Um ou nenhum PT

A crise por que passa o PT não é só ética e financeira. Atravessa também uma seriíssima crise política, quando se aproxima a eleição direta para escolha de seus dirigentes nacionais. A direção anterior foi desmantelada, depois de haver tentado resistir aos escândalos do caixa 2 e do mensalão. Caiu até José Genoino, presidente da agremiação, indicado para o posto por Lula como homem de sua absoluta confiança. Caíram o secretário-geral, acusado de receber um carro de alto preço, como propina, de uma empresa particular. E, obviamente, o tesoureiro Delúbio Soares, contra quem sobejam acusações de irregularidades. Outros mais também se afastaram.

O próprio presidente Lula indicou para a presidência provisória do partido o seu ministro da Educação, Tarso Genro, considerado homem experiente na política e na gestão da coisa pública. Além de ministro de Estado, já foi prefeito de Porto Alegre. E sua fidelidade a Lula chegou ao ponto de aceitar a expulsão de sua filha Luciana Genro, deputada federal, que acompanhou a senadora Heloísa Helena, Babá e outros defenestrados por ousarem exigir que o PT seguisse sua linha histórica e defendesse interesses dos trabalhadores na reforma da Previdência.

Tarso Genro revela-se no exercício provisório do cargo de presidente do PT condescendente com os companheiros acusados de irregularidades, esperando pacientemente pelos resultados finais das investigações. Não chegou sequer a forçar o afastamento dos suspeitos ocupantes de cargos. Delúbio, por exemplo, pediu para sair. Não foi afastado.

Sob o ponto de vista ético, nada contra Genro. Sob o ponto de vista político, decidiu pleitear a presidência efetiva do partido no pleito marcado para setembro, com a idéia de refundar o PT. Quer um novo PT, de cuja direção não participem os dirigentes anteriores, acusados ou sob suspeitas de irregularidades. Dentre estes está José Dirceu, que mesmo afastado da Casa Civil e processado na Comissão de Ética da Câmara, anuncia que não renunciará ao seu mandato parlamentar nem à condição de candidato a algum alto posto do PT, inclusive a presidência. Genro e Dirceu pertencem à ala majoritária do partido, agremiação pequena, mas esfacelada por um sem-número de correntes políticas e ideológicas.

Genro revela agora que quer, como o grupo ortodoxo do partido, mudanças na política econômica, com o fim do neoliberalismo à moda FHC, que vem sendo praticado por Lula com o ministro Antônio Palocci. Mas aceita mudanças graduais. Quer ainda a baixa das taxas de juros, novamente de forma gradual.

Está armado o embate e, permanecendo José Dirceu e outros acusados ou suspeitos de má gestão, nada menos de 23 deputados e pelo menos um senador prometem abandonar o partido. Com Dirceu, o novo PT seria o velho PT que se afogou em meio a um mar de lama.

Tarso Genro analisou corretamente a situação. Ou o PT, a prosseguir a disputa, desaparece, ou acontece o que ele considera pior: o partido de Lula fica igual aos demais que existem no País, sem programa, sem ideologia, meras siglas para alcançar e deter o poder.

É que o PT de antanho, cheio de idealismo, colorido de vermelho e acreditando-se capaz de resolver os problemas sociais do País, já era.

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