Queremos a gasolina do Montoya!

O asfalto é um tapete. Ao longe se ouve o rugir de um motor nervoso, que vai aumentando rapidamente. Em fração de segundo, o bólido rasga a reta a 350 km por hora. É Juan Pablo Montoya, ou João Paulo, como queiram, tocando o BMW Williams, impulsionado com a nossa gasolina.

Aliás, esse é um dos principais motes da campanha publicitária da Petrobras, para comemorar o cinqüentenário, destacando a proeza da gasolina Podium receber aprovação da equipe Williams. Mas será que a Petrobras chamaria o piloto colombiano para abastecer seu carro particular num posto brasileiro, aleatoriamente?

Seria um risco a julgar os níveis de adulteração do combustível no País. De acordo com estudos, cerca de 18% dos combustíveis comercializados sofrem adulteração, fato que motivou até a instalação de uma CPI no Congresso.

Imagino que Montoya seja dono de um carro top de linha, de marca afamada e aí o risco é menor. Esses carrões, por determinação do fabricante, só utilizam gasolinas com alta octanagem, como a Podium, especiais para alimentar motores de alta compressão.

De qualquer forma, não deixa de ser um paradoxo que a Petrobras entregue um produto de ponta para a elite do automobilismo mundial e no Brasil o consumidor comum tenha que se contentar com uma mistura suspeita. Claro que existem outros agentes que também devem ser questionados, como as distribuidoras de combustível, os postos de gasolina e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), por exemplo, esta responsável pela qualidade do combustível no País.

O prejuízo maior por enquanto está ficando com o consumidor, que ao usar combustível adulterado expõe seu carro a estragos irreparáveis, como danos na bomba de injeção do combustível, no catalisador e no bico injetor. Os sintomas são perda de potência, superaquecimento e baixo rendimento.

O Paraná lidera as adulterações e interdições, com 114 ocorrências, no período de 99 a 2003, segundo a ANP, enquanto Santa Catarina contabilizou 16 ocorrências e o Rio Grande do Sul 39, no mesmo período. O Paraná bate ainda Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Distrito Federal, conforme a ANP.

A situação é tão grave que o Sindicombustível, que congrega os postos, está distribuindo uma cartilha, orientando o consumidor a ter cuidado ao abastecer o carro. As grandes redes de postos, incluindo a Petrobras, também têm programas próprios de controle de qualidade de combustível, que dá uma certa proteção ao consumidor.

Mas o certo é que os fiscais da ANP ainda vão ter muito trabalho para disciplinar o setor. Enquanto isso não acontece, os esforços são feitos para tentar resguardar o consumidor. Pesquisadores da Unicamp desenvolveram um equipamento que avisa por um sinal luminoso se o combustível é ?batizado?, na hora em que o carro está sendo abastecido. A engenhoca será apresentada no evento Combustível 2003 – A Qualidade da Gasolina, que acontece no dia 12 de setembro na Universidade de Campinas, em Campinas, SP. A cidade vai discutir um assunto que lhe diz muito respeito, já que ali o índice de adulteração bate em 41%, o maior do País.

Enquanto o equipamento não chega ao mercado, o consumidor vai ter que abrir bem os olhos e denunciar o revendedor à ANP, no caso de suspeita de adulteração de combustível: 0800-900267 (ligação gratuita). Porque por enquanto, alguns poucos como o Montoya podem confiar 100% na nossa gasolina.

Miguel de Andrade (economia@pron.com.br) é editor de Economia da Tribuna do Paraná.

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