Comerciantes não agüentam mais ser assaltados

É difícil encontrar um comerciante na Rua José Valle, no Jardim Itália, em Santa Felicidade, que ainda não tenha sido vítima de assalto. Cada comerciante tem uma história aterrorizante para contar, que ficará marcada para sempre em suas vidas. Que só quem teve uma arma apontada para a cabeça, pode descrever a sensação que ela causa.

Ana Lúcia Pieckarski, que trabalha em uma videolocadora, ainda guarda um pedaço do projétil que, por muito pouco, não causou uma tragédia, há quase um ano. Ela estava no estabelecimento com a irmã e a sobrinha, quando um bandido invadiu o local e anunciou o roubo, com um revólver em punho. No caixa, havia R$ 200,00, mas o rapaz queria mais. Trancou as três mulheres dentro de um pequeno quarto e, para intimidá-las, colocou a arma na boca de uma delas. ?Foi terrível. Ele ameaçava atirar caso não entregássemos o restante do dinheiro, mas não tínhamos mais?, conta Ana. Em uma atitude de desespero e na tentativa de salvar a vida da irmã, ela a puxou, o que fez o bandido atirar. ?A bala atingiu três capas de fitas e ficou alojada na parede?, conta Ana, mostrando o buraco na parede, escondido por capas de filmes. Após o disparo, o rapaz resolveu ir embora, levando o dinheiro e um DVD.

Dono de uma panificadora, também na Rua José Vale, Deomar Djalma Simões Júnior já foi vítima de assaltantes oito vezes.

?Até arrastão os assaltantes já fizeram aqui, mas, desta vez, eles não chegaram até a minha panificadora?, lembra. Ele diz que, dos oito roubos, somente quatro foram registrados. ?Não adianta perder tempo na delegacia. Não vou recuperar o dinheiro e nem vão prender os marginais?, lamenta o comerciante. ?Em uma das vezes, chamei a Polícia Militar, que demorou 40 minutos para chegar?, relata. Segundo ele, isto ocorreu recentemente, no mês de agosto, quando três assaltantes roubaram quatro estabelecimentos de uma só vez. ?Nós vimos o primeiro assalto contra o mercado, onde eles ficaram dez minutos, e chamamos a PM.

Eles invadiram a farmácia, um outro estabelecimento ao lado e, depois, foram para o posto de gasolina. Olha que eles fugiram a pé e, até hoje, não temos notícias de que foram presos?, conta.

Uma das vítimas do arrastão foi a balconista Marília Rocha Siqueira, que trabalha em uma farmácia. ?O menino veio nos avisar que estavam assaltando o mercado. Nem deu tempo de fazermos nada e os bandidos já estavam aqui dentro?, lembra. Segundo ela, os bandidos estavam nervosos e deram uma coronhada na cabeça de um dos clientes.

A cabeleireira Marta Cunha de Melo ainda muda a expressão do rosto quando se fala em assalto. Em pleno dia, já roubaram seu pequeno salão de beleza, duas vezes. ?Eles levaram o dinheiro e o carro de uma cliente.

Eram 15h. Não estamos mais seguros?, diz a cabeleireira.

A mesma sensação teve o caixa do posto de gasolina, que foi obrigado a deitar no chão durante um assalto. ?O roubo durou dez minutos, mas para mim foi uma eternidade.?

Carência de policiais

?Falta efetivo na polícia.? A frase é do presidente do Conselho Comunitário de Segurança da Regional de Santa Felicidade, Edilton Stival. Segundo ele, para atender os bairros de Santa Felicidade, São Brás, Butiatuvinha, São João, Orleans, Cascatinha, Riviera e Lamenha Pequena, a PM conta com 70 homens e dez viaturas. ?Cinco delas ficam paradas. Eles colocam viaturas, mas não colocam gente. Não adianta máquinas?, critica.

Stival salientou que foi anunciado que cada viatura teria um computador para registrar a ocorrência no local, evitando que a vítima tivesse que se dirigir até a delegacia. ?Os PMs preenchem seis folhas manualmente. Depois, não tem gente suficiente para digitar?, analisa.

Secretaria se explica

A Secretaria da Segurança Pública divulgou nota informando que o policiamento em Santa Felicidade foi ?reforçado significativamente nos últimos meses?. De acordo com o comunicado, o bairro receberá reforço com a formatura de 1.426 novos PMs, que acontece hoje, em todo o estado.

A secretaria informa que foi inaugurado na região um Núcleo de Proteção ao Cidadão, além da implantação do Projeto Povo, da Patrulha Escolar Comunitária e ?da compra de novas viaturas e armas que equipam os policiais que fazem o patrulhamento no bairro?.

Ainda diz a nota: ?Desde 2003, a secretaria realiza freqüentemente reuniões gerais com os presidentes dos Conselhos Comunitários, que conta com a participação do secretário da Segurança?.

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