros, ainda, quiseram se livrar da identidade de coveiros do Atlético, e que serão se o patrimônio for para o prego, têm um único caminho: exigir a reunião com Petraglia, mas para decidir pela realização daquela Assembleia, que os 3 mil sócios estão buscando e não estão conseguindo realizá-la em processo judicial.

Façam isso e terão feito um bem para o Atlético.

Até com o direito de perdão.