Falcatrua!

Loja é suspeita de vender carros de clientes e não repassar dinheiro

Foto: Colaboração.
Foto: Colaboração.

Uma loja de veículos de São José dos Pinhais, que fica na Avenida da Americas, no bairro Três Marias, está sendo investigada pela Polícia Civil. Isso porque algumas pessoas procuraram a polícia pedindo ajuda depois que seus veículos, que foram deixados em consignação na RF Motors, foram vendidos e o valor não foi repassado. Na manhã desta quarta-feira (23), algumas supostas vítimas foram até a delegacia.

+Caçadores! Povo se arrisca em ponte caindo aos pedaços na Grande Curitiba. Vale?

Conforme uma das pessoas entrevistadas pela Tribuna do Paraná, as vítimas só percebem o que chamam de golpe quando entregaram seus veículos. “Deixei um carro para venda consignada, o valor que eu pedi foi de R$ 75.500, soube que venderam por R$ 79.900, mas me pagaram só R$ 40 mil. Me deram cheque que voltou, fizeram agendamento de depósito que não ocorreu e acabaram deixando um carro para mim, para que eu usasse até que fizessem o pagamento, mas sei que tem vítimas que perderam integralmente o valor do carro. Gente que deixou o carro para vender para pagar tratamento de câncer da mãe, uma situação bem complicada”, disse um dos entrevistados, que preferiu não se identificar.

Aos poucos, as pessoas foram percebendo que a atuação da loja era bem parecida com o esquema feito por outra revenda de veículos, denunciada pela Tribuna do Paraná em 2018 e que ficava exatamente no mesmo endereço, mas com outro nome. “Essa loja está no mesmo endereço, mas não são os mesmos donos, analisei o contrato social, são outros proprietários”, disse o rapaz que denunciou o caso.

+Leia mais! Preso em Curitiba, assassino de Rachel Genofre dá detalhes do crime

Nesta terça-feira (22), algumas das vítimas estiveram na loja e mobilizaram não só um protesto, como também chamaram a Polícia Militar. Já na manhã desta quarta-feira, pelo menos oito vítimas foram até a delegacia para denunciar o esquema.

"Prejuízo foi de R$ 80 mil", disse advogado. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.
“Prejuízo foi de R$ 80 mil”, disse advogado. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.

O advogado Alexandre Saldanha reapresenta um dos reclamantes, que perdeu todo o valor de uma caminhonete deixada em consignação para venda. “Se trata de um estelionato mesmo, simulam o contrato de compra e venda e os golpistas convencem a vítima a assinar um recibo com cara de contrato e uma procuração. Eles transferem o carro e não pagam as vítimas”, comentou.

No caso da vítima representada por Alexandre, a caminhonete custava R$ 80 mil. “Ficaram no prejuízo. Eles tinham uma proposta sedutora, disseram que pagariam quase o valor cheio da tabela fipe, venderam o carro e não pagou nada. Por enquanto, ficou o prejuízo”.

Ainda confirma o advogado, os funcionários da loja aproveitavam da falta de conhecimento ou da urgência em revender os veículos. “Sempre escolhem pessoas que estão com necessidade urgente, precisando do dinheiro mesmo, ou gente que não tem base de compreensão muito completa do que está acontecendo na negociação e acabam assinando procurações, por exemplo. Complicado isso”.

A Tribuna do Paraná tentou contato com o advogado que representa a RF Motors, mas não obteve retorno até o fechamento da reportagem. À RPCTV, que também está acompanhando o caso, o advogado da loja informou, em nota, que representantes da RF Motors tentaram entrar em contato com as pessoas para negociar, mas que se mostraram resistentes e disseram que procurariam a Justiça.

Delegado disse que vai investigar atuação da empresa. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.
Delegado disse que vai investigar atuação da empresa. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.

O que diz a polícia?

Por conta das denúncias, a Polícia Civil passou a investigar a atuação da loja. Segundo o delegado Michel Teixeira, aproximadamente 15 vítimas, que retratam situações de um problema na negociação, procuraram a Delegacia de São José dos Pinhais e registraram boletim de ocorrência. “Apesar disso, o que nós vamos analisar é se a situação se trata de um golpe ou de um desacordo comercial. Vamos verificar se houve um objetivo prévio de cometer um crime, que é o que separa o estelionato do desacordo comercial. O simples fato de a pessoa não pagar, não considera estelionato, mas é evidente que se tiver características e uma faceta grande de vítimas que foram ludibriadas no mesmo sentido, aí nós temos uma fraude”, explicou.

Ainda conforme o delegado, a versão passada pelas vítimas é exatamente a que foi narrada: as pessoas deixam o carro para venda, mas não recebem o valor do veículo quando o carro é vendido. “E é isso que está sendo colocado em cheque. Queremos apurar se essa empresa é uma empresa verdadeira. Segundo consta para a gente a empresa estaria passando por dificuldades, mas é isso que nós vamos apurar”.

Pelo menos dois pontos provocaram estranheza e levantam desconfiança da polícia. O primeiro deles é o fato de a loja estar no mesmo endereço onde antes funcionava outra loja, que foi denunciada por golpes. “Essa outra loja sim teve histórico de estelionato. E o fato de o ponto comercial já ter sido utilizado por essa outra empresa aumentou o medo das pessoas. Apesar disso, ainda não conseguimos fazer o elo se a empresa é do mesmo dono ou a mesma empresa com outro nome, o que nós suspeitamos é que exista a possibilidade de que sejam de familiares”.

O outro ponto que levantou a desconfiança dos policiais foi uma das formas que a outra loja de veículos agia: ligando para pessoas que anunciavam carros pela internet e propondo um comprador. “Essa era a forma de atuação da loja anterior, mas acontece que algumas vítimas da loja atual narraram esse mesmo tipo de conduta: estavam anunciando o carro e ligaram dizendo que podiam comprar o carro. O que nós queremos descobrir agora é se essa empresa, no momento que foi atrás dos carros, queria fazer o golpe ou começou a negociar os veículos e se perdeu”.

Delegacia de São José dos Pinhais está investigando a situação. 15 vítimas já procuraram. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.
Delegacia de São José dos Pinhais está investigando a situação. 15 vítimas já procuraram. Foto: Rodrigo Cunha/Tribuna do Paraná.

Desconfie sempre

O delegado orientou às pessoas, não só as vítimas, que sempre desconfiem. “São José dos Pinhais se tornou um verdadeiro polo de revenda de veículos, temos muitas aqui e a grande maioria é séria. Apesar disso, é importante que as pessoas tomem todo o cuidado de procurar lojas que têm históricos bons, que atuam com responsabilidade e desconfiar sempre, aquele ditado popular: ‘quando a esmola é demais, o santo desconfia’. Se oferecem muito, coloque em cheque, porque ninguém dá mais do que pode”.

Ainda conforme Michel Teixeira, é importante também que as pessoas jamais assinem documentos que não tenham conhecimento do que se trata. “Não deixe procuração assinada, leia o contrato que está assinando e não assine se não tiver ciência do que está ali. Às vezes você pode aceitar algumas condições impostas que não são condições legais”, alertou.

Às possíveis vítimas da RF Motors, o delegado pediu que primeiro tentem negociar com a loja e, caso não dê certo, procure realmente a polícia. “Venha até a delegacia, formalize o BO e vamos analisar. Até porque também nos causou estranheza o número de pessoas que já vieram, então vamos continuar investigando. Mas também é importante que, caso a pessoa registre o BO e após isso receba o valor que a loja devia, não desista de dar sequência na denúncia, pois ela é extremamente importante”. O telefone da Delegacia de São José dos Pinhais é o (41) 3299-1500.

Após barulho estranho, biarticulado quebra e bloqueia importante via do Centro