Marido é suspeito de esganar a mulher e simular suicídio

O laudo técnico da polícia mudou o rumo de um aparente caso de suicídio e levou o marido da vítima à prisão. Jucimara do Rocio Borges, 23 anos, dona-de-casa, foi encontrada morta pela polícia às 19h30 de sábado, no interior da residência que dividia com o marido Rafael Souza Poliquezi, da mesma idade, e o filho do casal, de 6, na Rua Ângelo Piotto, Cidade Industrial. Ela teria se enforcado com um lençol, mas algumas pistas no local do crime e a constatação de que ela foi morta por esganadura transformaram o marido em suspeito de assassinato.

A polícia foi comunicada da morte pelo próprio Rafael e encontrou o corpo de Jucimara no sofá da residência. O marido contou que teve uma violenta discussão com a mulher no início da tarde de sábado, e que, às 15h40, foi com o filho a uma festa religiosa. Ao voltar, por volta das 18h15, teria encontrado a esposa pendurada por um lençol amarrado no pescoço e preso a uma viga da lavanderia da casa. “Minha primeira reação foi tirá-la dali e ver se respirava. Como já estava morta, liguei para a minha família e para a polícia”, falou Rafael, que trabalha como emissor de passagens numa agência de turismo.

Dúvidas

Na análise pericial, a polícia pôs em dúvida a versão de suicídio. “Alguns indícios apontaram possível alteração do local do crime”, disse o investigador Sérgio, da Delegacia de Homicídios. Segundo o policial, o nó no lençol estava frouxo, o que não aconteceria com a pressão do peso do corpo num caso de enforcamento. Jucimara apresentava ainda ferimentos provavelmente feitos com unha no pescoço, e a disposição de objetos no chão da lavanderia não era compatível com a tentativa de socorro. “Segundo a mãe da vítima, Rafael agredia a mulher”, acrescentou Sérgio.

Diante das suspeitas, o marido foi levado à DH, ainda como testemunha da morte. “Quando o médico legista apontou que ela foi esganada (asfixiada com uso das mãos), o prendemos. Foi um raro caso de flagrante puramente técnico, já que não havia testemunhas nem confissão”, falou o investigador.

Álibi

Rafael viveu com esposa durante cinco anos e, há quatro meses estavam em processo de separação. Segundo ele, Jucimara era muito ciumenta e já comentara sobre a hipótese de pôr fim à própria vida. O suspeito alega que o filho foi arrumado pela mãe e a viu com vida quando saíram para ir à festa. “Não matei minha mulher. Ela falou até para a mãe dela que não queria mais viver, mas não acreditávamos”, afirmou.

A DH não permitiu a reprodução da imagem de Rafael, que não tinha passagem pela polícia e permanecia detido até o início da tarde de ontem.

Violência tem aumentado

A novela Mulheres Apaixonadas, escrita por Manoel Carlos, trouxe à tona um grave problema social não apenas brasileiro, mas mundial: a violência contra a mulher. Muitas das situações vivenciadas pelas personagens da ficção fazem parte da vida real de milhares de mulheres em diversos países.

É difícil obter dados precisos sobre os casos de violência contra as mulheres, pois muitas delas escondem que são agredidas. Entretanto, uma pesquisa realizada em 1999 revelou que, na América Latina e no Caribe, entre 25% e 50% das mulheres existentes eram vítimas de violência doméstica e 45% objeto de ameaça ou insulto. Em Curitiba, na Delegacia da Mulher, são feitos cerca de quatrocentos atendimentos por mês. Do início desse ano até o mês de agosto, 3219 mulheres procuraram a delegacia, mas apenas 2183 registraram queixa contra os agressores.

Segundo definição elaborada durante a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, realizada no ano de 1994, é considerada violência “qualquer ação ou conduta baseada no gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público quanto privado”.

Marido

Na maioria das vezes, a violência é praticada pelo marido ou companheiro. Porém, existem casos de agressões de pais ou padrastos contra filhas e irmãos contra irmãs. A violência que mais aparece é a que ocorre dentro das classes média e baixa, mas ela também está presente nas classes mais altas. “As mulheres de classe alta denunciam menos os seus agressores porque costumam se preocupar mais com as aparências. Elas têm medo de escândalos e de que as pessoas a condenem”, comenta a delegada titular da Delegacia da Mulher da capital, Darli Rafael.

Segundo Darli, a sociedade é extremamente machista e muitas vezes a mulher é incentivada pelos próprios familiares a agüentar calada as agressões do marido. “Ainda é muito comum as mulheres escutarem que já que casaram devem agüentar o companheiro que escolheram ou que é melhor ter um marido agressor do que não ter nenhum”, comenta. “Muitas também se calam porque dependem financeiramente do homem ou por causa dos filhos. Ao longo da história, a sociedade sempre se posicionou contra a mulher e a favor dos filhos. As pessoas não condenam o homem e são opressoras da mulher.”

A violência, seja ela física, moral, psicológica ou social, afeta toda a vida da mulher. A vítima normalmente se sente abalada emocionalmente, evita o convívio social e não consegue desenvolver uma carreira profissional de sucesso. Muitas vezes, devido a hematomas visíveis ou problemas internos, que as impedem de andar ou impõem dificuldades para respirar, elas se vêem obrigadas a faltar ao trabalho e acabam sendo demitidas.

Penas insignificantes

Todos os crimes praticados contra a figura feminina, com exceção dos crimes sexuais, são tratado conforme a Lei 1999/95 dos juizados especiais criminais em vigor, que cuida dos crimes de pequeno porte ofensivo.

“As penas aplicadas atualmente no Brasil são insignificantes diante da gravidade praticada contra a família”, diz Darli. “Elas são tão pequenas que acabam incentivando o deboche e o descaso do agressor em relação à vítima, à Justiça e à polícia.”

A Delegacia da Mulher de Curitiba está localizada na rua Carlos Cavalcanti, 400, centro. O telefone de lá é o (41) 223-5323.

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