Viés autoritário

Já alertamos para a tendência autoritária de membros do governo. O senador mato-grossense Antero Paes de Barros, que também é jornalista, mais apropriadamente tratou do assunto, embora se limitasse a episódios pontuais, enquanto nós preferimos uma análise ampla. Identificamos o “modus faciendi” do PT, enquanto partido e agremiação política no poder, com atitudes autoritárias e uma disciplina imitando ou herança autoritária dos partidos de extrema esquerda.

Exemplo por nós citado foi a punição a parlamentares, até com expulsão, por discordarem de projetos de suma importância, como a reforma da Previdência, em que seguiam as posições históricas do partido, enquanto este bandeava-se para idéias opostas. Aquelas que sempre combateram. Poder-se-ia argumentar que se tratava de levar às últimas conseqüências a fidelidade partidária, esta sim um instrumento a ser burilado e um dia exibido como conquista democrática. Mas, “in casu”, o PT voltava-se contra posições petistas e punia os correligionários que as reafirmavam.

O senador tucano fala em “viés autoritário”, utilizando-se de expressão hoje comum na indicação de tendências futuras do Conselho Monetário Nacional sobre juros. Efetivamente, tendências. Mas tendências que já se mostram em fatos graves. Para o parlamentar, o PT “está perdendo sua capacidade de autocrítica… e cada vez mais forma um governo com viés autoritário”. Aconselha-o a repensar os conceitos de democracia para passar a agir com correção no exercício do poder público. O autoritarismo está embutido em várias ações do partido, afirma.

Elencando-as, deu destaque à intenção de diminuir a autonomia do Ministério Público. O senador reconhece que ele mesmo tem feito críticas pontuais a ações do MP, mas jamais pensaria, como o governo, alguns de seus membros e líderes petistas, em suprimir poderes dessa tão importante instituição. “Os moços do MP fazem bem à sociedade brasileira”, disse. Acrescentou que a democracia permite a rotatividade no poder e o PT um dia voltará a ser oposição. “Aí precisará do MP que, neste momento, quer amordaçar.” O MP era bom para um PT oposicionista e é ruim para um PT situacionista, um paradoxo que a rotatividade no poder demonstrará. O PT precisa pensar no que é bom para a sociedade brasileira e que amordaçar o Ministério Público só é bom para os bandidos, sentencia o senador.

Parlamentar e jornalista, Antero Paes de Barros também posicionou-se contrário ao projeto de criar o Conselho Federal de Jornalismo. Seria um “conselho de petistas para controlar jornalistas”, o que significa “a volta da censura ao Brasil”. Acrescenta que, em seu ponto de vista, o projeto governista é inconstitucional. Também toma posição contra a criação da Agência Nacional de Cinema e Vídeo (Ancinav), ao qual atribui também tendências autoritárias.

Não se esgotam aí as indicações de “viés autoritário” do governo. Um observador atento encontrará pensamentos, posições e atos com cheiro de autoritarismo quase todos os dias. E os petistas ortodoxos, autênticos, que se agarram aos princípios e programas partidários de antes da conquista do poder, não só os identificam como sentem na própria pele. Se fosse um defeito exclusivamente partidário, seria suportável. O problema é que ele influi no desenvolvimento da democracia brasileira. E, aí, todos nós temos a ver com o fato.

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