Tráfico de drogas tira a paz do Cajuru

A violência gerada pelo tráfico de drogas, na região do Cajuru, há tempos não resultava em tantas mortes como em janeiro deste ano. Ontem, Nelson de Souza Simões, 39 anos, foi encontrado morto com um tiro na nuca, deitado sobre o colchão, estirado no chão de sua casa, na Rua das Oliveiras 01, Jardim Acrópole.

Os assassinos deixaram a carteira da vítima e nada levaram da moradia, o que fez a polícia descartar a hipótese de latrocínio (roubo seguido de morte).

O motivo, ainda ninguém sabe e passa a fazer parte de mais uma investigação de homicídio. O fato é que Nelson é outra vítima fatal que se soma ao trágico índice que assola a região.

Neste mês, pelo menos 13 pessoas foram assassinadas e outras quatro feridas, o que representa a média de um atentado contra a vida a cada dois dias. Mandantes e autores estão sendo investigados pela polícia, por seus apelidos e nomes, mas até agora nenhum criminoso foi preso.

O Cajuru se espreme entre o Rio Atuba e vias férreas que circundam quase toda a região, cujos trilhos transformaram-se no limite entre a vida e a morte de muitos moradores. De um lado de uma das ferrovias está a Vila Autódromo e do outro a Santíssima Trindade. É nestas duas regiões que concentram-se a maioria dos crimes, fruto da antiga rixa entre gangues de traficantes que comandam as duas vilas.

Para o delegado Adonai Armstrong, titular da Delegacia de Homicídios, a maioria dos crimes está ligada, de alguma forma, ao tráfico de drogas. ?Eles matam por desacerto na compra e venda da droga, na tomada de área ou de vapores (passadores de entorpecentes), seja na disputa por clientes ou quando se vende mais barato que o normal. Enfim, geralmente morre quem é da periferia, onde a droga mais comercializada é o crack, que vicia rápido e o usuário, muitas vezes, não tem como pagar. Assim ele comete outros crimes, como o roubo, para sustentar seu vício?, disse o delegado.

Sabe-se portanto que o tráfico de drogas movimenta a engrenagem da violência, porém, é preciso lembrar que pobreza e falta de oportunidades de trabalho são fatores que têm forte influência no funcionamento deste mecanismo.

Apesar de o bairro Cajuru ser um dos mais antigos e o terceiro mais populoso da capital, ele cresceu de forma rápida e desordenada, e abriga hoje mais de 20 vilas, entre elas, áreas de invasão. Segundo o censo de 2000, mais de 89 mil pessoas, com idades entre 25 e 30 anos, moram na região.

Linha tênue entre a pobreza e a miséria

População jovem, com média de 26 anos.

A maioria não chegou a concluir o ensino fundamental e apenas 8,8% cursaram ou estão cursando o segundo grau. O mercado de trabalho é regido pela informalidade. Esta é a realidade da região do Cajuru, apontada pela última pesquisa feita na região.

A sondagem, datada do final de 2001 e encomendada pela Prefeitura de Curitiba, num projeto então chamado ?Operação Cajuru?, revelou a dura realidade dos moradores de três principais vilas do bairro. O objetivo era identificar as habilidades dos habitantes, para definir um leque de atividades produtivas que podem ser incentivadas num programa de estruturação econômica da comunidade, gerando emprego e renda para a população. Entretanto, pouco mudou nesses cinco anos, muito embora a Prefeitura, em sua nova gestão, garanta que está tomando uma série de medidas para a melhoria do bairro e da qualidade de vida dos moradores.

Na ?Operação Cajuru?, 1.227 moradores das vilas Autódromo, Acrópole e São Domingos foram entrevistados, mas o resultado pôde dar uma noção do perfil do bairro como um todo.

Os números apontaram que nas três comunidades impera uma população jovem, de baixa escolaridade e que busca garantir sua sobrevivência no mercado informal.

Isto é, a média de idade dos moradores é de 26 anos.

A maioria (58,9%) não chegou a concluir o ensino fundamental e só 8,8% tiveram acesso ao ensino médio (cursaram ou estão cursando o 2.º grau). Se forem considerados os trabalhadores que não têm carteira assinada e aqueles que se declararam autônomos, pode-se dizer que 46,7% dos moradores estão fora do mercado formal de trabalho e asseguram o sustento da família trabalhando por conta própria ou fazendo ?bicos.?

Nas entrevistas, 12,8% das pessoas disseram estar desempregadas. Este índice é duas vezes maior que a taxa média de desemprego registrada na grande Curitiba em 2000, de acordo com o Ipardes.

O alto percentual de desempregados nesta região pode ser creditado às próprias características do bairro, entre as quais estão a informalidade nas relações de trabalho e a baixa qualificação profissional dos moradores. Durante a pesquisa constatou-se que no final de 2001 a renda média mensal das famílias era inferior a R$ 131,58. As profissões mais comuns, nas três vilas pesquisadas, são pedreiro, doméstica, vendedor (a), motorista, zelador, catador de papel, pintor, comerciante, auxiliar de serviços gerais e babá.

Prefeitura promete gerar postos de trabalho

Para diminuir a taxa de desemprego, a Prefeitura irá implantar este ano, no Cajuru, o programa Bom Negócio. O projeto foi lançado no ano passado no Jardim Gabineto, na CIC, onde participantes do programa chegaram a aumentar o faturamento em até 30%, em apenas dois meses. O programa é desenvolvido em parceria com vários órgãos, como a FAE, Sebrae, Senai e Senac. A meta é chegar, até dezembro de 2008, a 15 mil micro e pequenos empresários. O programa oferece cursos e orientação técnica, que ajudam as pessoas a melhorar seu negócio.

Além disso, a Prefeitura lembra que as inscrições para seleção dos pequenos empreendedores que querem sair da informalidade e participar do Parque das Incubadoras já estão abertas. O prazo vai até o próximo dia 7 de fevereiro. O programa oferece apoio, acompanhamento e incubadora em que a empresa pode funcionar pelo período de um ano, contando com toda a estrutura necessária.

A atual gestão garante que serão investidos, a partir deste ano, R$ 8,5 milhões na revitalização urbana das vilas Savana, Sandra e Audi/União. Quase R$ 3 milhões serão recursos próprios do município e o restante, repasses da União. O convênio foi assinado no dia 16 de janeiro deste ano pelo prefeito Beto Richa e pelo ministro do Planejamento e Orçamento, Paulo Bernardo. Segundo a administração municipal serão beneficiadas diretamente 1.500 famílias. Os recursos serão investidos na aquisição de áreas de relocação, implantação de loteamento com infra-estrutura básica de rede de esgoto, luz elétrica, água tratada, drenagens, revestimento primário de vias públicas, construção de unidades habitacionais, trabalhos técnicos e sociais com as famílias, implantação de creche e trabalho social com as famílias.

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