Sucessão de Silas Rondeau tem de passar por PMDB do Senado

A indicação do sucessor de Silas Rondeau no ministério das Minas e Energia terá de passar pelo crivo da bancada do PMDB do Senado. Além de derrubar o ministro, a Operação Navalha da Polícia Federal, que investiga o esquema de corrupção em obras públicas, enfraqueceu por tabela os dois padrinhos de Rondeau: o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o senador José Sarney (PMDB-AP). Depois de ostentar o status de interlocutores exclusivos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e líderes incontestáveis da bancada de senadores, a dupla amarga hoje a contestação de seus pares.

"Vou convocar reunião da bancada para discutir o assunto na próxima terça-feira", reagiu cedo o líder do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), depois de receber uma carta do grupo independente do partido, rebelando-se contra "indicações pessoais" de ministros feitas em nome da bancada. "Pedimos ao Raupp para reunir a bancada porque qualquer indicação em nosso nome tem que ser decidida pelo conjunto da bancada", explicou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Até o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que se recusa a discutir participação no governo, lembra que, até há pouco, uma reunião de bancada para discutir uma indicação de Sarney para qualquer cargo da República seria inimaginável.

Em avaliação semelhante, Simon admite que, em outros tempos, o máximo que poderia acontecer nesta situação era um protesto ruidoso seu. "Eu ia para tribuna, berrava, e ninguém dava bola", recorda. "Mas hoje é diferente", sentencia. "Agora, eles sofreram um desgaste muito grande com a Operação Navalha, que os deixou mal, embora – justiça seja feita – nunca tenhamos visto nada contra esse ministro Rondeau", ponderou Simon. Além disso, acrescenta o senador gaúcho, a bancada também mudou.

"Entregamos um manifesto ao líder deixando claro que qualquer nome tem que passar pela bancada e pelo partido. Não aceitamos indicação de A ou B", completou o senador Mão Santa (PMDB-PI). A seu ver, o próprio presidente Lula deveria vir a público, exigindo a submissão, à bancada e ao partido, do nome do indicado para substituir Rondeau. É o que também defende o senador Almeida Lima (PMDB-SE), ao explicar que a bancada não pode aceitar que se fale de uma indicação sua, sem antes saber quem é o indicado.

Não foi só no Senado e no partido que os dois cardeais do PMDB perderam prestígio depois da Operação Navalha. Um interlocutor do presidente Lula lembra que ambos reagiram à indicação de um político para a presidência de Furnas e mais. Diz que Renan chegou a argumentar que, se não fosse um técnico, haveria corrupção na estatal. O interlocutor presidencial observa que a "infelicidade da frase" foi registrada no Planalto e a seqüência de acontecimentos, que enredaram Rondeau nas denúncias de corrupção e derrubaram o ministro, desvalorizou ainda mais o cacife dos dois.

"Renan e Sarney perderam a auto-suficiência", resumiu um importante dirigente do PMDB, enquanto um expoente da cúpula peemedebista da Câmara observava que o desgaste político da última semana fez com que ambos perdessem também a "empáfia". O senador Jarbas Vasconcelos concorda com o deputado que prefere não se identificar. "A novidade é que a liderança dos dois ficou abalada e, agora, eles têm satisfações a dar ao partido".

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