Renan e Sarney atropelam comando do PMDB e aderem de vez ao governo

Brasília (AE) – Com o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ala governista do PMDB atropelou o comando do partido e acertou um acordo político com o Palácio do Planalto para ajudar na governabilidade, recebendo em troca maior espaço no primeiro escalão ministerial. Com o movimento, liderado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e pelo senador José Sarney (AP), respaldados pela maior parte das bancadas do partido no Senado e na Câmara, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), está fora da interlocução entre PMDB com o presidente Lula. Pelo acordo, o PMDB deverá pular de dois para quatro ministérios dentro do governo.

Bastaram 45 minutos de conversa no gabinete presidencial para que Temer fosse atropelado e sua carta a Lula, comunicando que a maioria do PMDB rejeita a idéia de aumentar sua participação no governo, fosse ignorada. Para criar um contraponto à negativa do presidente do partido, Renan sacou a nota das bancadas peemedebistas na Câmara e Senado, não apenas aceitando a proposta de apoio como explicitando que o pacto pela governabilidade inclui "a participação do partido no governo, a elaboração de políticas públicas e a divisão de responsabilidades na gestão do País".

Além de irritados com o comportamento de Michel Temer, o Planalto e a cúpula governista do PMDB estão convencidos de que foram traídos por ele. Queixam-se nos bastidores de terem sido surpreendidos por um recuo de Temer, que vinha atuando em conjunto com os governistas para construir a unidade partidária no apoio e participação do governo de coalizão. "Com esse cara eu não falo mais", disse Lula aos peemedebistas, para completar: "Nosso compromisso está fechado; vamos à luta".

Àquela altura, o presidente já tinha nas mãos a nota das bancadas, com a assinatura dos líderes na Câmara, José Borba (PR), e no Senado, Ney Suassuna (PB), atestando que 19 dos 22 senadores do partido e 53 dos 85 deputados apoiavam o pacto proposto por Lula. É verdade que, enquanto o trio conversava no Planalto, os rebeldes comandados pelo deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) armavam uma reação, tentando minar o apoio dado ao presidente. Argumentaram que o texto direto da nota, falando em participação do governo, colocava o debate da governabilidade no campo do fisiologismo.

Com este discurso, a ala rebelde preparou outra nota, em que os signatários retiravam-se do apoio ao Planalto nos termos da moção dos governistas. Ao fim do dia, diziam ter obtido vinte recuos, ao mesmo tempo em que os governistas prometiam ampliar o apoio já dado com a adesão de mais uma dezena de deputados além do senador Valmir Amaral (DF), que está de volta ao partido depois de rápida passagem pelo PP.

De volta ao Congresso, Sarney confirmou que o anfitrião os convidara ao Planalto para dizer que mantinha o mesmo desejo de ter o PMDB em um governo de coalizão e que a presença do partido é importantíssima para a estabilidade política do governo. "Ele reafirmou a convocação de apoio à governabilidade, feita na semana passada, e disse que estava feliz com a demonstração de solidariedade manifestada pela ampla maioria das bancadas da Câmara e do Senado", completou Renan.

Tanto Sarney quanto Renan sustentam que a conversa de hoje não entrou em nenhum detalhe sobre a participação futura do PMDB no primeiro escalão federal. Mas até o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), não tem mais dúvidas de que o apoio manifestado é suficiente para tranquilizar o Planalto e que o processo de entendimento com o PMDB já está evoluindo para a reforma ministerial. Nas negociações com o governo, o presidente da Eletrobrás, Silas Rondeau, será o indicado para ocupar as Minas e Energia, como indicação de Sarney.

Os outros nomes mais cotados de peemedebistas para integrar o novo ministério são o do líder José Borba (PR), representando a Câmara, e o do senador Hélio Costa, representando não só o Senado, mas a bancada mineira que fechou com o governo em Brasília e no Estado. Como Minas tem 48 votos na convenção nacional, os governistas estão convencidos de que essa virada mineira pró-governo foi decisiva. Apostam que foi por isso que Temer desistiu de convocar a convenção prevista para 10 de julho.

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