Quinto pior risco

Na campanha eleitoral que levou Lula à Presidência da República, falou-se muito em risco-Brasil e se fez o povo pensar que bancos estrangeiros estavam se metendo em nossos assuntos internos. Eles, em análises sobre a conveniência de seus clientes em aplicar capitais no Brasil, consideravam as chances de vitória do candidato petista como perspectiva de que o nosso País se transformaria num destino pouco recomendável. Afinal de contas, o candidato em vias de sair-se vitorioso já falara, repetidas vezes, em moratória, calote da dívida, socialização dos meios de produção e tudo o mais que não interessa ao capital estrangeiro.

A crise de confiança instalada elevou o risco-Brasil a mais de 2.000 pontos, um metro que o sistema financeiro internacional inventou para aquilatar os perigos que o dinheiro dos investidores iria enfrentar. A situação ficou tão difícil que até FHC, adversário de Lula, saiu mundo afora dizendo que o candidato petista não representava nenhum risco e que cumpriria os compromissos e contratos assumidos. Lula e os seus, para efeitos externos, fez as mesmas afirmações, enquanto aqui dentro de casa gastava verbo dizendo que estavam interferindo em nossos assuntos internos. As instituições que calculam esse risco estavam fazendo relatórios, alguns mais confiáveis e outros cheios de bobagens, atendendo às necessidades dos seus clientes. Se são o instrumento dos investidores para suas aplicações, têm de aconselhá-los, detectando onde há segurança e onde há risco. E o tamanho desse risco.

Com a posse de Lula e a política conservadora do ministro Antônio Palocci, a confiança no Brasil foi sendo recuperada e despencou dos 2.000 para algo por volta de 400 pontos. O menor risco verificou-se em 1997 e foi de 337 pontos.

Essa queda do risco-Brasil fez com que voltassem os investimentos externos. Voltaram em quantidades relativamente expressivas, se bem que ainda insuficientes para a retomada efetiva do nosso desenvolvimento. E muito do dinheiro que chega é especulativo.

O governo e vários dos organismos estatísticos que controla não tardaram em cantar vitória. Passaram a fazer a opinião pública brasileira acreditar que, com Lula e Palocci, o Brasil passou a ser um paraíso para investimentos. Agora, o risco-Brasil voltou a subir um pouco, chegando a 424 pontos, ainda muito longe da situação desastrosa do tempo da campanha eleitoral. O menor risco é um instrumento eficiente de propaganda do governo, tanto mais quando esconde algumas verdades que não são do alcance do povo em geral. Em primeiro lugar, o capital estrangeiro vem para o Brasil não só pela política dita neoliberal do governo Lula, mas porque os juros básicos (Selic) em nosso País estão, desde a última reunião do Copom, em nada menos de 19,25%, o mais alto do mundo. A segunda verdade é que com risco-Brasil de 424 pontos, superamos as Filipinas e chegamos à situação de quinto pior risco do mundo.

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