Presidente da CPI ameaça pedir destituição da diretoria dos Correios

Brasília (AE) – O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), ameaçou hoje (23) pedir a destituição de toda a diretoria da empresa estatal por obstrução das investigações da comissão de inquérito sobre as supostas irregularidades nos contratos da empresa. Um grupo de quatro parlamentares foi ao encontro do novo presidente da estatal, Jânio Pohren, que assumiu o cargo em junho, para transmitir o ultimato e tentar chegar a um acordo em torno dos requerimentos de informações da CPI.

De acordo com o relatório gerencial que chegou às mãos de Delcídio, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBTC) tem se atrasado na prestação de esclarecimentos, omitido informações importantes e apresentado outros dados que "induzem a conclusões erradas". "Se essa situação não mudar, a CPI pode encarar isso como desobediência e pedir o afastamento de toda a diretoria dos Correios", declarou o presidente da comissão, ao abrir os trabalhos da CPI hoje à tarde.

O endurecimento com a cúpula dos Correios foi apoiado por oposicionistas e governistas, como o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP). "Precisamos dar um ultimato e, caso não dê resultados, pedir ao presidente da República o afastamento do presidente dos Correios." A suspeita dos parlamentares é de que Jânio Pohren e seus subordinados podem estar acobertando as investigações sobre seus antecessores – João Henrique de Almeida Souza, que dirigiu a estatal entre março de 2004 e junho de 2005 e Airton Dipp, presidente da estatal no primeiro ano de governo Lula. "Pelo menos 38 contratos dos Correios estão sob suspeição" lembra o coordenador administrativo da CPI, deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Os principais focos da investigação estão sobre quatro tipos de contrato: os de publicidade, os de serviço noturno postal, os de correio híbrido postal (serviço eletrônico) e os de transporte aéreo de carga. Nesse último caso, destaca-se a licitação vencida pela empresa Skymaster Linhas Aéreas numa disputa com a Promedal, que envolveu uma guerra nos bastidores do governo entre lobistas dos dois lados.

Polêmicas – Além das dificuldades externas, a CPI também enfrenta cada vez mais obstáculos internos que ameaçam a paralisar os trabalhos de investigação. Hoje, por exemplo, a oposição descobriu que o documento requerendo informações sobre os fundos de pensão à Secretaria de Previdência Complementar só foi encaminhado oficialmente na última sexta-feira, quase duas semanas depois de aprovado pela comissão.

A oposição também fez críticas severas ao presidente da CPI, acusando-o de elaborar uma agenda pífia de depoimentos esta semana. "Há uma tentativa em transformar a CPI dos Correios em chapa branca, em pizza", disse o deputado Eduardo Paes(PSDB-RJ). "É o início de uma operação para mitigar as investigações da CPI", completou deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA). A oposição alegou que seria mais importante ouvir amanhã o depoimento do ex-ministro Luiz Gushiken, atual chefe do Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência, do que o de Marcus Vinícius Vasconcellos, genro do deputado Roberto Jefferson.

A pressão dos oposicionistas surtiu efeito. Apesar de não ter desmarcado o depoimento de Marcus Vinícius, Delcídio antecipou para amanhã cedo a sessão administrativa para discutir a convocação de depoentes. "Podem me acusar de tudo, menos de não buscar o diálogo com a CPI. Agora não dá para ficarmos como biruta de aeroporto mudando de foco a todo instante", afirmou o presidente da CPI.

Durante duas horas e meia, os integrantes da CPI dos Correios também deixaram clara a insatisfação por estarem perdendo espaço para as CPIs do Mensalão e dos Bingos. "Esta CPI está morrendo. Nossas cadeiras aqui estão vazias, enquanto as das outras CPIs estão cheias", reclamou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI). "Não estou preocupado se alguma outra CPI está mais cheia do que a nossa. Estou preocupado com os resultados e nenhuma outra CPI tem o volume de informações que temos", rebateu Delcídio Amaral (PT-MS).

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