Menor apavora motoristas de Tamandaré

Com apenas 14 anos, C.T.N. já é considerado o terror dos motoristas de ônibus que fazem a linha de Almirante Tamandaré. Ele é apontado como autor do disparo que atingiu um motorista no dia 7 de outubro. O menino chegou a trocar tiros com policiais do serviço reservado e foi apreendido, mas duas horas depois de chegar na delegacia de Almirante Tamandaré, saiu de mãos dadas com a mãe e foi para casa. "Já está assaltando de novo. O que é preciso? Matar alguém?", indaga João Carlos Mesquita, diretor do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc), que ameaça paralisar os coletivos se prevalecer a falta de segurança.

Ele conta que na maioria dos roubos contra ônibus, os autores são menores e viciados em drogas. "Eles atiram sem medo. Ainda chamam o motorista de vagabundo". Segundo ele, a situação é crítica no município em todas as linhas de ônibus. Só este ano, foram registrados 356 roubos, ou seja, mais de um por dia. Na linha Prado, onde o garoto de 14 anos pratica roubos, foram 61 assaltos. "Os trabalhadores não podem ficar na mira de pistolas por causa desses garotinhos", diz. Mesquita ameaça parar todos os ônibus de Almirante Tamandaré, caso as autoridades, não tomem providências. "O delegado diz que menores não podem ficar na delegacia. Então tem que achar um local para estes marginais".

Ousadia

A ousadia dos marginais é tanta que eles chegam a telefonar para a casa de motoristas e cobradores para ameaçarem, caso sejam denunciados. O cobrador Adair Antônio de Souza, 48 anos, já passou por esta situação. "Roubaram o ônibus e não sei como conseguiram o telefone da minha casa. Além do terror que passei no momento do assalto, começaram a ameaçar minha família". Ele conta que já foi roubado 28 vezes.

Uma das queixas dos motoristas e cobradores é que além de roubarem o dinheiro das passagens, os bandidos ainda se apossam de seus pertences como carteiras contendo documentos, dinheiro e relógio. "O pior é que eles levam os documentos e o motorista não pode trabalhar sem habilitação. Estamos tentando resolver esta situação", explica o presidente do Sindimoc.

Mas a maior revolta dos homens do volante é que o menor nem sequer ficou um dia na delegacia. O superintendente Leodir, da DP de Almirante Tamandaré, explica que o Estatuto da Criança e do Adolescente não permite a apreensão de menores de 14 anos. Ele informa que o caso foi acompanhado pelo delegado Marcelo Lemos de Toledo, e que não sabe mais detalhes do que está sendo feito. Ontem, o delegado não foi encontrado porque estava reunido com seus superiores.

Bala no ouvido

Com mais de vinte anos de profissão, o motorista Ivo Carstensen, 52, foi vítima de assaltantes 23 vezes, mas a pior delas ocorreu às 15h do dia 7 de outubro, na Vila Prado. "Haviam três rapazes, um deles era esse menor, com arma em punho. Eles queriam assaltar o ônibus, mas como vi e não parei no ponto, eles atiraram", relata Ivo, que foi atingido no ouvido. Mesmo ferido, ele ainda dirigiu o ônibus por mais alguns quilômetros, até ser socorrido.

Devido ao atentado, o motorista está afastado de suas funções e o projétil alojado no ouvido. Ivo reconheceu o garoto quando foi detido pelos policiais militares e lamentou o fato do menor ficar impune. "Ele quase me matou. Também poderia ter atingido qualquer pessoa que estava no ônibus e não acontece nada", lamenta.

O mesmo garoto, junto com seus colegas, talvez alguns anos mais velhos, já tinham atacado o motorista Antônio Pereira, às 8h30 do mesmo dia, levando R$ 69,00 da caixa coletora. "Inclusive, eles passaram a mão no peito da cobradora, que não pôde fazer nada", conta Antônio, que já foi vítima de ladrões 34 vezes. "Na hora que saíram ainda deram um tiro para cima", lembra, ao reclamar que "a lei tem que mudar. Eles fazem o que querem e nada acontece". Segundo ele, até os passageiros já estão se acostumando com os roubos. "Ninguém fica na frente, perto do motorista e do cobrador. Os passageiros vão logo para o fundo do ônibus e quando passamos nos lugares críticos, onde os marginais atacam, eles se abaixam. Já sabem que eles atiram contra o ônibus mesmo". Seu colega, Flávio Pereira da Silva, 35, já foi assaltado dez vezes nos últimos três meses, também na Vila Prado.

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