Uma quase máfia

Não há dúvida de que se não houver por parte das autoridades maior rigor com o crime organizado, este caminhará para a construção de estruturas sólidas e duradouras como a máfia. Os episódios recentes de ataques de criminosos à polícia e à sociedade que lhe cabe proteger denunciam a frouxidão de nossos aparelhos repressores, de nossa legislação, do sistema penitenciário e a incapacidade da sociedade e seus governos de mudar o quadro de injustiças sociais que são o caldo de cultura de toda essa aterradora situação. De positivo, embora a posteriori e não como uma solução, mas como política para não pôr mais lenha na fogueira, tanto o situacionismo como a oposição decidiram não permitir a politização dos embates. O governo federal, por seu ministro da Justiça, enquanto Lula se encontrava em Viena e depois, o próprio presidente, afastaram de pronto a idéia de exploração política dos episódios sangrentos que atingiram principalmente São Paulo. Isso, apesar de aquele estado ter sido, até há pouco, governado pelo candidato do PSDB à Presidência da República, o tucano Geraldo Alckmin.

De parte das forças oposicionistas, a posição tomada foi responsável. Decidiu-se evitar a politização, porque culpar a um ou outro grupo dos disputantes pelo poder nas eleições deste ano nada resolve. Ao contrário, só pode atrapalhar as providências que a situação exige. Os grupos criminosos que atacaram a sociedade de forma tão selvagem e revoltante já vinham tentando politizar suas ações mesmo antes de desencadeá-las. Um ofício sigiloso da Polícia Federal ao governo de São Paulo revela uma mensagem do PCC que circulou pelos presídios dias antes dos ataques, desaconselhando o voto no PSDB e recomendando explicitamente o voto no PT. O documento foi repassado ao governo paulista pelo ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, tornando patente a posição contra a politização dos fatos por parte do governo federal.

O documento é um manuscrito e, como dado ao conhecimento das autoridades antes dos eventos sangrentos que enlutaram a sociedade brasileira e, em especial, a paulista, não foi levado muito a sério. Hoje, parece-nos que deve ser considerado porque, se não evidencia de forma justificável a preferência das organizações criminosas por um ou outro candidato ao governo, deixa claro que grupos como o PCC já se aventuram no campo político, tentando influir até nas eleições presidenciais. Correu também a notícia de que esses grupos têm planos de facilitar a eleição de candidatos ao Congresso Nacional pelos quais têm simpatias ou que podem até ser ligados ao crime organizado.

Assim agiram e ainda de certa forma agem organizações mafiosas em outros países. E é conhecido o fato de que, para acabar com elas, governos de nações ricas e poderosas passaram anos e anos lutando, empenhando esforços e recursos que estamos longe de possuir. E ainda não as eliminaram de todo. Portanto, estejamos prevenidos, porque a ousadia do crime organizado é ilimitada e ele está de olho na política, para nela influir. E, se a sociedade, por suas autoridades, não agir de pronto e com a máxima eficiência e severidade, vai conseguir, mesmo porque as forças políticas brasileiras já demonstraram que estão contaminadas.

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