Insistência na Delegacia muda quadro de indiferença

A engenheira florestal Célia Maria Maia perdeu as contas de quantas vezes foi à Delegacia de Homicídios de Curitiba. E de quantas saiu de lá chorando: “Parecia que eu falava com paredes”. A primeira ida foi em 4 de outubro de 2010, três dias após o filho Matheus Hoepers, de 17 anos, ter sido morto no bairro Uberaba. Célia não tinha ideia do que pudesse ter ocorrido e achou que na delegacia encontraria respostas. Para sua surpresa, os policiais nem sabiam do crime.

“O descaso chegou a me apavorar. Pior do que o criminoso, o que mais fere a gente é a impunidade.” As dúvidas sobre o motivo do crime fizeram com que ela começasse a ir semanalmente à delegacia. E a vontade de manter a dignidade do filho faria com que ela não desistisse diante da indiferença de muitos.

Aos poucos, as investigações foram avançando. A polícia coletou as imagens de uma câmera de segurança que mostravam uma Ecosport se aproximando de Matheus e de onde partiram os disparos. Em janeiro de 2011, a Justiça decretou a prisão de uma suspeita, uma mulher que teve um relacionamento anterior com o pai de Matheus e que negou o crime.

Mas chegou um momento em que as investigações emperraram. A suspeita foi solta em seguida e os materiais apreendidos com ela levaram meses para serem periciados. Também houve troca de pessoal e outro delegado assumiu o caso. Célia ficou desesperada. “Eu entendo que uma investigação não é como comprar pão numa padaria, que você chega no balcão, pede e vai embora. Mas ela também não pode ficar parada, tem que ter empenho”, suplica a mãe.

Faixas

Após ouvir várias vezes que “faltavam braços” para a investigação, a mãe resolveu ir ela mesma em busca de pistas que pudessem ser levadas prontas à polícia. Colocou faixas pelas ruas com seus números de telefone e criou um blog pedindo para que quem soubesse de algo entrasse em contato. Ela também enviou as imagens da câmera de segurança para os Estados Unidos na tentativa de identificar a placa da Ecosport.

As faixas repercutiram na imprensa e Célia recebeu uma ligação inesperada. “No outro dia me ligaram da delegacia dizendo que meu caso seria retomado. Eles nunca tinham me ligado.” O computador e o celular apreendidos em janeiro com a suspeita foram então periciados. Outra descoberta foi que um homem próximo à suspeita havia recebido ligações de pessoas que estavam perto do local do crime. A investigação ganhava um norte.

Após oitivas de diversas testemunhas e um inquérito de mais de 800 páginas, as investigações foram concluídas com o pedido para que quatro pessoas fossem denunciadas à Justiça. O pedido foi acatado pelo Ministério Público. O Judiciário, no entanto, só aceitou o indiciamento de um deles. O caso seguiu para o Tribunal do Júri e agora está na fase de oitiva das testemunhas.