Usinas hidratam álcool anidro para atender aumento de consumo

Ribeirão Preto – A alta demanda pelo álcool hidratado obrigou usinas do Centro-Sul a produzir o combustível por meio do adicionamento de água desmineralizada ao álcool anidro, cujo consumo segue estável. O álcool anidro é misturado em 25% à gasolina e apresentou uma produção excedente em comparação à oferta bastante ajustada ao consumo por parte do hidratado. Estima-se que em torno de 1 bilhão de litros de álcool anidro devam ser transformados em hidratado com a adição da água sem cloro e sem condutividade, mas o volume final só será conhecido em março, pois dependerá da demanda.

"É mais um dos exemplos da grave falta de unidade e da ausência de planejamento de toda a cadeia sucroalcooleira no Brasil", criticou Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura. A União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), entidade que representa usinas e destilarias da região brasileira, confirmou a prática, mas negou que ela ocorra por falta de planejamento das destilarias.

De acordo com o diretor-técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, o desequilíbrio da oferta dos dois álcoois ocorreu nos elos da cadeia entre as usinas e os postos, nos quais ocorrem fraudes que criam uma estimativa de demanda irreal pelo anidro. As principais são a mistura de água fora dos padrões e indiscriminadamente ao álcool anidro e ainda a adição de porcentuais superiores ao limite de 26% à gasolina.

Rodrigues lembrou que medidas públicas de prevenção adotadas em 2005 frearam o consumo do álcool anidro, mas não a oferta do produto nas usinas. "O desequilíbrio demonstra que as ações dos governos estão sendo eficazes", disse Rodrigues. Além da Unica, a Cooperativa de Produtores de Cana-de-Açúcar, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Copersucar), confirmou que várias de suas 29 unidades associadas estão hidratando o álcool anidro. Segundo o gerente de planejamento da Copersucar, José Reinaldo Del Bianco, o processo é simples, desde que a água utilizada seja a desmineralizada. Na safra 2005/2006, as unidades da Copersucar produziram 1,653 bilhão de litros de álcool anidro e 1,034 bilhão de hidratado, uma diferença de 62 5%.

Corante 

Entre as medidas que frearam a adulteração e reduziram o consumo do álcool anidro estão a determinação do governo federal de que as destilarias marquem esse tipo de combustível, misturado em 25% à gasolina, a partir de sexta-feira (6), com um corante. A idéia é evitar que haja a mistura de água sem padrão ao álcool anidro e que ele seja vendido como hidratado. Como o anidro não paga ICMS e o imposto recolhido do hidratado é de, no mínimo, 12%, distribuidoras e postos compram o álcool sem água, fazem a adulteração e se apropriam do imposto. Estima-se que esse tipo de fraude desviou mais de R$ 1 bilhão desde abril do ano passado.

De acordo com Antonio de Padua Rodrigues, diretor-técnico da Unica, essa determinação vai criar custos insignificantes para as unidades sucroalcooleiras e não deverá elevar o preço da gasolina. "O custo do corante é pequeno, a única mudança será na logística das usinas que são responsáveis pela adição do corante", afirmou.

Outra medida, adotada pelo governo paulista, obriga as usinas locais e distribuidoras a se cadastrarem na Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo para requerem autorizações prévias de operações futuras de envio álcool anidro a outros Estados.

Mistura

O governo federal e os usineiros nem sequer cogitam reduzir de 25% para até 20% a mistura do álcool anidro à gasolina como forma de frear a disparada nos preços do hidratado utilizado em veículos a álcool ou bicombustíveis. Por lei, a mistura pode variar de 20% a 26%. A redução na mistura seria uma forma indireta de reduzir os preços do hidratado, que dispararam em dezembro, já que seria possível obtê-lo a partir da mistura de água ao anidro nas usinas. Seria ainda uma forma de evitar reajustes nos preços da gasolina pelo aumento no preço do anidro. Mas economia do combustível com a operação seria de apenas 10%, ou 3 dias de consumo em 1 mês no Centro-Sul do Brasil. E a medida poderia ainda causar efeito contrário de aumento no preço da gasolina.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, foi informado por assessores, ainda em 2005, antes de suas férias, que os preços do álcool hidratado iriam subir em virtude da entressafra e do incremento na demanda por parte dos veículos bicombustíveis, mas que o próprio mercado se encarregaria de regulá-lo por meio da redução do consumo. Paralelamente, o ministro costura um pacto com o setor que deve ser selado no dia 23, durante reunião da cadeia produtiva em Brasília.

A idéia é propor que as unidades sucroalcooleiras que entrarem em operação em março, já na safra 2006/2007, direcionem todo o processamento de cana-de-açúcar possível para a produção de álcool. O diretor-técnico da Unica, Antonio de Padua Rodrigues, classificou como "sem sentido" qualquer tipo medida que reduza a mistura do anidro à gasolina.

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