Versão 'não bate'

Morte de rapaz em confronto com a PM está cercada de mistério

Andrei com o pai, Benedito. Foto: Reprodução/Facebook
Andrei com o pai, Benedito. Foto: Reprodução/Facebook

Familiares de Andrei Gustavo Orsini Francisquini, morto na Praça da Espanha, em Curitiba, em um suposto confronto com a Polícia Militar na madrugada do domingo (12), contestam a versão dada pela polícia para a morte do rapaz. Andrei, que era jornalista e publicitário, foi atingido por agentes da Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Motorizadas) após fugir de uma abordagem policial e sacar uma pistola, segundo a versão oficial.

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Porém, de acordo com seu pai, Benedito Francisquini, que é diretor de redação do jornal Tribuna do Vale, de Santo Antônio da Platina, no norte do Paraná, é “difícil acreditar que meu menino sacasse uma pistola e reagisse contra vários policiais”.

Francisquini, em nota publicada no diário, afirma que o filho não tinha arma de fogo e era contrário à qualquer forma de violência. O texto explica que o jovem havia jantado com a mãe, em Curitiba, no sábado (11) anterior ao fato, e que após deixa-la em sua casa “resolveu se divertir na noite”. O carro que ele usava não tinha qualquer problema na documentação e não há explicação inicial sobre sua motivação em tentar fugir dos policiais.

Para o pai, as circunstâncias da morte de Andrei não serão solucionadas, por envolver policiais militares. “Sinceramente, antevejo mais um desses casos sem solução. As câmeras nunca funcionam, as perícias nunca terminam e tudo acaba no esquecimento, num país acostumado com a impunidade”. A praça possui duas câmeras, uma da Urbs e outra da própria PM. Esta pode ter captado a ocorrência, já que o confronto foi dentro do raio de captação de imagens do equipamento.

Câmera de monitoramento da PM na Praça da Espanha pode ter gravado toda a ação. Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Tribuna do Paraná
Câmera de monitoramento da PM na Praça da Espanha pode ter gravado toda a ação. Foto: Aniele Nascimento/Arquivo/Tribuna do Paraná

O jornalista termina a nota revelando que estava afastado do filho e diz não saber o que será de seu futuro. “Como pai, me sinto estraçalhado. Ele estava afastado de mim há algum tempo, por divergências pessoais, mas volta e meia deixava uma mensagem dizendo que me amava! Sinceramente, não sei como vai ser minha vida a partir de agora!”, completa.

A Polícia Militar foi procurada para comentar as afirmações do pai de Andrei e ainda não retornou o contato da reportagem.

Perícia

Segundo o jornal do norte do estado, o corpo do rapaz será liberado nessa segunda-feira (13) após passar por nova perícia, para comprovar as circunstâncias de sua morte. Seu corpo será velado e enterrado em Cambará, também no norte pioneiro, cidade vizinha de Santo Antônio da Platina.

Resposta da PM

Segundo nota, a Polícia Militar começou a perseguição após flagrar o homem manuseando uma arma de fogo no carro. Ele desobedeceu a ordem de abordagem e tentou fugir. Além de bater em um carro que estava estacionado, ele ainda teria jogado o veículo contra os policiais. Nisso, os PMs atiraram contra o pneu do carro, mas o homem não parou, o que fez os agentes voltarem a disparar, ferindo Andrei, que chegou a ser socorrido mas não resistiu.

Veja a nota na íntegra:

Conforme registro em Boletim de Ocorrência, em patrulhamento pela Avenida Vicente Machado uma equipe policial viu um homem manuseando arma de fogo dentro de um veículo corsa branco e tentou abordá-lo, mas o motorista não acatou a ordem de abordagem, e arrancou com o veículo de maneira brusca. A equipe policial iniciou, então, um acompanhamento tático. Na fuga o carro colidiu com um veículo voyage e continuou fugindo.

Já na rua Fernando Simas o veículo parou, a equipe tentou nova abordagem, mas ele não acatou e engatou marcha à ré e quase atropelou os policiais. Ele também bateu em um veículo gol que estava estacionado. A equipe policial atirou no pneu do carro na tentativa de pará-lo, mas ele continuou avançando contra os policiais, que atiraram novamente. A equipe, então, se aproximou e verificou que o homem estava ferido. O Siate foi acionado para socorrê-lo, mas quando chegou constatou o óbito.

Ainda, conforme consta em Boletim de Ocorrência o homem estava com uma pistola calibre 9mm no colo. A equipe policial acionou a perícia, que recolheu a arma. O veículo corsa foi apreendido pela equipe policial para os procedimentos.

Consultado no sistema, verificou-se que o veículo já havia fugido de uma abordagem policial em 30/03/19, após o condutor ter sido visto efetuando disparos de arma de fogo em via pública. Também consta no sistema um encaminhamento deste mesmo homem, em 2015, na cidade de Jacarezinho (PR) por conduzir veículo com CNH cassada, quando também fugiu da polícia.

Para toda ocorrência deste tipo, envolvendo policial militar e equipamentos da corporação, é aberto um procedimento para apurar as circunstâncias.

Violência na praça

Esta não é a primeira ocorrência com morte registrada na Praça da Espanha. Em janeiro deste ano um jovem perdeu a vida após uma confusão generalizada. De acordo com a Polícia Militar, que foi acionada para atender uma possível briga, o rapaz de 21 anos levou dois tiros e morreu no local. O suspeito de ser o autor do crime foi preso no mês passado, em Ponta Grossa, nos Campos Gerais.

Jovem foge de abordagem e acaba morto em confronto com a PM, na Praça da Espanha