Dramas atrás de números

O Mapa da Violência 2006, divulgado ontem pela Organização dos Estados Ibero-Americanos para Educação, Ciência e Cultura (OEI), mostra que, apesar da diminuição geral nos índices de homicídios a partir do Estatuto do Desarmamento, no Brasil, em muitos estados houve aumento desses números entre os anos de 1994 e 2004.

É o caso do Paraná, que apresentou crescimento considerável dessas taxas tanto entre a população geral como em relação aos jovens.

Em 1994, o Paraná era o 16.º do Brasil em número total de homicídios. Dez anos mais tarde, passou a ocupar a 11.ª posição, com taxa de 28,1 homicídios para cada 100 mil habitantes. Entre a população jovem, passou de 18.º para 7.º estado a registrar mais homicídios, alcançando em 2004 taxa de 59,9 homicídios. Dentre as capitais, Curitiba saltou de 20.ª do país em número de homicídios totais em 94, para 10.ª em 2004, quando atingiu taxa de 40,8, ficando à frente de São Paulo, por exemplo, em 12.º. Dentre a população jovem, a capital paranaense saiu do 21.º para o 7.º lugar (taxa de 91,9).

Drama

Porém, as estatísticas escondem dramas que afetam o dia-a-dia de centenas de famílias. Esse é o caso de Dircilene de Andrade. Um ano depois de perder o filho e a neta em uma chacina dentro de sua própria casa, em Almirante Tamandaré, ela ainda não superou o trauma daquela madrugada.

Dois adolescentes encapuzados invadiram a residência, atiraram e esfaquearam a família. O motivo, até hoje ela não sabe.

O que Dircilene entende, porém, é que se transformou em mais uma das vítimas da violência crescente nas grandes cidades. ?A gente nunca pensa que vai acontecer com a nossa família. Não tem como superar. A minha vida se transformou de uma maneira que não tem explicação.?

Por trás das estatísticas, está essa mãe que, até hoje, não consegue tocar no assunto sem dificuldade. ?Só Deus na minha vida?, resume, ao explicar como tem passado os dias.

A casa onde aconteceu a tragédia ela deixou, mudou de cidade.

Indignada, tem a certeza de que sua perda não altera muita coisa no quadro da violência urbana. ?Continua cada vez pior, esses marginais invadindo casas, matando pais de família, enxotando crianças, donas de casa?, desabafa.

Os assassinos foram presos, mas dentro de dois anos serão soltos por serem menores.

?E eu tenho medo de que voltem a fazer e façam ainda pior.?

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