Socorro aos esfomeados

O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, o presidente da França, Jacques Chirac, e o presidente Lula terão um encontro em Genebra. Na oportunidade, Lula proporá aos dois estadistas a criação de uma “CPMF internacional” para o combate à pobreza no mundo. Uma taxa que incidiria sobre os montantes das transações financeiras entre países, para constituição de um fundo de combate à pobreza. Esse fundo, Lula vem defendendo em todos os encontros internacionais de que participa e já era proposto, em 1999, por Fernando Henrique Cardoso. Era a chamada Taxa Tobin, idealizada por um professor de Yale, Prêmio Nobel de Economia. A idéia original do professor Tobin era taxar o capital que cruza fronteiras entre países. Aí, poderiam entrar operações entre países, entidades e pessoas jurídicas e físicas. FHC dava ao referido fundo um destino um pouco diverso do que imagina Lula, pois queria que esse dinheiro socorresse países sob tempestades financeiras, como ocorreu com o Brasil e a Rússia, na década de 90. Já a CPMF mundial de Lula teria como objetivo o combate à miséria, onde quer que ela ocorresse, fosse em razão de tempestades financeiras, diferenças estruturais em economias, calamidades ou condições mesológicas adversas.

A colaboração internacional para o combate à miséria tem ganho adeptos e espaços, pois as nações mais ricas e até os ricos de nações pobres já se convencem de que a miséria e as gritantes diferenças sociais, a perdurar, põem em risco o futuro do mundo. Não se trata da vizinhança incômoda e constrangedora da pobreza e da riqueza, mas de um barril de pólvora continuadamente alimentado pela fome, que arrisca o frágil tecido social de muitas nações. Talvez da grande maioria. Não seria, portanto, simples benemerência, mas a criação de um fundo que investiria na paz entre os povos.

Apesar de lembrar a nossa CPMF, contribuição que seria provisória e sempre foi compulsória, acabando por se transformar em definitiva e antipática, por incidir sobre todo e qualquer tipo de operação financeira realizada no Brasil, a nova idéia de Lula agrada.

Marco Aurélio Garcia, assessor de Lula para assuntos internacionais, que já seguiu para ao Fórum Social Mundial, que se realiza na Índia, e estará com o presidente, a seguir, em Genebra, informa que a CPMF é uma entre várias idéias que estão em análise e não há nenhum modelo já definido de como poderia ser implementada. “Antes, temos de conquistar corações e mentes. Depende de acordos. Se no Brasil a CPMF deu esse rolo todo, imagine internacionalmente”, adverte.

Trata-se de uma feliz idéia à qual faltam os contornos e de um fundo de combate à pobreza ao qual, por enquanto, falta o dinheiro e a forma de arrecadá-lo. A incidência sobre operações financeiras é um caminho e parece-nos o melhor e o mais prático. Se seria suficiente, uma vez aplicada sobre todas as operações internacionais, temos dúvida, tão grande é a miséria no mundo. Corajosa seria a idéia de uma contribuição sobre todas as operações financeiras, sejam entre países, organizações internacionais, pessoas jurídicas e físicas em geral. Dinheiro sempre faltará. Miséria, infelizmente, sempre existirá para ser combatida. E a melhor forma de tornar tal fundo realidade é começá-lo, com a adesão de dois ou três países e inclusão, na medida possível, de quantos sejam motivados para fazer deste um mundo melhor.

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