Favela do Parolin amanhece ocupada por 700 policiais

O amanhecer de ontem foi diferente na Vila Parolin. 700 policiais civis e militares ocupando 200 viaturas, 60 motocicletas e cavalos cercaram o bairro e bloquearam as ruas de acesso, dando continuidade à proposta do governo estadual em realizar megaoperações com o objetivo de inibir o índice de criminalidade em regiões consideradas perigosas da capital. A operação denominada "Alvo 2-Parolin" teve início às 6h e não tem prazo estipulado para acabar. Ela seguirá os mesmos moldes da operação realizada na Vila das Torres, ocorrida no final de fevereiro desse ano. Um helicóptero também foi utilizado para monitoramento das ações policiais que aconteciam em terra. Durante as primeiras horas da blitz, todos os 26 mandados de busca e apreensão emitidos pela Justiça foram cumpridos.

Para o delegado-geral da Polícia Civil, Jorge Azôr Pinto, o mais importante dessas operações de grande porte é levantar informações para o setor de inteligência das polícias Civil e Militar para ações futuras e fazer com que os moradores acreditem na polícia e comecem a cooperar, denunciando crimes e criminosos. Sobre o pequeno número de prisões realizadas pelo efetivo policial – em comparação à grandiosidade do esquema montado – Azôr afirmou que a intenção não é a prisão de grandes traficantes, mas levar à população a certeza de que a polícia está presente. E isso realmente era possível constatar. Em cada quadra e viela do Parolin via-se policiais civis e militares circulando.

Por volta das 10h, o trânsito na principal via que corta a região (Rua Brigadeiro Franco) foi liberado, mas na saída da vila um bloqueio foi feito pelo Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) para verificar irregularidades em veículos.

Continuidade

Conforme o major Irineu Ozires, comandante do 13.º Batalhão da PM, a operação irá continuar pelos próximos dias com o patrulhamento nas ruas e a abordagem aos suspeitos. Durante o período da tarde a vila estava calma e o efetivo foi reduzido para 386 policiais. Segundo o major Renato, também do 13.º BPM, os policiais estarão presentes nas ruas 24 horas, porém à noite ele acredita que tudo ocorrerá de forma ainda mais tranqüila. "É como jogar um gato dentro de uma caixa cheia de ratos. Eles ficam escondidos, sem se manifestar", metaforiza o major.

Nos próximos dias a megaoperação também será composta por ações sociais, que ainda serão definidas. Entre elas estão previstos atendimentos odontológicos aos moradores. "Nosso objetivo também é a inclusão social, pois 90% dos moradores da Vila Parolin são trabalhadores, pessoas de bem que estão desassistidas socialmente", finaliza o major.

População reage bem à ocupação policial

"Foi bom acordar e ver a polícia nas ruas. Tomara que façam isso mais vezes". Essa foi a frase mais repetida por moradores da Vila Parolin ao serem indagados sobre a presença de policiais civis e militares no bairro. Muitos dos entrevistados, porém, preferiram ficar no anonimato, devido a violência que está associada à vila porque temem que qualquer manifestação se transforme em represália. O Parolin é considerada uma das regiões mais violentas da capital paranaense, principalmente devido a presença do tráfico de drogas que, indiretamente, faz com que roubos e furtos também sejam cometidos com freqüência. O número de pessoas feridas e mortas em função dessa criminalidade também assusta os moradores. Diante de tanta insegurança, explica-se a euforia da população ao ver o policiamento na rua.

O catador de papel, Adenuso Marcondes, apesar de todas as dificuldades que passa, quando perguntado qual o principal problema a ser enfrentado na Vila Parolin, ele não hesita em responder: a insegurança. "As ruas são escuras e todas as noites ouvimos tiros por aqui", diz.

Para o presidente da Associação dos Moradores da Vila Guaíra e Parolin, Edson Pereira Rodrigues, a presença da polícia é bem vinda desde que faça o seu trabalho: prendendo bandidos, mas sem importunar as famílias trabalhadoras da região. "Mais de 80% dos moradores daqui são honestos e trabalhadores. Mas sempre existem os que estragam. Toda uma comunidade não pode pagar por poucos", afirma o presidente, contestando o estigma de que a região é formada por marginais.

Social

Segundo dados da associação, a Vila do Parolin é formada por 4 mil famílias que convivem esquecidas pelo poder público. O bairro não progride principalmente por falta de segurança e infra-estrutura. Edson diz que nenhum comércio se estabelece na região devido aos assaltos constantes e que isso não atrai investimentos e empregos. Para ele, a violência está diretamente associada à falta de infra-estrutura na vila. "Não temos creche e apenas uma escola. As crianças e adolescentes passam mais tempo na rua e se envolvem com a criminalidade", afirma, mostrando que a quadra de areia da associação é o único ponto de recreação dos adolescentes. A grande presença de crianças em idade escolar que foram vistas pela reportagem vagando pelas ruas comprova o testemunho de Edson. "Muitas delas vão para bairros adjacentes pedir esmola e até roubar em sinaleiros", lamenta .

Sem infra-estrutura e sem empregos

A violência espanta comerciantes da Vila Parolin e, conseqüentemente, não há empregos para quem reside na região. A maioria dos trabalhadores sobrevive desenvolvendo a atividade de carrinheiro – aproximadamente 80%, segundo dados da Associação dos Moradores. Na localidade existem 32 depósitos que compram o material recolhido diariamente pelos carrinheiros, tornando-se a principal economia do bairro.

Um desses carrinheiros é Adenuso Marcondes, 21 anos. Casado e pai de dois filhos, ele mora há 5 anos na vila e sustenta sua família catando papel, alumínio e plástico. Costuma ganhar aproximadamente R$ 20,00 por dia, para um trabalho árduo. Coleta quinquilharias durante a tarde e noite e, pela manhã, separa o material recolhido.

Dificuldades

O casebre onde vive Adenuso é igual a grande parte das moradias existentes na vila. Construída de madeira, com algumas frestras, a casa comporta quarto, sala e cozinha em um único cômoda. A energia elétrica chega através de extensões de fios ("gatos") que "roubam" eletricidade de fiações pública. Os "gatos" podem ser vistos por toda a favela. Para desfrutar do uso de água, os moradores também improvisam. Vários canos de PVC, dispostos rusticamente pela vila, captam de forma irregular o abastecimento de água da Sanepar.

Todo o desconforto vivido na favela é resumido em uma frase do carrinheiro. "Pelo menos não pagamos nada".

Reclamações

Apesar do trabalho policial ser respaldado por mandados judiciais, moradores que tiveram suas casas vistoriadas reclamaram da operação realizada na Vila Parolin. Uma das pessoas detidas foi Maria de Fátima Mendes, 46 anos, que teve sua casa revistada. Somente ela, o marido e uma filha adolescente estavam na moradia, mas a polícia agiu com brutalidade, conforme Maria. "Bateram na porta de casa, entraram e saíram destruindo tudo. Derrubaram comida e roupas enquanto procuravam não sei o quê", relatou. Ela foi detida e saiu algemada de sua moradia em direção ao 2.º DP, mesmo negando qualquer problema com a polícia. Familiares e vizinhos dela reclamaram da maneira como foi feita a revista pelos policias. "Crianças foram revistadas. Isso é um absurdo", reclamou uma mãe.

Para a polícia nenhum incidente sério havia sido registrado até o final da manhã. Sobre eventuais excessos cometidos pela polícia, o delegado geral, Jorge Azôr Pinto, afirmou que as ações de busca e apreensão foram respaldadas pela Justiça.

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