Rebelião no presídio de segurança máxima de Piraquara

Com a reivindicação de ser transferidos para seus estados de origem, 114 presos do Centro de Detenção e Ressocialização de Piraquara (CDRP) promoveram quase dez horas de rebelião. Dos rebelados, 21 exigiam as transferências.

A negociação era intermediada por Cláudio Ratton, assaltante considerado de alta periculosidade. Os dois reféns – uma enfermeira e um agente penitenciário – foram liberados sem qualquer ferimento, por volta das 20h30.

O secretário da Justiça e Cidadania, desembargador Jair Ramos Braga, chegou ao local, às 18h, para participar das negociações, uma exigência dos presos. Apesar das informações na metade da tarde, de que havia dois detentos mortos – um a golpes de estoque por um colega e outro morto com um tiro de bala de borracha na boca, dado por um policial militar – as autoridades garantiram que ninguém foi sequer ferido.

A rebelião iniciou às 11h15 da manhã, durante o banho de sol dos presos, quando uma enfermeira entrou na primeira galeria para medicar um detento, acompanhada de um agente. Os presos aproveitaram a oportunidade e renderam os dois. Armados de estoques, os presos de quatro galerias saíram de suas celas e foram ao pátio, levando os reféns.

Policiais militares que fazem a guarda na Penitenciária Central do Estado (PCE), se dirigiram para o CDRP para tentar conter a agitação. Em pouco tempo, oito viaturas da Ronda Ostensiva de Natureza Especial (Rone) e do Comando de Operações Especiais (COE), ambas do Batalhão de Choque da PM chegaram ao local.

No fim do dia, mais de 100 policiais militares estavam na unidade prisional.

A major Mirian Biancolini Nóbrega, da assessoria de comunicação da Polícia Militar, relatou que algumas celas estavam danificadas e confirmou que a rebelião nada tinha a ver com facções criminosas, e havia sido iniciada somente para atender exigências como as transferências, alimentação em maior quantidade, melhor atendimentos às visitas, entre outras regalias.

Transferência

A assessoria da Secretaria da Justiça e Cidadania informou que os 21 presos que solicitaram as transferências foram levados para uma das alas da Penitenciária Central do Estado (PCE), para aguardar os trâmites de praxe.

O secretário da Justiça explicou que aceitou o pedido dos presos, porém não garantiu que conseguirá transferi-los.

?Nós já negamos pedidos de outros estados, para trazer presos ao Paraná. Desta forma, também acreditamos que esses estados também negarão nosso pedido. Vai depender dos juízes das Varas de Execuções Penais dos outros estados aceitarem as transferências?, disse.

Braga também rebateu algumas acusações dos familiares dos presos, de que eles não tinham alimentação adequada, medicamentos e materiais de higiene. ?Cada preso custa ao estado cerca de R$ 1.400,00 por mês. A comida vem de um cardápio, elaborado por nutricionista. E o diretor confere se a comida está de acordo com o cardápio.

Além disso, todos recebem seus kits higiene?, rebateu o secretário. Ele explica que hoje, representantes do Departamento Penitenciário (Depen) irão ao CDRP para verificar quais são as outras reivindicações dos presos.

A Secretaria de Justiça deverá instaurar uma sindicância para apurar falhas no sistema de segurança do presídio, de forma a inibir a ocorrência de outras rebeliões.

Cães e balas de borracha

Mara Cornelsen

Depois das horas de tensão e muitas negociações, policiais militares do Comando de Operações Especiais (COE) – tropa de elite da Companhia de Polícia de Choque da PM – entraram no Centro de Detenção e Ressocialização de Piraquara, para conter os cerca de 115 amotinados e proceder a revista completa nas quatro galerias (1, 2, 3 e 4) que haviam sido tomadas por eles. No momento da invasão – após a soltura dos dois reféns – os policiais agiram com rigor, disparando balas de borracha para efeito moral e avançaram acompanhados por cães. Um dos presos – considerado alcagüeta pelos demais – ainda estava amarrado às grades de uma cela, e foi libertado pelos PMs.

De acordo com oficiais do COE, nas negociações feitas com um representante da Secretaria da Justiça, ficou acordado que tão logo os 21 presos fossem removidos para a PCE (para hoje serem transferidos para seus estados de origem), os reféns seriam soltos e todos os amotinados entrariam em suas celas. Assim que o líder dos rebelados foi levado para a portaria e ali recebeu um telefonema de um dos transferidos, que garantia que todos estavam bem, ele retornou à galeria e determinou o fim do motim.

Os presos cumpriram o acordo, mas tentaram dificultar o avanço da tropa, usando as mangueiras de incêndio para amarrar as portas dos quadrantes. Com a invasão da PM, deixaram as celas com as mãos para cima e sem roupas, seguindo para o solário, onde ficaram sob a vigilância dos cães, até que a revista terminasse.

Os estoques usados pelos rebelados foram feitos de pedaços de ferro retirados das camas e das grades. Durante todo o tempo, os presos diziam estar portando armas de fogo, para pressionar o atendimento de seus pedidos. Porém, nenhuma arma foi encontrada, além das facas improvisadas.

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