Quebra ou não quebra

Na medida em que se aproximam as eleições e se agitam as ondas no mercado financeiro sobre as quais o Brasil tem de surfar, avolumam-se os palpites sobre se o País quebra ou não quebra. O Brasil pode quebrar, assim como qualquer outro país do mundo, desde que perca a confiança dos mercados internacional e nacional. E, dependendo do tamanho do mercado interno e da dependência do mercado externo, essa hipótese estará mais ou menos distante.

Para simplificar, lembremos de qualquer pessoa, família ou empresa que produz, vende e realiza operações financeiras, principalmente de utilização de crédito, situação de praticamente todo mundo. Se, em determinado período, todo o negócio for mal administrado, se passar a trabalhar e produzir mal, vender pouco ou nada, perder a credibilidade entre os clientes e o crédito entre os financiadores, vai à breca. Isso pode acontecer até com pessoas, empresas ou países ricos. Os Estados Unidos já quebraram em 1929. Outros passaram pelas mesmas vicissitudes, em diferentes épocas.

Esse risco é maior para os países em desenvolvimento, como o Brasil, mais dependentes de crédito financeiro interno e externo. O primeiro problema é que há grande ignorância sobre o que é o Brasil. Ignorância aqui dentro e em especial lá fora. Como lembrou neste último final de semana o ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, economista Edmar Bacha, dizer que o Brasil vai quebrar, principalmente se quem diz são analistas estrangeiros, é ignorância. Eles nem imaginam o tamanho e peso de nosso mercado interno, sem dúvida um contrapeso à retração do mercado financeiro externo. Para ele, não vai quebrar, o que não significa que não possa quebrar.

O investidor (ou especulador) norte-americano George Soros, um dos mais poderosos do mundo, declarou que o governo brasileiro deve ser obrigado a dar um calote em sua dívida pública depois das eleições. Para ele, a alta dos juros que o mercado exige do País, pelo receio do resultado das eleições, levará o Brasil à bancarrota. “Temos um problema no Brasil, por exemplo. O Brasil está perto de ter eleições. Será eleito um presidente que não é apreciado pelo mercado financeiro. As taxas de juros já estão a 25%. Nesse ponto, o Brasil está falido.” Hipótese. O megaespeculador veio com um “se”. Para ele, se os países ricos e o FMI liberarem mais créditos para ajudar o Brasil neste período de transição, o calote poderá ser evitado. E isso está prometido. Depois, vaticinou que um eventual colapso brasileiro poderá abalar as indústrias dos EUA e a economia global.

Para o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, a idéia de que o Brasil vai quebrar é “uma idéia um pouco maluca”. Lembremo-nos que, antes de assumir a presidência do BC, Fraga trabalhava para Soros. Já o diretor-gerente do FMI, Horst Köhler, acha que o governo brasileiro será capaz de reativar a economia e evitar a reestruturação da dívida. A receita: rigor fiscal, muito juízo neste final de governo e no próximo. Estamos, pois, diante de eventos ainda incertos. Tudo depende de quem vai governar o País; da manutenção ou não do acordo com o FMI e outros organismos internacionais; da manutenção ou mesmo aumento do superávit fiscal; da balança comercial. Para resumir e simplificar, se apertarmos o cinto, teremos condições de empurrar a coisa com a barriga. Se afrouxarmos, as calças caem.

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