“Violência urbana se combate com seriedade”

A partir de hoje e até sábado, a Tribuna do Paraná estará levando aos seus leitores entrevistas especiais com todos os candidos à Prefeitura de Curitiba. O tema abordado é o que mais preocupa o povo e tem sido usado como bandeira pelos “prefeituráveis”: segurança pública. A série começa com Rubens Bueno, do PPS, entrevistado na redação da Tribuna pelos jornalistas Rafael Tavares, Mara Cornelsen, Valéria Biembengut e Patrícia Cavallari. Em mais de uma hora de conversa, Bueno expôs seus projetos para melhorar combater a criminalidade na capital e também na Região Metropolitana. Sua principal proposta é criar um organismo único de controle de informações, envolvendo Guarda Municipal, Polícia Militar e Polícia Civil, para agilizar o segurança preventiva e ostensiva. Ele também disse crer que, com uma mudança de mentalidade, a população pode contribuir para a redução da violência. Confira agora as principais abordagens da entrevista. O bate-papo de amanhã é com o candidato do PL, Mauro Moraes.

Tribuna – Como você vê Curitiba hoje em termos de segurança pública e qual a análise da violência nos últimos anos na cidade ?
Rubens Bueno – A questão da violência urbana não acontece só em Curitiba, atinge a todas as principais cidades do País. O mais grave é que atinge a população mais jovem, de 15 a 24 anos. Isso contribui, especialmente, para uma juventude sem perspectiva de futuro, emprego e renda. Temos que pensar como se governa um município do tamanho de Curitiba e com a complexidade que ele tem. Antes do programa de combate à violência, temos que discutir diretrizes básicas que vão nortear o governo durante os quatro anos. Primeira delas: uma administração profissionalizada, onde teremos a gestão por competência e gerência do projeto, eliminando os cargos de apadrinhados que existem dentro da Prefeitura, e que são muitos. Segundo ponto: trata-se do governo local. Ninguém mais pode imaginar Curitiba sendo administrada da Praça 29 de Março. São 75 bairros, que são 75 cidades dentro de Curitiba. Terceiro ponto: não dá para imaginar administrar Curitiba e a Região Metropolitana – que tem 2 milhões e 900 mil habitantes -sem estar integrado efetivamente e articulado politicamente. Quarto ponto: gestão empreendedora. Saber como é que nos vamos trabalhar, a prefeitura e a iniciativa privada, para o crescimento e desenvolvimento econômico. Curitiba tem grandes problemas, mas também tem grande potencialidade que ainda não foi devidamente olhada, trabalhada, promovida e fomentada pela administração pública.

Tribuna:

Você falou muito na questão social. As parcerias econômicas que levam o jovem para alguma atividade evitam sua participação no crime?
Rubens Bueno: Vamos para a violência urbana. Primeiro você tem que tratar isto com inserção social, educação em tempo integral, cultura, teatro, música, esporte, lazer…, dar vida para a cidade. Quando a cidade convive com a atividade ela naturalmente evita a violência urbana. Cheguei em Curitiba há 43 anos e o principal ponto da cidade era a Praça Tiradentes. Hoje a violência tomou conta deste local pela ausência da administração pública. Quer dizer, as pessoas saem do trabalho e querem correr para casa com medo de ficar por ali.

Tribuna:

Um dos principais problemas geradores de violência naquela área são alguns pontos de comércio, como bares, que acabaram se tornado bocas de tráfico de drogas. Como tratar disto?
Rubens Bueno – Tem que chamar a responsabilidade. Se a prefeitura tem sob sua responsabilidade a guarda das praças e dos edifícios públicos, então você tem que chamar para sua responsabilidade os locais onde foi detectado este tipo de situação. É preciso controlar pelo alvará, pelo horário de funcionamento… quer dizer, você vai estabelecer rigores para que aquilo volte a ter uma normalidade.

Tribuna:

Então você pensa em cassar o alvará caso detecte que um bar daqueles é ponto de tráfico de drogas?
Rubens Bueno – Se for esse o limite da solução, não tenha dúvida que será feito. Vamos buscar orientar, educar, chamar a responsabilidade de uma cidade mais tranqüila, mais ordeira, mais pacífica.

Tribuna-

E quanto à segurança integrada?
Rubens Bueno – O que nós estamos falando há três anos os outros estão plagiando. É você ter um comando único da gestão da segurança. Não vai acabar com a Guarda Municipal, não vai acabar com a Polícia Militar. Cada um, de acordo com a lei, cumprindo a sua missão. Mas ter uma gestão única disto.

Tribuna:

E quem seria este gestor único ?
Rubens Bueno – É aquele que possa liderar. Aquele que tem capacidade, que tem competência, que tem experiência, que mostra que tem capacidade de tocar um projeto desta envergadura. É um policial militar, um policial civil, ou um grande cientista. Não seria um cargo. Você não precisa contratar policial, da noite para o dia você triplica o número de pessoas atuando no conjunto.

Tribuna:

Você fala em nova política. Acha que o povo curitibano vai poder acreditar em uma nova segurança, em uma nova condição de sair na rua, de poder parar no sinaleiro sem ter medo de ser assaltado?
Rubens Bueno – Sem dúvida. Você sabe que a questão do crime não é singular, a questão do crime tem toda uma complexidade em torno dela. Como eu falei dos jovens, sem perspectiva de futuro, de emprego, de alguma coisa. Drogado, vai para alguma coisa de que o crime o compense daquilo que é seu vazio, que é o espaço. A miséria, enfim, o desajuste, a bebida, sabemos o quanto significa em termos violência sair do bar, chega em casa ou na rua, é altíssimo isto, onde o crime acontece. Você tem que estabelecer um limite para isto. Tem que saber qual é a região, o ponto crítico, então vamos lá para funcionar, mas chamando todos para conversar, mostrando que não pode mais funcionar aquilo, porque a insegurança também vai fechar o negócio daqueles que estão em atividade. Então mostrar que no conjunto todos nós vamos ganhar. Mostrando isso, você começa a avançar, como foi feito em Fazenda Rio Grande, na época, 22h para fechar os bares. Chegaram a esta boa conclusão e o resultado está ai, a cidade menos violenta.

Tribuna:

Hoje a polícia tem medo de entrar na favela e a população tem medo da polícia? As pessoas denunciam para a imprensa, porque temem a polícia. Não teria que ter um processo para que a população passasse a confiar mais na polícia e para que os policiais não tivessem medo de entrar em uma favela para combater o crime?
Rubens Bueno – Tudo isto se acumulou ao longo do tempo por falta de autoridade, da Prefeitura, do governo do Estado. O governador já foi governador, já foi prefeito de Curitiba, o prefeito de Curitiba já teve o governador do lado dele durante tantos anos. Quer dizer, é por falta de autoridade, de vontade e ação política. Para isto é preciso ter políticas adequadas. Você levanta as informações de onde tem uma situação como esta, você cria onde tem um comando único, uma gestão única e você estabelece uma força tarefa. Primeiro você instrui, educa, prepara. Não avançou, não diminuiu, você tem que ir com a força-tarefa e vai combater.

Tribuna:

Em relação à segurança no trânsito.Qual a sua idéia para os radares?
Rubens Bueno – Eu diminui a violência no trânsito em Campo Mourão acabando com os semáforos da cidade, instalando rotatórias. O pedestre anda normalmente na calçada e na faixa, quem pára é o carro e não o pedestre. Para a questão do radar, eu digo tranqüilamente que vou acabar com todos os radares desonestos. Aqueles que vêm para pegar você atrás da moita, aquilo que nós chamamos de tocaia. Vai existir um sistema deste nos pontos críticos. Onde tiver um ponto crítico vamos orientar, vamos educar, vamos chamar a responsabilidade da sociedade para aquele ponto crítico, principalmente perto de escola.

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