Caso do Morro do Boi tem um terceiro suspeito

Afirmando que foi torturado por policiais militares e também dentro da delegacia de Matinhos, Paulo Delci Unfried, 32 anos, voltou atrás, ontem, e negou ter sido o autor do crime cometido no Morro do Boi, em Caiobá, em 31 de janeiro.

Colocado frente a frente com a vítima Monik Pergorari de Lima, 23, e com Juarez Ferreira Pinto, 42, outro acusado do crime, disse não conhecê-los. Monik, como já era esperado, também não reconheceu Paulo seu agressor, e voltou a apontar Juarez como autor do delito. A audiência foi ontem no Fórum de Matinhos.

O caso, que já é confuso, parece ter ficado mais complicado após a audiência presidida pelo juiz Rafael Luís Brasileiro Kanayama e acompanhada pela promotora Fernanda Mota Ribas (a mesma que ouviu a confissão de Paulo cinco dias após ele ser preso por policiais militares, acusado de assaltos e estupros, em 25 de junho).

Também o advogado de defesa de Juarez, Nilton Ribeiro, esteve presente. Indignado, o defensor teve cerceadas praticamente todas as perguntas que fez a Paulo, sendo seguidamente interrompido pela promotora.

Elegância

Vestindo terno e gravata e sem advogado de defesa, Paulo foi ouvido como testemunha arrolada pelo juiz e não teve o compromisso de falar a verdade. Praticamente “blindado” no Fórum e pelos policiais do Gaeco (grupo de investigação do Ministério Público), que reinvestigam o caso, Paulo não deu entrevista e sequer pôde ser fotografado. Chegou em viatura descaracterizada e saiu tão logo autorizado pelo juiz. Ele retornou para o Centro de Triagem II, em Piraquara, onde está recolhido.

Nas poucas perguntas que respondeu, disse que foi preso por PMs e que eles o levaram até um mato, onde dispararam tiros próximo de sua cabeça, ameaçando-o de morte, assim como fizeram ameaças ao seu filho, de 8 anos, à mulher e até a amante.

Depois, conforme afirmou, foi levado para a delegacia e também sofreu torturas, mas não conseguiu dizer quem o torturou nem quantas pessoas eram. Disse que tinha medo de revelar essas informações.

Porém, quando ouvido pelas promotoras, cinco dias após a prisão em flagrante, por roubo e estupro, ele nada falou sobre torturas. Tinha apenas uma marca no pescoço, provocada por tentativa de suicídio por enforcamento, cometida logo depois de tomar conhecimento que o exame de balística em sua arma tinha dado positivo ao comparado ao projétil retirado do corpo do estudante Osíris Del Corso, 22, namorado de Monik.

Arma

O grande mistério da arma do crime, um revólver calibre 38, também não foi esclarecido na audiência. Paulo confirmou que a arma lhe pertencia -comprou-a no início de janeiro para caçar – mas que a emprestou dois dias depois para um amigo, de nome Célio, porque não teria tempo para usá-la, pois estava muito atarefado prestando serviços na casa de um veranista.

Célio só a devolveu no final de fevereiro, quando então Paulo passou a mantê-la dentro do carro. Ele não soube dizer o sobrenome de Célio, embora afirmasse que o conhecia há muito tempo.

Também não soube informar onde morava ou o que fazia, nem apontar alguma outra pessoa que o conhecesse para que fosse procurado e pudesse confirmar a informação. O caso continua em segredo de Justiça.

Paulo (esq.) e Juarez (dir.) tinham em comum semelhança com retrato falado.

Silêncio e frustração

Mara Cornelsen

Juarez Pinto ficou calado durante todo o tempo. Com a roupa usada na prisão e algemado (ele está recolhido n,a Casa de Custódia de Curitiba), ele deixou o Fórum cabisbaixo.

Como nega veementemente a autoria do crime, tinha esperança que Paulo confirmasse a confissão e o inocentasse. O advogado de defesa, Nilton Ribeiro, já tinha adiantado ao Paraná Online, que a audiência poderia não trazer novidades e que ira basear a defesa em provas materiais, e não em testemunhas.

“No jargão jurídico, a prova testemunhal é a prostituta das provas. Não seremos reféns dela”, afirmou. Na semana que vem, o Tribunal de Justiça do Paraná deverá julgar o pedido de habeas corpus feito pela defesa em favor de Juarez. “Acreditamos que ele sairá da cadeia”, disse Ribeiro.

Jovem mostra tranquilidade

Mara Cornelsen

Monik Pergorari, acompanhada pelo pai, chegou ao Fórum às 13h30. Aparentando tranquilidade, sorriu para fotos e disse que não teria nenhum problema em se confrontar com Paulo, porque nada tinha contra ele. “O criminoso é o Juarez”, voltou a garantir. Monik está paraplégica devido ao tiro recebido no morro.

“Eu não reconheci o Paulo nem ele a mim. Ele também desmentiu a confissão que fez”, afirmou. Quanto a sua vida pessoal, contou que desistiu da faculdade e que foi a Brasília para fazer exames no hospital especializado em traumas como o seu. “Não sei o resultado ainda, nem onde farei o tratamento. Estamos aguardando os pareceres dos médicos para saber como agir”, contou.

Fidelidade

O pai dela, Lourival Pergorari, mais uma vez condenou a atitude da polícia em apontar mais um suspeito para o caso, dizendo que Monik está plena de suas faculdades mentais e sempre foi fiel à verdade. “Se ela diz que o Juarez é o culpado, é porque ele é”, garantiu. “Cabe a polícia provar isso tudo.”

Antecedentes de violência

Mara Cornelsen

Paulo Unfried responde a processo por homicídio culposo (atropelou e matou um vigilante em Matinhos, ao sair de um bailão), tem antecedente por estupro, no interior do Estado, e foi reconhecido por várias vítimas de assaltos e algumas de estupros, ocorridos recentemente em balneários de Pontal do Paraná. E

le usava o próprio carro para os roubos (um Gol vermelho) e foi através da placa do veículo, anotada pelo vizinho de uma vítima de assalto, que ele foi preso no mês passado.

Autuado em flagrante pelo delegado Tadeu Belo, ele soube que sua arma seria mandada para balística, pois, por ser parecido com o retrato falado do assassino do Morro do Boi, seria necessário o exame. Quando soube do resultado positivo do exame, contou para os demais presos que era o autor do crime e tentou se enforcar com uma corda improvisada.

Confissão

Socorrido pelos presos e levado ao hospital pela policia, no retorno a cela confessou o crime também para o delegado. “Quem fez o Morro do Boi fui eu”, disse ele.

Tadeu Belo comunicou a confissão às promotoras de Justiça e ao delegado Luiz Alberto Cartaxo de Moura, que havia trabalhado no caso. Paulo foi então levado ao Fórum e, sem que os delegados entrassem na sala das promotoras, confessou outra vez o delito.

MP divulga nota

O Ministério Público emitiu, ontem, nota ressaltando que o acusado continua sendo Juarez. Pelo MP, Paulo afirmou que a confissão foi feita em momento de muita pressão psicológica, temendo pela vida da família, e que a arma utilizada no crime “com finalidade de caça, tinha sido emprestada a um amigo”. O órgão não informou se Paulo foi denunciado à Justiça pelo crime de roubo e estupro, pelo qual foi preso.