Última reserva

O ministro Antônio Palocci, último componente de escol do governo a ser inquinado da mesma prática – recebimentos por fora – que enlameou o topo da pirâmide do governo e do sistema partidário, foi mantido pelo presidente Lula, mesmo tendo colocado o cargo à disposição e profetizado não ver prejuízo algum para a economia com sua saída do governo.

Palocci foi acusado pelo ex-auxiliar direto na Prefeitura de Ribeirão Preto, Rogério Tadeu Buratti, de ter recebido propina de R$ 50 mil mensais durante algum tempo, paga pela empresa Leão & Leão, encarregada dos serviços de limpeza pública e coleta de lixo na cidade.

A essência da acusação foi considerada inconsistente pelo Palácio do Planalto, tendo em vista encontrar-se o acusador sob o manto do instituto da delação premiada – a diminuição da pena em troca de colaboração com a Justiça.

De qualquer forma, a inclusão do nome de Palocci como recebedor de dinheiro vindo de empresas favorecidas pela administração pública, até que se prove o contrário, constituiu o maior rombo aberto no governo Lula, sobretudo pela relevância da ação do ministro na defesa intransigente da ortodoxia preconizada pelo monetarismo internacional.

É também notório o fato de Palocci representar, no auge do bombardeio, a última reserva de respeitabilidade num governo prostrado pela provada inconseqüência de seus quadros mais reconhecidos.

Mesmo negando a acusação do ex-secretário de Governo, ao que parece mais um dos inúmeros oportunistas que imiscuiu-se no complacente sistema petista de governar, Palocci expôs o presidente da República à mais aguda laceração recebida nesse inferno astral. Amparado pela imediata manifestação de prestígio por parte do mercado e cuidadosa reserva da oposição, posições esperadas diante da inquebrantável determinação de manter incólumes o arrocho fiscal e os juros altos, o ministro da Fazenda certificou à nação que nada mudará na economia.

Um dos argumentos usados por Palocci para enquadrar a acusação de Buratti, no entanto, abre ampla janela à dúvida. Apesar da importância da função, o prefeito não mantinha com o secretário uma relação de confiança. Mesmo assim, o manteve durante vários meses como integrante de primeira linha no secretariado municipal.

A indiscrição atribuída ao Ministério Público de passar à imprensa o teor da acusação de Buratti soa como coisa menor à vista da autoconfissão de ter entre os auxiliares mais próximos alguém que não desfrutava de sua confiança. Muito estranho.

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