Julgamento do Caso Zanella entra no 2.º dia

O segundo dia do julgamento dos acusados pelo assassinato do jovem Rafael Rodrigo Zanella, ocorrido em 1997, no bairro de Santa Felicidade, começa hoje, às 9 horas, no Tribunal do Júri. Serão ouvidas a testemunha de acusação, Elizabetha Zanella, e outra em defesa de Airton Adonski Júnior, 32, um dos acusados.

O júri é presidido pelo juiz Ronaldo Sansoni (atualmente titular da 2.ª Vara Criminal de Curitiba). Excepcionalmente, Sansoni atua neste julgamento, porque o juiz Fernando Moraes, titular da Vara, se deu por impedido. Na acusação, está o promotor Cássio Roberto Chastallo e, na defesa, Cláudio Dalledone Júnior (advogado de Adonski) e Antônio Augusto Figueiredo Bastos, defensor do outro acusado do crime, Reinaldo Siduovski, 36.

Os ex-investigadores da Polícia Civil, acusados de envolvimento no assassinato do estudante Rafael Zanella, 20 anos, no dia 28 de maio de 1997, durante uma operação policial desastrosa, na Rua João Reffo, em Santa Felicidade, começaram a ser julgados ontem. Em depoimento emocionado, os réus acusaram de forma direta o delegado Maurício Fowler, que comandou a operação na época. Adonski lamentou ainda que o advogado G.V.D.*i, que em 1997 era estudante de Direito, não foi punido. Segundo ele, foi G.V.D.* quem motivou a operação para prender supostos traficantes e também foi o estudante que fez a abordagem junto com o alcagüeta Almiro Beni Schimit, que já foi julgado pelo crime e condenado a 21 anos e 4 meses de reclusão. G.V.D.*não foi acusado do homicídio e seu processo foi suspenso. O outro policial, Jorge Élcio Bressan, recorreu à pronúncia do juiz em 1.º grau e o Tribunal de Justiça decidiu não mandá-lo a julgamento.

“O Adonski está há oito anos aguardando um julgamento justo”, afirmou o advogado do policial Cláudio Dalledone Júnior. Ele lembrou que o ex-policial já foi julgado logo após o crime e condenado a 38 anos de reclusão. Na época, o defensor de Adonski foi o advogado Edson Stadler.

“Comecei a atuar no caso na apelação. Recorremos ao Tribunal de Justiça e os desembargadores entenderam que o corpo de jurados decidiu contrário à prova dos autos. Nós queremos hoje a decretação do que foi declarado pelo poder Judiciário do Paraná”, completou Dalledone. O advogado disse que “um dos pontos absurdos é que somente o Adonski, o Siduovski e o Almiro estão pagando pelo crime”. Ele lembrou que não cabe recursos à decisão do corpo de jurados.

No cárcere

Já o advogado Antônio Augusto Figueiredo Bastos, que defende Siduovski, disse que a emoção do seu cliente se deve ao cárcere. “É muito duro passar todo este tempo na prisão. Mas acredito que o veredito será pela absolvição.” O advogado deplora a demora pelo julgamento dos réus. “É um descompasso grande, que vem se dando. Os mais pobres pagam com o cárcere. Outros réus, com recursos financeiros, tiveram tratamento diferenciado. É a parte mais fraca que está pagando pelo crime”, lamentou o advogado ao considerar que “o fato serve como uma lição à sociedade, porque a Justiça tem que ser equilibrada para todos”.

A leitura dos 26 volumes do processo teve início às 14 horas e se estendeu até às 20h de ontem. A sentença é esperada para este sábado.

Crime com tiro na janela do carro e cena ?produzida?

No dia do crime, após o estudante G.V.D.* ter dado a notícia de que um traficante conhecido como “Camarão” estaria comercializando drogas no Jardim Pinheiro, ele acompanhou os policiais Adonski, Reinaldo e Bressan, todos lotados no 12.º Distrito (Santa Felicidade) até o local para fazer a abordagem, junto com o alcagüeta Almiro.

Segundo a acusação, G.V.D.* se intitulou policial e, de arma em punho, fez a abordagem determinando que o veículo, que era conduzido por Rafael Zanella, parasse. Em seguida, Almiro e Reinaldo se aproximaram e Almiro efetuou um disparo, atingindo fatalmente Rafael. Bressan estava a 50 metros do local da abordagem e Adonski dava cobertura à investigação, ficando a mais de 100 metros de distância. Após o disparo, todos se aproximaram e avisaram por telefone o delegado Maurício Fowler. Após a chegada do delegado, os policiais forjaram que Rafael e mais três amigos haviam reagido à prisão, inclusive prendendo os colegas do rapaz. Na cueca de Rafael foi colocada uma pequena quantidade de maconha e, em sua mão, uma arma.

A farsa foi descoberta no dia seguinte, porque o vidro do carro estava estraçalhado, indicando que não houve reação por parte da vítima, porque a janela estaria fechada no momento do disparo. Poucas horas depois, a Secretaria de Segurança Pública afastou os acusados do crime de suas funções.

* O nome foi omitido para preservar a identidade do estudante.

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