Violência cresce no interior do Estado

Foz do Iguaçu é a cidade brasileira com maior número de mortes juvenis. São mais de 223 para cada grupo de 100 mil habitantes. A informação foi divulgada ontem pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para a Educação, a Ciência e Cultura (OIEA), com apoio do Ministério da Saúde, com dados de 2004. O estudo ?Mapa da violência dos municípios brasileiros? revelou ainda que apenas 10% dos 5.560 municípios brasileiros concentram a maioria das mortes por homicídio entre todas as idades do País. Das 48.345 mortes por essa causa, 34.712 ocorreram em apenas 556 cidades. Entre elas estão 43 do Paraná, principalmente situadas nas regiões de fronteira e na Região Metropolitana de Curitiba.

O estudo revelou ainda que a violência vem crescendo no interior do País e não apenas nas grandes capitais e regiões metropolitanas. O Paraná é um exemplo disso. Das 43 cidades citadas na pesquisa, apenas 12 compõem a Grande Curitiba. As demais são do interior do Estado. Foz do Iguaçu aparece em uma situação de destaque. Se forem consideradas as mortes entre pessoas de 15 a 24 anos, ela ocupa o primeiro lugar nacional com 223 mortes por 100 mil. Serra, no Espírito Santo, aparece em segundo lugar, com 222 mortes juvenis, e Recife está em terceiro, com 208 mortes.

Se a idade das vítimas de armas de fogo não for levada em conta, Foz cai para o quinto lugar com 84,8 mortes por cem mil habitantes. Outras duas cidades de região de fronteira também registram um alto índice de violência. São elas: Rio Bonito do Iguaçu, que ocupou o 25.º posto na pesquisa e registrou a média de 63,1 mortes, sendo seguida por Guaíra, em 50.º com 53,1 mortes. A cidade brasileira mais violenta é Colniza, no Mato Grosso, com 131,6 óbitos por armas de fogo.

Os outros três municípios paranaenses que apresentaram os piores desempenhos são da RM. Campina Grande do Sul aparece em 103.º lugar (média de 44,2 mortes por 100 mil), Tunas do Paraná em 113.º (média de 43,4) e Piraquara em 120.º (média de 42,8). Curitiba aparece em 288.º lugar (média de 29,9).

A pesquisa mostrou ainda que há estados em que nenhum de seus municípios, ou bem poucos, integraram a lista. São exemplos, o Amapá, o Amazonas e o Tocantins. Entretanto, em outras unidades da Federação, por volta da metade das cidades entraram na lista, como é o caso do Rio de janeiro, Pernambuco e Rondônia. No Paraná, dos seus 399 municípios, cerca de 10,8% estão entre os 10% que mais concentram a violência do País.

Capitais

Recife ficou em 9.º lugar entre 556 cidades citadas, sendo a primeira capital a aparecer. Seguida de Vitória (ES) em 18.º e Rio de Janeiro (RJ) em 70.º. São Paulo (SP) ficou em 228.º lugar e é a 11.º capital a figurar na lista. Curitiba (PR) é a 12.ª. Belém é a última a integrar o grupo e ficou em 549.º na listagem geral.

O estudo mostra que a partir de 1999, observou-se uma ?estagnação? dos índices de violência nos grandes centros e o deslocamento dessa realidade para o interior dos estados, onde a ?violência continuava crescendo a um ritmo maior que o anterior. Este mapa busca aprofundar as investigações sobre um fenômeno que há muito deixou de pertencer apenas aos grandes centros urbanos. A interiorização da violência vem-se revelando como mais um desafio para toda a sociedade brasileira?, registra o trabalho de autoria do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz.

Segundo os especialistas, os novos pólos de crescimento econômico e a falta de ações de segurança do governo no interior são responsáveis pela interiorização da violência. ?Municípios onde o setor público atua pouco porque são longes e distantes. São terra de ninguém?, disse Jacobo.

Sesp afirma que pesquisa é ?simplista?

A Secretaria de Estado da Segurança Pública do Estado (Sesp) comentou a pesquisa divulgada pela OIEA. Em nota, o órgão afirma que ?comparar de maneira simplista os números da criminalidade registrados em Foz do Iguaçu com os de qualquer outra cidade brasileira é no mínimo uma atitude equivocada e que de nada colabora para as discussões sobre segurança pública em área de fronteira?.

Além de criticar os dados divulgados ontem, a Sesp diz que é necessária ?uma análise muito mais profunda sobre a cidade do que apenas a avaliação do contingente policial e das ações realizadas na área da segurança pública?.

Apesar de ainda afirmar que ?segurança não se faz apenas com ações policiais e com o aumento de efetivo?, a nota aponta algumas medidas adotadas até então para vencer a violência em Foz. Entre as ações, eles mencionam as reformas na estrutura física da polícia e o envio de novos veículos, 130 novos policiais, além de pistolas e coletes balísticos. (EW)

Município pára contra falta de policiamento

Antonio Roberto/Umuarama Ilustrado
Manifestantes fecharam avenida central exigindo mais policiais.

A população da cidade de Pérola, no noroeste do Estado, resolveu parar o município ontem para protestar contra a violência. O comércio fechou as portas estudantes, religiosos e pessoas ligadas a outros segmentos saíram às ruas pedindo mais segurança. A cidade, com uma população de 10 mil habitantes, tem apenas três policiais militares.

O movimento foi organizado pela Associação Comercial e Empresarial de Pérola. O presidente da entidade, Odair de Souza, diz que há um ano a situação vem se tornando insustentável. Os assaltos ao comércio e moradores vêm se tornando comuns. Ele reclama que no município atuavam quatro policiais, mas um está de licença médica. Os três restantes não dão conta do trabalho porque um deles sempre está tirando a folga dos outros. Como as rondas só podem ser feitas em duplas, os policiais precisam escolher entre ficar no posto para atender as emergências ou fazer o policiamento preventivo nas ruas.

Márcio Pitondo, dono de uma panificadora, lembra que viveu 40 minutos de terror com a família nas mãos dos bandidos. Eles chegarem armados e levaram o carro, dinheiro e objetos de valor. ?A situação é terrível. Eu nunca peguei numa arma e de repente tinha uma apontada para a minha cabeça. Eles procuram assaltar os estabelecimentos que têm menos equipamentos de segurança?, disse.

Os moradores entregaram uma carta com reivindicações ao prefeito da cidade e pretendem montar uma comissão para entregar o documento à Secretaria de Estado da Segurança Pública. ?Queremos mais policiais e uma reforma interna da cadeia da cidade. Desde novembro aconteceram duas fugas. Os presos cavaram túneis?, conta Márcio. (EW)

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