Estourada central telefônica da Penitenciária Central

Uma grande quadrilha especializada em assaltos e tráfico de drogas – e envolvimento com a facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) – pode estar sendo desmantelada pela polícia. Na tarde de ontem, investigadores de Almirante Tamandaré descobriram uma central de escuta telefônica clandestina em uma humilde casa no bairro Fazendinha. Segundo a polícia, a central servia para a comunicação entre presos da Penitenciária Central do Estado e outros marginais para combinar assaltos e transações com drogas em Curitiba e Região Metropolitana. A Central estava conectada com quadrilhas nos Estados de São Paulo, Mato Groso do Sul e Rio de Janeiro.

Além da apreensão do material de escuta telefônica, a operação resultou na prisão de Rosângela Albino, 23 anos, que seria responsável pelo atendimento das liga-ções. Com ela foi apreendida uma agenda com vários números de telefones que possivelmente estão ligados ao crime organizado.

PCC

A investigação da polícia sobre esse caso vinha acontecendo há mais de um mês e, através dela, sete pessoas já foram presas entre assaltantes e traficantes de drogas e três grandes assaltos foram impedidos de ser praticados. O que mais impressionou a polícia na investigação foi o alto grau de organização do grupo de marginais. Segundo o delegado Germino Marques Bonfim, a quadrilha tem o seu comando na Penitenciária Central, em Piraquara. “Através de telefones celulares, presos da PCE entravam em contato com a central telefônica que repassava informações para marginais em liberdade. Eles se organizavam e vinham assaltar aqui em Curitiba. Esse esquema envolve pessoal do PCC”, contou o delegado.

Germino acredita que a quadrilha recruta bandidos de outros Estados, principalmente São Paulo, para golpes em Curitiba e Região Metropolitana. “Eles trazem armamentos, fazem assaltos e voltam para sua cidade de origem”, explicou.

Organização

Os investigadores contaram que o comandante das operações dentro da PCE é um homem conhecido por “Meia-Noite” e que foi identificado como Fábio Carlos Martins, membro integrante do PCC. Rosângela, que foi presa ontem juntamente com a escuta telefônica, seria namorada de “Meia-Noite” e responsável pelos contatos dele com outras quadrilhas para a execução de assaltos.

As duas linhas telefônicas identificadas pela polícia foram instaladas na casa há aproximadamente 20 dias. “Quem organizou a instalação seria uma advogada de São Paulo, conhecida como dra. Rúbia”, esclareceu o investigador Mesquita. O delegado Germino informou que entrará em contato com a polícia paulista solicitando mais dados sobre a suposta advogada. “Cremos que pode se tratar da advogada do PCC, conhecida por Keyla Cristina”, disse o delegado.

A polícia acredita que a descoberta de ontem foi apenas uma pequena ramificação das operações realizadas pela quadrilha. Na agenda telefônica de Rosângela foram encontrados vários números de aparelhos celulares de pessoas de outros Estados além de comunicação em códigos.

Revista em advogados divide opiniões

Rosângela Oliveira

O presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu, esta semana, que os advogados deveriam ser revistados na entrada dos presídios, igual a todas as demais pessoas que entram nesses locais. A ação viria a inibir que aparelhos celulares, entre outros objetos, sejam entregues aos dententos, evitando que os presídios se transformem em `escritórios do crime organizado`. A medida divide as opiniões da classe.

Para o advogado e membro dos conselhos Nacional de Política Criminal e Penitenciária e Penitenciário do Estado do Paraná, Maurício Kuehne, a ação fere as garantias do exercício profissional, uma vez que o advogado tem direito de conversar reservadamente com o cliente. Ele defende que os presídios devem ser equipados como os detectores de metais para identificar a presença de celulares ou armas. Mas Kuehne diz que a medida seria mais simples se o preso fosse revistado depois da conversa com o advogado. `Eu fui diretor da Colônia Penal e isso funcionava bem, pois quando havia uma suspeita, o preso seguia para o setor de segurança para a revista`, comentou.

A mesma opinião tem o advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil, Dalio Zippin Filho. Segundo ele, as próprias visitas são violadas em seus direitos quando passam pelas revistas. `As mulheres precisam fazer até toque vaginal e dificilmente é utilizada uma luva para cada mulher`, comentou. Ele disse que não irá aceitar a medida se ela for imposta, pois entende que estarão discriminando uma categoria para mostrar a incompentência de quem administra os presídios. `Por que não revistam também o diretor e funcionários dos presídios, ou o juiz e promotor que entram lá?`, questionou.

Já o advogado, ex-promotor e ex-secretário da Justiça do Paraná, Ronaldo Botelho, diz respeitar a opinião dos colegas, mas não acha nenhum incoveniente nas revistas aos advogados. `Eu sempre pedi para ser revistado quando fui aos presídios, e não vejo nenhum mal nisso`, afirmou. Ele disse que sabe do caso de um advogado que esqueceu que estava armado e entrou no presídio. Só no interior do prédio se deu conta da situação e entregou a arma para o diretor do local. `Isso pode realmente acontecer, e o profissional pode estar sujeito a ser alvo até de um seqüestro lá dentro`, disse. Botelho também defende que a implantação de detectores de metais são formas mais eficientes de se acabar com o problema.

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