“Baronesa do sexo” vai pro COT

Um porco no rolete e caixas de cerveja que foram barrados na porta do 9.º Distrito Policial (Santa Quitéria) teriam motivado os ataques de Mirlei de Oliveira, 47 anos -que ficou conhecida como a “baronesa do sexo -, ao superintendente Neimir Cristóvão, durante seu interrogatório na 7.ª Vara Criminal, na tarde de quinta-feira. Após causar inúmeras confusões no distrito, Mirlei foi transferida às 10h de ontem para o Centro de Observação e Triagem (COT). Ela é acusada de extorsão e lenocínio (favorecimento à prostituição).

O superintendente Neimir Cristóvão disse que ao chegar na carceragem do distrito, ainda no sábado, Mirlei reivindicou várias mordomias. Uma delas era ficar separada das outras 45 detentas abrigadas no distrito, alegando que estava sendo ameaçada. “Ela não tem curso superior. Por isto não tem direito a cela especial”, salientou o policial. Ele revelou que Mirlei causou transtornos desde sua chegada. Na noite de domingo, um homem apareceu no distrito com um porco no rolete e caixas de cerveja, dizendo que eram para Mirlei. “Mandamos o sujeito embora. A cadeia não é um local para festa. A única coisa que permitimos foi a entrada de remédio para transtorno obsessivo”, salientou. Segundo Neimir, na segunda-feira Mirlei queria receber visita íntima de seu namorado. Diante das recusas, Mirlei se tornou agressiva. “Todos os dias, pastores vêm ao distrito orar para as detentas. Ela começou a dizer que estava sendo ameaçada por eles. Nunca tivemos problemas desta natureza”, salientou o superintendente, que desde segunda-feira estava tentando remover Mirlei para o Sistema Penitenciário.

Policiais processam Mirlei

O delegado Silvan Rodney Pereira, titular do 1.º Distrito (centro), está impetrando uma ação judicial contra Mirlei de Oliveira. A informação é do advogado Dálio Zippin Filho, defensor do delegado. “Além de pedir indenização por danos morais, meu cliente irá denunciá-la por calúnia, injúria e difamação”, explicou o defensor. O superintendente Neimir Cristóvão, do 9.º DP, avisou que também irá tomar as providências cabíveis contra Mirlei. Ela, em interrogatório na Justiça, disse que o delegado Silvan tomou sua agenda, há alguns anos, para montar um prostíbulo. Já o superintendente foi acusado de tê-la agredido dentro da delegacia.

Acusações de cafetina repercutem no exterior

Mara Cornelsen

O interrogatório da cafetina Mirlei de Oliveira, a “baronesa do sexo”, realizado na tarde de quinta-feira, pelo juiz Luís Taro Oyma, da 7.ª Vara Criminal, teve repercussões até no exterior. Dos Estados Unidos, uma das vítimas de Mirlei – uma ex-garota de programas que estava sofrendo extorsões – fez contato com a Tribuna dizendo-se revoltada com as declarações da acusada. “Esta mulher está louca e quer incriminar pessoas de bem para se safar do que aprontou”, desabafou a jovem, que em breve retornará ao Brasil para ser ouvida no mesmo processo.

M.L. trabalhou durante alguns anos para Mirlei, prostituindo-se. No início deste ano, adoentada, ficou hospitalizada por alguns dias e, assim que recebeu alta, foi enviada por Mirlei aos Estados Unidos, porque fala fluentemente inglês, para procurar uma casa onde pudesse abrigar garotas de programa brasileiras. Como estava passando mal, pediu ajuda para um conhecido americano – que já havia estado várias vezes no Brasil e conhecia o prostíbulo de Mirlei. “Ele me levou para um hospital, comprou meus remédios, tratou da minha saúde sem encostar um dedo em mim. Nunca fui tão bem tratada na minha vida”, contou a ex-prostituta, que acabou se apaixonando pelo executivo americano. A paixão foi correspondida e os dois se casaram. A partir daí, Mirlei passou a infernizar a vida do executivo, exigido seguidas importâncias em dinheiro, a título de ser ressarcida dos prejuízos que teve com M.L. Ela ameaçava denunciar na multinacional onde ele trabalha, que havia se casado com uma garota de programa.

Denúncia

Irritada com a situação, M.L. decidiu procurar a polícia. No 1.º Distrito Policial (centro de Curitiba) foi ouvida pelo delegado Silvan Rodney Pereira, que instaurou inquérito contra a cafetina e conseguiu um mandado de prisão para ela. “O delegado Silvan foi um homem decente, que não tinha rabo preso com a Mirlei. Agiu dentro da lei”, comentou M.L., ao mesmo tempo em que citou os nomes de vários outros delegados que costumavam freqüentar o prostíbulo sem pagar. “Era uma troca de favores. Os policiais iam para lá, ficavam com as garotas e não pagavam nada. Depois, quando a Mirlei precisava de alguma coisa, exigia que eles a atendessem. Assim era com juízes, empresários e outras pessoas importantes. Por isso a Mirlei sempre se sentiu protegida e dizia que jamais iria ser presa”, contou a ex-garota de programa, que após a denúncia retornou aos Estados Unidos, onde está morando com o marido.

Quando for intimada a depor, M.L. virá ao Brasil e promete revelações bombásticas contra pessoas que ajudavam Mirlei, não só na manutenção da casa de prostituição, mas também em tramóias envolvendo carros furtados e clonagem de telefones celulares. “Sei de muita coisa e vou dizer tudo na Justiça”, ameaça a jovem, que forneceu alguns nomes dos acusados, que, por enquanto, não serão revelados.

“Gaiola das loucas”

“Eu acho que ela está desequilibrada emocionalmente.” Esta foi a frase dita pelo advogado Marden Maues, ao comentar o interrogatório de Mirlei de Oliveira, 47 anos, ocorrido na tarde de quinta-feira. Maues afirmou que depois de ouvir as incoerências ditas por sua cliente na 7.ª Vara Criminal, ele irá procurar o médico dela para verificar seu real estado de saúde.

Até ontem, Mirlei tinha a companhia de outra detenta no 9.º Distrito Policial, também suspeita de possuir distúrbios mentais. A jornalista Rosana Grein, acusada de arquitetar a morte do marido, chegou a ser internada em um hospital psiquiátrico antes de ser novamente presa. Durante o interrogatório, a Mirlei contou que perdeu 40% de seu cérebro depois de sofrer um grave acidente de trânsito, o que prejudicou principalmente sua memória. O advogado não sabe dizer até que ponto o acidente a afetou e por isso deve, nos próximos dias, conversar com o médico que realizou a cirurgia e acompanhou sua recuperação. “Preciso me posicionar em relação o estado de saúde mental dela, que parece estar abalado. Ela está desequilibrada, pois não sabe mais discernir o que é certo ou errado. Percebeu-se isso durante o interrogatório, onde suas declarações não tinham lógica nem seqüência”, afirmou o defensor. Quanto às denuncias feitas contra policiais, o advogado afirmou que não tem como prová-las e que isso foi um desabafo de sua cliente. “Na próxima semana irei solicitar exames médicos e talvez a liberdade provisória dela”, finalizou Maues.

Rosana

Aproveitando o “bonde” (transferência) de Mirlei, os policiais do 9.º Distrito também transferiram a apresentadora de televisão Rosana Grein, 28 anos. Ela estava recolhida no xadrez desde sábado, quando assaltou uma loja no centro da cidade, armada com uma faca. Rosana também foi para o Centro de Observação Criminológica e Triagem (COT), a exemplo de Mirlei.

A apresentadora ficou conhecida no início do ano, quando foi presa por policiais da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, acusada de planejar friamente o assassinato do marido, o radialista Nilton Sérgio Saciotti, 45 anos. Na época, seu advogado alegou que ela estava desequilibrada e a colocou em liberdade.

No dia 26 de março, a polícia tentou prender Rosana novamente, solicitando sua preventiva à Justiça, mas a juíza Luciani Regina Martins de Paula, do Fórum de São José dos Pinhais, decidiu mantê-la em liberdade. Rosana havia sido presa uma semana após o crime e liberada nove dias mais tarde, favorecida por habeas corpus do Tribunal de Justiça do Paraná. Em seguida, foi internada em um hospital psiquiátrico, de onde saiu uma semana depois.

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