Psicólogo traça o perfil dos latrocidas

?Quando eu sair da prisão, eu não vou só roubar. Eu vou matar?. Comuns de serem ouvidas dos presos por quem convive com eles, essas frases demonstram como um latrocínio, crime de roubo seguido de morte, pode acontecer.

Segundo o psicólogo Celso Barreto, que trabalhou por dois anos na avaliação de perfil dos presos na Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP), pelo menos 90% das pessoas que cometem assalto à mão armada estão alcoolizadas ou sob o efeito de drogas, o que pode levar o criminoso a agredir a vítima. ?O nível de estresse deles é muito alto. Ninguém vai cometer um assalto à mão armada com adrenalina baixa?, disse.

O criminoso que já cumpriu pena teria, portanto, maior tendência a cometer um latrocínio. ?Ele tem vontade de matar. Esse criminoso se especializou no crime, passando de um simples furto a um assalto à mão armada e, posteriormente, à formação de quadrilha?, descreveu o psicólogo, para quem esse tipo de latrocida pode já ter um perfil de abuso psicológico e manter um sentimento de vingança.

Outro perfil de latrocida descrito por Barreto é o do criminoso revoltado. ?Ele pode até ter um argumento afetivo para cometer o crime, como um filho passando fome em casa. Para ele, a repreensão da polícia ou a aplicação das leis é incompreensível?, explicou.

O latrocínio também pode ocorrer por quem quer eliminar provas, geralmente quando age violentamente com pessoas que conhece. ?Esse perfil de latrocida sabe que não pode deixar testemunhas, porque caso contrário ele vai para a cadeia. Por isso, precisa eliminar todas as provas, incluindo testemunhas?, apresentou Barreto. Assaltantes ainda inexperientes não são excluídos da lista de latrocidas. ?Assustado, ele pode matar por nervosismo?, disse o psicólogo.

Jovens no crime

Como em outras modalidades de crimes, o latrocínio é praticado, em sua maioria, por jovens. Barreto estima que criminosos de 18 a 28 anos correspondem a cerca de 75% do total, sendo que latrocidas de 30 a 45 anos são responsáveis por 10% desses crimes.

Desde cedo, desenvolve-se no latrocida o pensamento de que não há muito a perder quando se rouba e se mata uma vítima. ?São duas faces da mesma moeda. Ele vai morrer ou vai matar. O latrocida só está tentando conquistar algo naquele momento, é um prazer momentâneo e ele sabe disso. Seu código de ética é o código de morte?, analisa o psicólogo.

Números

A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) não informou sobre números de latrocínio neste ano no Paraná. A promessa é de que essa estatística seja divulgada no próximo trimestre pelo Mapa do Crime -Geoprocessamento.

Tentativa de compensar o sofrimento

A busca por justiça imediata e a qualquer custo para compensar o intenso sofrimento causado por um crime de latrocínio também é comum.

Essa atitude, no entanto, pode acabar perpetuando o ciclo de violência pelos familiares, vítimas indiretas da violência.

Condicionado à ineficiência do sistema jurídico, o discurso de vingança está bastante presente nos relatos dos familiares de vítimas de violência, de acordo com a advogada Akemi Kamimura.

?As garantias processuais são, muitas vezes, vistas como ?injustiças? porque são confundidas com privilégios, acrescentando-se a emoção e o desejo de reparação da família.

É importante orientar os familiares sobre a necessidade de provas suficientes de autoria e materialidade para condenação do réu?, explicou Akemi.

?Em geral queremos a solução rápida – e a sociedade atual valoriza isso – e pouco refletimos sobre a complexidade do tema da violência e da vítima??, completou.

(LC)

Resposta jurídica nem sempre é suficiente para a família

Tentar esquecer um crime fatal que tenha acontecido na família pode ser a escolha de muitas pessoas para seguir a vida, como reação de defesa imediata ao sofrimento ou à descrença na Justiça.

Segundo a advogada Akemi Kamimura, especialista em Direitos Humanos pela Universidade de São Paulo (USP), uma resposta jurídica não é o suficiente para dar conta da instabilidade sócio-econômica que a família vive por conseqüência da perda e muito menos para rompimento do ciclo de violência.

O ideal para amparo dos familiares seria o atendimento integral pautado em direitos humanos, com assistência jurídica, social e psicológica. ?Relembrar a perda não é fácil. Entretanto, essa ferida continua e precisa ser cuidada.

O ?esquecer? pode dificultar o exercício dos direitos da vítima, já que ela não quer lidar
com os fatos, e com isso não buscará informações sobre o inquérito penal, dificilmente testemunhará e acompanhará o julgamento, não pedirá indenização pelos danos sofridos, e pode até aumentar a descrença na justiça e a sensação de impunidade?, afirmou.
De acordo com a advogada, os familiares de vítimas de crimes fatais têm o direito de obter informações sobre o inquérito policial e o processo criminal; direito de receber informações sobre a violação e todos os mecanismos de reparação; direito de proteção e segurança em casos de ameaça; direito de solicitar indenização pelos danos sofridos;
direito à assistência médica, social, psicológica e jurídica.(LC)

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