Operação São Francisco

Maior traficante de aves do Brasil é preso no Paraná

Depois de cumprir 29 mandados de prisão expedidos pela Vara Ambiental da Justiça Federal de Curitiba e deter outras seis pessoas em flagrante, na manhã de ontem, policiais federais apreenderam mais de 10 mil animais silvestres mantidos ilegalmente em cativeiros no Paraná, São Paulo, Santa Catarina e na região metropolitana de Amsterdam, na Holanda, com apoio da Interpol.

A Operação São Francisco é resultado de oito meses de investigação da Polícia Federal (PF) e desarticulou a principal quadrilha de tráfico de animais do Brasil para a Europa, também responsável pela receptação de animais de várias partes do mundo. Foram 205 policiais envolvidos.

O líder da quadrilha, Márcio Rodrigues, foi preso em São José dos Pinhais. Ele assumiu o comando da organização criminosa depois que seu irmão foi preso durante a Operação Oxóssi, também da PF, em 2008.

Desde 2005, de acordo com o delegado Rubens Lopes da Silva, chefe da Delegacia de Repressão a Crimes Ambientais da PF, a quadrilha construiu um império sob comando dele.

Márcio é proprietário de uma chácara no bairro Borda do Campo onde realizava a cada 15 dias um leilão de animais de espécies exóticas, algumas até criadas através do cruzamento entre espécies diferentes. O lucro mínimo em cada leilão era de R$ 500 mil.

Os animais expostos na chácara eram bem tratados, já que eram valiosos (uma Arara Azul, no mercado negro, chega a custar R$150 mil). Contudo, no transporte feito através de “mulas”, de cada dez animais, apenas um sobrevivia. No Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, uma dessas pessoas que transportava os ovos dos animais em uma blusa foi presa.

Para “lavar” o dinheiro movimentado com a venda dos animais, a quadrilha utilizava duas empresas, uma delas sob comando das irmãs de Márcio, além de bicheiros que também foram presos. A organização também adulterava as anilhas de certificação de origem dos animais, concedida pelo Ibama.

Ainda foi detido na operação o comandante do policiamento no interior da PM, coronel Sérgio Filardo, acusado de usar a influência para alterar dados de processos contra integrantes da quadrilha de Márcio.

Também foram presos o diretor de controle de recursos ambientais do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Harry Teles, e o diretor de fiscalização do IAP, Jackson Luiz Vosgerau, acusados de fazer “vistas grossas” à ação criminosa.

Outro funcionário público detido foi Sérgio Busato, assessor de um conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, que atuaria como criador amador e comprava aves de Márcio. “Ainda estamos delimitando a participação de todos os funcionários públicos envolvidos”, explica o delegado.

Foram cumpridos 42 mandados de busca e apreensão. Os animais apreendidos estão em centros de triagem e é estudada a possibilidade de repatriá-los. Foi decretado o sequestro dos bens dos acusados e das empresas envolvidas na organização. Os presos respondem por receptação, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, falsificação de sinais públicos e tráfico de influência.