Mulher questiona abordagem policial que matou seu filho

Confronto ou execução? Essa é a pergunta que a polícia terá que responder para elucidar a morte de Felipe Osvaldo da Guarda dos Santos, 19 anos, que aconteceu no início da madrugada de ontem, no Umbará. O rapaz foi atingido no pescoço, virilha e peito por tiros de pistolas ponto 40. A Polícia Militar alega que o rapaz reagiu a tiros à abordagem. Por outro lado, a família conta que há um mês Felipe, seus amigos e familiares vêm sendo perseguidos por policiais militares lotados no 13.º Batalhão.

No sábado à noite, o rapaz tinha ido a uma festa na Rua Cristóvão Colombo, no Umbará. Todos se divertiram e, no início da madrugada, Felipe deixou a festa com o carro da mãe, para levar o celular para um amigo. Porém, antes de chegar ao destino, deparou com os policiais.

Na ocorrência registrada na PM, consta que os policiais viram um carro, com alerta de roubo, trafegando pela Rua Nicola Pelanda e tentaram a abordagem, mas o condutor apontou um revólver calibre 38, dando início ao confronto.

O detalhe é que o veículo era o Gol, ano 99, quatro portas, placa ATK-3856, que pertence à mãe de Felipe, Josane da Guarda dos Santos, e não tem registro de roubo.

Denúncia

Uma garota, de 15 anos, contou que viu o momento da abordagem. ?O Felipe estava dentro do carro. Os policiais da viatura 5784 da Rotam chegaram e o abordaram. Ele colocou as mãos na cabeça e, mesmo assim, encheram o Felipe de tiros?, relatou a garota. A adolescente estava muito nervosa.

?Foi horrível. Os policiais ainda apontaram a arma para outras pessoas, ordenaram que entrassem para suas casas e ameaçaram todos?, ressaltou a menina.

A mãe de Felipe, Josane, grávida de quatro meses, informou que, depois de matarem seu filho, os policiais foram até sua casa, no mesmo bairro. ?Eles avisaram que meu filho estava morto, mas que iriam voltar para matar mais gente?, denunciou a mulher. Segundo ela, o corpo estava dentro de outra viatura, que levou o rapaz para o hospital, onde chegou sem vida. De acordo com a família, uma terceira viatura teria entregue, na Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), o Gol, que foi batido, e o revólver calibre 38, que supostamente estaria com Felipe. O veículo chegou na DFRV sem o som. A família alega que o equipamento foi retirado pelos policiais.

Silêncio

Ontem, a reportagem da Tribuna procurou o 13.º Batalhão da PM, para que a polícia pudesse fornecer sua versão do que aconteceu durante a madrugada. A versão da PM é de que a abordagem ocorreu porque o veículo da mãe do jovem tinha queixa de roubo.

Comunidade amedrontada

As ameaças da polícia contra Felipe começaram há um mês, quando ele deixou o Centro de Triagem II, em Piraquara, onde estava preso sob a acusação de roubo. Quando retornou para casa, a vida de sua família se transformou em um inferno, conforme relatou Josane, mãe do rapaz. ?Os PMs começaram a perseguir meu filho e avisaram que iriam matá-lo?, disse. Segundo ela, as ameaças eram contra toda a família.

A mulher disse que policiais militares foram até a sua casa à procura de Felipe. Josane alegou que não sabia por onde o filho andava. Porém seu celular tocou e ela não atendeu a ligação. Os PMs desconfiaram e ordenaram que ela erguesse sua blusa. Em seguida, pegaram o telefone e viram que a ligação era do jovem. Irritados, os policiais teriam batido na cabeça de Josane com o aparelho. Na sexta-feira, os PMs encontraram o pai do rapaz, Osvaldo dos Santos, que estava com a filha, de 10 anos. Os policiais teriam avisado que iriam tirar a vida de Felipe e os próximos seriam os familiares do rapaz.

Na tarde de ontem, moradores do Umbará entraram em contato com a Tribuna para avisar que a casa da família de Felipe estava cercada por viaturas da Polícia Militar. A reportagem foi até o local e viu uma única viatura, que só observou os moradores criticando a atitude policial.

Populares pediam para que a reportagem fosse até a casa de Felipe, onde estavam as viaturas 6968, 6969 e 9507. Assim que a reportagem chegou, João Francisco Ferreira disse: ?Eles acabaram de sair?. ?Eles apontaram a arma para mim?, contou Marlene do Amaral. ?Vieram aqui ameaçar que vão matar mais gente?, disse uma jovem. Um outro rapaz, que é amigo da família, disse que a PM proibiu os amigos de irem ao velório, sob ameaça de morte. ?Eles queriam saber onde o corpo do meu filho iria ser velado e ficaram rindo?, comentou Osvaldo, pai de Felipe.

Versão

Policiais do 13.º Batalhão garantiram que nenhuma viatura esteve no Umbará ontem à tarde. A informação era de que todas as viaturas estavam mobilizadas para garantir a segurança de duas partidas de futebol entre Atlético e Engenheiro Beltrão, e Paraná e Rio Branco.

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