Délcio Rasera deixa a cadeia após 319 dias de detenção

O policial civil Délcio Augusto Rasera deixou ontem a prisão, depois de 319 dias ainda sem uma sentença definitiva da Justiça. Acusado de promover grampos telefônicos ilegais contra autoridades, pessoas ligadas ao governo do Estado e também cidadãos comuns, o policial, que era também assessor da Casa Civil, continua respondendo a processo na Justiça, mas, agora, em liberdade.  

Trajando terno e gravata, ele saiu acompanhado dos advogados, familiares e amigos e se limitou a poucas palavras, dizendo que pretende cuidar de sua família e voltar ao trabalho.

Rasera deixou a Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV), onde ficam presos policiais em Curitiba, por volta das 16h30 de ontem. Sorridente, despediu-se dos policiais e funcionários do local e saiu pela porta da frente. Disse que confiava na Justiça, especialmente no Tribunal de Justiça do Paraná, de onde partiu a decisão favorável à sua liberdade. ?O objetivo agora é cuidar da minha família e voltar às atividades da polícia quando for designado?, afirmou.

Questionado se sentia-se vítima de uma perseguição política, recusou-se a responder. ?Sobre esse assunto não posso falar nada porque os procedimentos correm em segredo de justiça?, informou. O policial declarou-se inocente dos crimes de que é acusado e disse que vai reconstruir o que lhe foi tirado. Negou, ainda, que tenha dito alguma vez que foi abandonado pelo governo, conforme declarações publicadas na imprensa na época de sua prisão, em setembro do ano passado. ?Nunca disse isso. Aliás, alguns jornalistas imputaram a mim palavras que eu nunca disse?, acusou.

O policial não falou ainda da dor vivida ao longo dos meses que passou detido: ?Perdi minha mãe, um pai de criação, perdi meu padrinho; estou bastante arrebentado em função dessas tragédias que aconteceram nesses 319 dias que estou aqui?. Rasera também não quis falar sobre suas relações com o governo do Estado ou detalhar o que fazia na Casa Civil. ?Sou funcionário público; trabalhava na assessoria do governo para a Casa Civil?, resumiu.

Habeas corpus

Apesar do alvará de soltura emitido quando da decisão do TJ de soltar o policial, o juiz de Campo Largo, Gaspar Mattos de Araújo Filho, elaborou ainda um termo de liberdade provisória para Rasera. De acordo com o documento, o policial fica limitado a não sair da cidade sem informar ao juízo, não freqüentar bares e boates, além de ter de ficar em casa entre as 22h e 6h. ?Mas vamos entrar com petição em Campo Largo para que se anule esse termo e fique valendo apenas o do Tribunal de Justiça, que é instância superior e determina apenas que ele compareça às sessões nos tribunais?, disse o advogado Alexandre Salomão.

Para o advogado, o termo é prova de que Rasera passou todo o tempo preso ilegalmente. ?O pressuposto da liberdade provisória é que não existiam requisitos para a prisão preventiva. Dessa forma, o próprio juízo reconhece que a prisão é ilegal desde seu início?, disse o advogado. A Promotoria de Investigações Criminais (PIC) do Ministério Público Estadual (MPE), que conduziu as investigações que culminaram no processo, não comentou o assunto.

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