Salários indecentes, fome sempre

Julho é o mês de férias: escolares, forenses e principalmente parlamentares. É mais uma das épocas do ano em que algumas categorias privilegiadas param por completo as suas atividades. O gozo desse merecido descanso nem sempre atinge o trabalhador comum. Mas é concedido para o vereador, deputado ou senador. Os integrantes do Legislativo têm, por força de lei, esse repouso remunerado de aproximadamente um mês no meio do ano e mais três meses no fim e início de ano. O porquê disso ninguém sabe. Fato é que existe.

O que mais nos assusta é que a cada início de recesso vem o que eles chamam de convocação extraordinária. Agora mesmo o Congresso Nacional está para ser convocado para sessões extraordinárias durante o recesso para “agilizar” a tramitação das reformas Tributária e da Previdência. Só que os nossos parlamentares não trabalham de graça. Se essa convocação for confirmada vai custar para os cofres públicos (ou seja, o povo vai pagar), cerca de R$ 20 milhões. Isso sem contar valores pagos a assessores, funcionários e outros. Serão R$ 20 milhões só para nossos ilustres parlamentares.

O Boris Cassoy chamaria isso de “uma vergonha”. Eu qualifico de salário indecente, indecoroso, absurdo. É um verdadeiro golpe fraudulento ao bolso do cidadão.

Agora vêm alguns parlamentares, como se fosse bons samaritanos, e propõem que os salários das extraordinárias sirvam para a campanha Fome Zero, do governo. Já não basta o proveito pecuniário que tiraram todos estes anos das polpudas remunerações e ainda ao eliminá-las querem tirar um proveito extra da decisão: o proveito político. Por certo baterão no peito que foram autores da medida que reverteu o salários extras para o Fome Zero. Querem sugar, esgotar todos os recursos de um benefício público em seus próprios favores.

Santa hipocrisia! Vamos colocar um fim definitivo nessa indecência sem o usar a fome do povo como desculpa. Parem de distribuir esmolas! Deixem de sugar o dinheiro do povo e devolvam a ele, sem favores, gorjetas ou piedade, o que lhes pertence. O PT, e principalmente o PT, não pode ser instrumento de mais um abuso contra o povo.

Definitivamente o trabalhador não quer favores! O trabalhador quer direitos iguais, quer condições iguais… Quer dignidade.

E pergunto aos nossos parlamentares: É digno milhares receberem em forma de migalha isso que sobra dos seus lautos banquetes parlamentares? O que são 400 mil cartões do Fome Zero (é o que vão representar esses R$ 20 milhões do recesso) quando outras formas de retirar o dinheiro público são arquitetadas.

Se o povo tivesse escola pública gratuita e completa, se dispusesse de justiça ágil e eficiente, moradia humana, transporte abundante, saúde bem resguardada, valor na sociedade, com absoluta certeza não estaria batendo nas portas do governo para cobrar o que lhe é devido.

Com dignidade cada um se responsabilizaria pela sua vida individual, a sociedade cresceria mais forte, as pessoas viveriam mais felizes, a natureza agradeceria e a paz seria restabelecida.

Enquanto pensarmos mesquinhamente em “distribuir favores”, com a máxima certeza estaremos incentivando o crime, estimulando a ignorância, apoiando as falcatruas e destruindo a vida humana.

Parem de mentir para o povo!

Osni Gomes (osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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