Tesouro capta R$ 1,5 bilhão em títulos atrelados ao real

Em meio à discussão sobre o nível mais adequado da taxa de câmbio, o Tesouro voltou nesta quarta-feira (7) ao mercado internacional para captar US$ 750 milhões (R$ 1,5 bilhão) em bônus da dívida externa atrelados ao real, com prazo de vencimento em 2028. Com a operação, o governo conseguiu alongar o prazo da dívida e reduzir ainda mais o custo de captação. Foi a menor taxa de retorno das cinco operações já feitas até agora no exterior em reais: 10,68% ao ano.

O sucesso da captação, alcançado com a redução recorde do risco País verificada nos últimos dias, foi um fator a mais a contribuir para aumentar a valorização do real em relação ao dólar. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu que notícias positivas sobre o Brasil, como a operação do Tesouro, ajudam a deprimir o dólar, porque melhoram a percepção dos investidores em relação à economia brasileira. Essa melhora faz com que os investidores estrangeiros aumentem as aplicações no Brasil, trazendo mais dólares para o País.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, a emissão do BRL 2028 mostrou que o investidor acredita na continuidade do real forte, porque é ele quem assume o risco cambial na operação. "A demanda muito boa mostra isso", disse a fonte. Na operação de ontem, liderada pelos bancos JP Morgan e UBS Investment Bank, o papel foi vendido com preço de 96,451% do seu valor de face e cupom de juros de 10,25% ao ano. Os dólares obtidos entrarão para as reservas internacionais no próximo dia 14, quando ocorrerá a liquidação da operação.

Na última emissão em reais, em dezembro do ano passado, a taxa de retorno tinha sido de 11,66%, a menor até então, para um papel com prazo de vencimento em 2022. O Tesouro já fez cinco emissões em reais, uma do Global BRL 2016, no valor de US$ 1,5 bilhão, e mais três do Global 2022, que somam cerca de US$ 1,4 bilhão.

Foi a situação favorável no mercado internacional, de estabilidade nas taxas de juros, que levou o Tesouro a decidir pela nova captação em bônus em reais. O lançamento já era esperado pelos analistas do mercado, porque o Plano Anual de Financiamento (PAF) da dívida pública, anunciado pelo Tesouro no início do ano, previa o alongamento dos prazos dos papéis externos na moeda brasileira, com a criação de novos pontos de referência (benchmarks) na curva de juros externa.

No lançamento do PAF, o próprio secretário do Tesouro, Tarcísio Godoy, deixou escapar que a escolha da próxima emissão seria com vencimento em 20 anos e não de 30 anos. O Tesouro acabou optando em fazer antes, no final de janeiro, uma emissão em dólares no valor de US$ 500 milhões do Global 2037, o que surpreendeu o mercado.

Como o Tesouro não está precisando de dólares para honrar os pagamentos da dívida externa, as novas emissões têm como objetivo melhorar o perfil do endividamento. Nesse momento de queda acentuada da taxa de câmbio, o Tesouro continua fazendo operações de recompra de títulos da dívida externa, o que ajuda a reduzir as reservas internacionais, abrindo espaço para o Banco Central comprar mais dólares no mercado à vista.

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