Cai número de assaltos a sacoleiros

Segundo dados da Polícia Rodoviária Estadual (PRE), entre janeiro e junho desse ano, foram registrados oito assaltos a ônibus de turismo com destino a Ciudad Del Este, no Paraguai, nas rodovias monitoradas pela própria PRE, enquanto que no mesmo período de 2007, foram 20 assaltos. Mesmo com uma redução no número de assaltos, fazer uma viagem de compras ao Paraguai, ainda pode se tornar uma aventura perigosa. Motivados pelos atraentes preços dos produtos, os sacoleiros que optam por viajar de ônibus podem ser vítimas de assaltos de quadrilhas especializadas.

Os sacoleiros relatam que o risco em cruzar o Estado ainda é constante. Alguns relatam momentos de horror em situações ocorridas há poucos meses.

A reportagem conversou com Mari, uma guia de excursões de sacoleiros, que faz a viagem Curitiba-Ciudad Del Este há 20 anos. Mari, que prefere não se identificar, relatou os perigos que os passageiros estão expostos durante a viagem de mais de 700 quilômetros até o país vizinho.

Segundo Mari, existem trechos onde o risco de assaltos é maior e, portanto, a sensação de insegurança é mais intensa. Para quem parte de Curitiba ou do leste de Santa Catarina, a região mais crítica é o trecho de cerca de 100 quilômetros entre os municípios de Palmeira e Irati. ?Existem algumas partes que não têm sinal de celular. Os bandidos sabem disso e que nós teríamos dificuldades em pedir socorro?, conta.

Uma das táticas usadas pelos assaltantes é a simulação de blitz policial à beira da rodovia. Foi assim que um ônibus em que Mari estava foi alvo de uma investida em abril do ano passado.

A guia relata que os bandidos utilizam uma tática planejada para parar o ônibus. ?Numa certa altura, existe uma subida, onde um carro passa à frente do ônibus e faz com que ele perca velocidade.? Mari conta que, na ocasião, o motorista avistou um suposto policial no meio da pista, com viatura e giroflex ligado. ?Paramos o ônibus para avisar que o ônibus poderia ser vítima de assalto e demos de cara com os próprios assaltantes?, conta. Os bandidos estariam usando fardas da Polícia Militar, com o símbolo da PM no braço e até nas armas, além de coletes a prova de balas.

Após receber voz de assalto, dois indivíduos entraram no ônibus. ?Enquanto um deles ficou com a arma na cabeça do motorista, outro mandou as pessoas fecharem as cortinas das janelas?, conta Mari. Os assaltantes teriam obrigado o motorista a conduzir o ônibus até um matagal onde, segundo Mari, ?fizeram a limpa?.

Depois de obrigar os passageiros a tirar a roupa e trancá-los no bagageiro, os assaltantes reviraram os bancos em busca de dinheiro. ?Só conseguimos sair de lá porque o motorista foi o primeiro a entrar no bagageiro e se colocou num espaço que havia um sistema pelo qual alguém poderia sair pela parte de dentro do ônibus?, diz Mari.

Segundo a guia, os assaltantes parecem agir de forma muito bem planejada. ?A seqüência do assalto é muito certa. Eles se comunicam com o carro que vai na frente através de um rádio?, afirma.

Movimento de sacoleiros também reduziu

Além da falta de segurança durante o percurso até Foz do Iguaçu, a sacoleira Mari relata que outros fatores têm contribuído para a diminuição do movimento de sacoleiros.

Para ela, o número de ônibus que partiam da capital para a fronteira com o Paraguai caiu cerca de 30% nos últimos anos.

Mari afirma que, além da falta de segurança, o valor máximo da cota de produtos importados estipulado pela Receita Federal tem inibido a maior parte dos sacoleiros.

?Com uma cota de US$ 300,00 não dá pra trazer muita coisa. Além disso, o custo da viagem também tem aumentado muito. Hoje, a passagem de ônibus de linha que sai de Curitiba é vendida por R$ 220,00?, revela.

Mari diz que as despesas de transporte e hospedagem diminuem a margem de lucro dos sacoleiros. ?Fica mais difícil para quem quer fazer compras de acordo com a lei porque o custo total da viagem sai caro?, comenta.

?Somos taxados de contrabandistas por causa de algumas pessoa que querem fazer lucro maior do que aquele que teriam se fizessem tudo dentro da legalidade?, diz. (NA)

Passageiros trancados no bagageiro

No último dia 11, sacoleiros que seguiam de Minas Gerais para Foz do Iguaçu foram abordados por cinco assaltantes na PR-444, na região de Apucarana. Na ocasião, os 42 passageiros foram agredidos e também acabaram trancados no bagageiro.

Os assaltantes também simularam uma blitz policial para abordar o veículo. Segundo a PRE, esse foi o primeiro assalto, ocorrido desta maneira, este ano.

Um dos casos mais trágicos aconteceu em agosto do ano passado. Um ônibus que levava sacoleiros de Curitiba para fazer compras em São Paulo foi abordado por três homens encapuzados, que entraram no ônibus atirando. Dois passageiros foram mortos e o motorista ficou ferido.

O tenente Periguari ressalta que ficar atento a detalhes pode evitar que a excursão caia nesse tipo de armação. ?Nesse assalto do começo do mês os meliantes usavam quepes na cor cáqui.

A PRE usa boinas na cor vermelha?, comenta.

O tenente também observa que, normalmente, os assaltantes simulam a blitz sem viaturas, o que descaracteriza uma ação policial.

A sacoleira Mari alerta para as pessoas evitem as rotas de risco. Além do trecho entre Palmeira e Irati, pelo qual passam os ônibus que saem de Curitiba, os sacoleiros contam que a situação é preocupante na região de Campo Mourão, norte do Estado, para quem parte do Estado de São Paulo.

Mari afirma que, segundo relatos dos próprios sacoleiros, também são críticas as regiões de Francisco Beltrão e de União da Vitória no sul, sudoeste e sul do Estado respectivamente, para quem vem de Santa Catarina.

Para quem vai fazer compras em São Paulo, Mari conta que o medo acompanha os passageiros do bairro Atuba, em Curitiba, até o município de Registro, em São Paulo. (NA)

Ações da PM inibem meliantes

A Polícia Militar do Paraná afirma que os assaltos vêm diminuindo consideravelmente. Segundo o tenente Periguari, da comunicação da Polícia Militar, o trabalho de inteligência da PM e o aumento do rigor nas fiscalizações ostensivas teriam inibido a ação dos assaltantes. ?A polícia tem realizado patrulhamento mais intensivo, além de ações táticas de abordagens com detectores de metal. Isso pode ter diminuído a incidência de assaltos?, diz.

A PRE informa que grande parte das quadrilhas que assaltavam ônibus de sacoleiros já foram desmanteladas. Contudo, Periguari alerta para que turistas adotem cuidados para evitar que sejam novas vítimas.

Periguari ressalta que algumas excursões, que optam por circular em vias cujo monitoramento é realizado com menor intensidade, acabam favorecendo os assaltantes. ?Alguns ônibus levam passageiros que ultrapassam a cota da Receita Federal e por isso preferem evitar fiscalizações, se deslocando no anonimato. O Estado não tem como controlar esses deslocamentos?, conta o policial.

Periguari conta que o porte de cheques e grande quantidade de dinheiro se torna um chamariz para a ação dos criminosos. ?Conforme a divulgação da excursão, os assaltantes sabem quantas pessoas estarão nos ônibus e quais serão as paradas durante o percurso. Por isso, são comuns os assaltos acontecerem nas imediações por onde os ônibus param?, relata.

O policial também recomenda que as empresas de viação comuniquem a PM, para que o ônibus seja monitorado por onde passar, dificultando a ação dos marginais.

Entre os cuidados que devem ser adotados, a sacoleira Mari destaca que é bom optar por viajar durante o dia. ?Além disso, é importante acertar com hotel onde vai ficar para não entrar em apuros na hora de pagar a conta?, diz.

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