Vaticanistas indicam três tendências para a escolha do papa

Três tendências estão sendo citadas pelos vaticanistas europeus para tentar
antecipar a escolha do sucessor do papa João Paulo II pelo conclave que reunirá
117 cardeais eleitores, representando 54 países, todos com menos de 80 anos,
três semanas após a morte do papa. Uma delas é produto da disputa entre uma
corrente internacionalista, favorável a escolha de um papa não italiano, e uma
corrente nacional italiana, reunindo os cardeais favoráveis a volta da hegemonia
anterior.

Dos 263 papas já escolhidos pelo colégio dos cardeais, 203 eram
de nacionalidade italiana. Os que defendem essa possibilidade acreditam que não
será neste momento, num mundo globalizado, que os cardeais romanos e europeus
vão permitir a escolha de um papa vindo dos confins da África e da América
Latina para dirigir a Igreja, preferindo um homem de gestão, ao contrário de um
carismático como João Paulo II. Nessas condições os nomes de dois cardeais
italianos se destacam: o arcebispo de Milão, Dionigi Tettamanzi, reformista
moderado, e o de Veneza, Angelo Scola, intelectual ambicioso.

Caso a
corrente internacionalista se imponha, a surpresa poderá ser igual ou maior do
que a causada quando Karol Wojtyla foi escolhido, em 1978. Numerosos nomes são
aventados, como o do indiano Ivan Dias, arcebispo de Bombaim, um representante
da "opção preferencial pelos pobres", o argentino José Maria Bergoglio,
arcebispo de Buenos Aires, ou o brasileiro Claudio Hummes, cardeal arcebispo de
São Paulo, sempre presente na lista dos dez favoritos.

A segunda
tendência, segundo alguns vaticanistas, seria a de dirigir a escolha em função
de um pontificado de transição, bem mais curto do que o atual de João Paulo II,
26 anos. Nesse caso, o escolhido poderia ter uma idade mais avançada e os
destinos da Igreja seriam confiados a um administrador e não a um grande
viajante como foi o caso de João Paulo II. A regra de um pontificado curto
suceder a um pontificado longo seria mantida, como na época em que João XXIII,
um papa de transição já idoso, substituiu Pio XII, que governou a Igreja por
longos anos.

Esse cenário pode favorecer o cardeal Joseph Ratzinger,
atualmente com 77 anos, havendo consenso no Vaticano que se trata de um cardeal
"intelectual e espiritualmente superior aos demais". Qualquer que seja a
tendência, Ratzinger será o grande eleitor com forte influencia na decisão
final, se não for ele próprio o escolhido.

Finalmente, a terceira
tendência privilegia a tese de um papa "bispo de Roma" e de um papado mais
romano. Nesse caso, mesmo não havendo obrigatoriedade do escolhido ser italiano,
um argumento que desapareceu quando da escolha de João Paulo II, os que defendem
essa tendência excluem que "o bispo de Roma" não conheça perfeitamente a máquina
romana e a língua italiana. Nesse caso, um dos nomes citados é o do cardeal
Giovanni Batista Ré, 71 anos, nascido em Brescia, na Lombardia.

Essas
tendências podem indicar caminhos, mas a composição atual do colégio dos
cardeais pode, mais uma vez, surpreender com uma nova e grande surpresa.
Enquanto os italianos continuam mantendo o número mais importante de cardeais,
20 ao total -, o peso italiano já não é o mesmo do passado e o resultado
independe de alianças regionais ou continentais.

Diversos outros fatores
podem pesar na hora da escolha, mesmo porque não existe no conclave nenhuma
disciplina de voto, reflexos de solidariedade territoriais. Como o voto é
secreto e os cardeais eleitores só precisam prestar contas a Deus, tudo pode
acontecer.

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