Riscos políticos

A crise econômica com o desemprego, que representa um dos pontos cruciais da questão social, tem feito com que várias lideranças façam advertências sobre um possível e próximo risco político. Membros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil falam até em convulsão social. A ingovernabilidade tem sido o risco político mais referido. Essa ingovernabilidade seria a perda da base parlamentar, que, de precária, dependente de negociações pontuais e, não raro, da política do “toma lá, dá cá”, passaria a ser impossível; a oposição, ou melhor, os opositores ao governo Lula, unidos ou dispersos, sistematicamente trabalhando contra as propostas governamentais importantes. Dentre essas propostas, no momento, se destaca a aprovação do salário mínimo de R$ 260,00, questão fechada para o governo, para a cúpula do PT, mas não para toda a bancada do Partido dos Trabalhadores e, muito menos, para os partidos que com ele formam a base parlamentar de Lula.

Embora o assunto do salário mínimo possa se transformar no ponto crucial em que se definirá a governabilidade, entendida como possibilidade de Lula e sua equipe governarem de acordo com diretrizes que consideram pétreas e inalienáveis, as eleições municipais deste ano é que serão a questão crucial. E em especial as eleições para a Prefeitura de São Paulo.

São Paulo é o estado mais desenvolvido do País e sua capital tem, como prefeita, uma petista, Marta Suplicy, candidata à reeleição. Inadvertida ou pretensiosamente, Lula federalizou o pleito, ao deixar bem claro que sua própria reeleição e a manutenção do PT no poder dependem da permanência de São Paulo nas mãos de seu partido. Não é fácil governar São Paulo. Não faltam queixas populares contra a administração de Marta Suplicy. Nem faltariam, fosse outro o prefeito. Mas os pecados de Marta são apresentados ao eleitorado como pecados do PT. E os pecados de Lula, na administração federal, como de Marta ou de sua co-responsabilidade. Como nem o governo federal nem o municipal de São Paulo vão bem, a chamada base do governo Lula começa a esfacelar-se.

O PL, que tem o vice-presidente da República José Alencar e forma na bancada situacionista no Congresso, através de seu presidente, deputado federal Waldemar Costa Neto, tem tomado posições públicas contra o governo do qual faz parte. E agora une-se a outros partidos para a formação de uma nova coligação, para lançamento de candidatura independente contra Marta, à Prefeitura paulistana. Com o PL estão o PMDB, com Michel Temer como aspirante a candidato; o PDT, com Paulinho, o líder sindical Paulo Pereira da Silva, também ambicionando a sucessão de Marta, e o PSB, com a deputada e ex-prefeita paulistana Luíza Erundina, sem dúvida uma expressiva força política e eleitoral.

Do lado da oposição expressa aparece José Serra, ex-candidato à Presidência da República, com largas possibilidades de coligar-se com o PFL, e o eternamente candidato Paulo Maluf, agora mais às voltas com questões legais que nos pleitos passados. O que parece evidente é que, esvaziando-se a candidatura de Marta e surgindo das hostes situacionistas nova candidatura à Prefeitura paulistana, a precária base de sustentação de Lula se desagrega. E entraremos no terreno perigoso da ingovernabilidade, tanto mais que o governo federal, em matéria de prestígio popular, desce a ladeira.

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