Povo exige compromissos dos presidenciáveis

Os postulantes à Presidência da República têm a obrigação moral de assumir perante o povo brasileiro compromissos explícitos a respeito de questões fundamentais, que envolvem nossa soberania e o futuro do país.

Eles devem dizer claramente se vão manter estatal ou privatizarão a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, Furnas, Chesf, Eletronorte e a própria Eletrobrás.

Fernando Henrique Cardoso, ao justificar a venda da Cia. Vale do Rio Doce, disse que era plataforma de sua campanha eleitoral, em 1994, mas ninguém viu nem ouviu essa declaração.

O Brasil em 2005 será auto-suficiente na produção de petróleo e nesse ano estaremos importando US$ 5 bilhões de derivados de petróleo, por falta de capacidade de nossas refinarias, pondo em risco a segurança nacional. Desde os governos Dutra e o último de Getúlio Vargas, todos os presidentes da República construíram e ampliaram refinarias, suprindo o consumo interno de gasolina e demais derivados, embora importássemos expressiva quantidade de óleo bruto.

Os oito anos de administração FHC notabilizaram-se por nada fazer nos setores básicos da economia, porquanto não construiu novas refinarias através da Petrobras e não instituiu estímulos fiscais e financeiros para o setor privado fazê-lo. Igual omissão verificou-se na geração de energia elétrica, resultando no apagão de 2001 e nos exorbitantes aumentos nos preços de luz pagos pelo consumidor, para garantir a remuneração das firmas estrangeiras adquirentes nos leilões de privatização.

Por sinal que uma característica desses leilões foi o financiamento pelo BNDES, com longo prazo de amortização, para que as multinacionais se interessassem na aquisição das estatais.

O incrível é que, recentemente, o BNDES estabeleceu uma linha de crédito para financiar companhias privadas brasileiras, que queiram comprar fábricas nos Estados Unidos ou em outros países, a pretexto de apoiar exportações de insumos e componentes brasileiros.

Por falar em BNDES, ele acaba de completar 50 anos de fundação, em 1952, no governo Getúlio Vargas. O banco gastou milhões em publicidade para divulgação do evento e em nenhum instante mencionou-se que ele nasceu por iniciativa do inolvidável estadista. Até a placa comemorativa colocada na portentosa sede, centro do Rio de Janeiro, omitiu o nome de Vargas, talvez por vergonha dos dirigentes do banco de estarem desvirtuando os objetivos que determinaram a concepção do BNDES, isto é, promover o “desenvolvimento econômico do Brasil” e não fortalecer a pujança de sociedades alienígenas aqui ou financiar investimentos nacionais no exterior.

Os presidenciáveis deverão definir-se quanto à questão acima ventilada e posicionarem-se em relação às prioridades do BNDES, gigante instituição financeira, que dispõe e aplica mais recursos, anualmente, do que o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

O atual governo federal teve mais medo de Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do que o diabo da cruz. O próximo presidente, a ser eleito em outubro, repetirá essa conduta ou não impedirá que elas se instalem e apurem livremente possíveis irregularidades administrativas?

O que pensam os candidatos à Presidência da República da Lei de Responsabilidade Fiscal, do fiel cumprimento de contratos, da política salarial do funcionalismo, da saúde financeira da previdência social, do Mercosul e da Alca e, ainda, do acordo com os EUA para utilização da Base de Alcântara/MA para lançamento de foguetes espaciais?

Nas entrevistas a jornais, rádios e televisão, os jornalistas precisam priorizar esses assuntos, ao invés das clássicas perguntas sobre segurança, desemprego, habitação, saúde, educação, taxa de juros, cujas soluções os marqueteiros já ensinaram aos candidatos, obedecendo ao que os institutos de pesquisas captaram como preocupações prioritárias da população e o que esta gostaria de ouvir.

Respostas a indagações sobre temas pontuais mostram melhor o íntimo e os verdadeiros propósitos dos presidenciáveis e ajudam o eleitor a definir sua preferência de voto.

Léo de Almeida Neves

é suplente de Senador pelo Paraná, ex-deputado federal e ex-diretor da Creai do Banco do Brasil.

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